As cotações da soja, em Chicago, reagiram nesta semana. O bushel da oleaginosa, para o primeiro mês cotado, fechou a quinta-feira (19) em US$ 13,15, contra US$ 12,90 uma semana antes. Trata-se do melhor valor em um mês.
Apesar do avanço na colheita dos EUA, a preocupação maior do mercado passou a ser as dificuldades climáticas no Brasil no momento do plantio da oleaginosa. Além disso, houve influência do lado financeiro igualmente, com novas possibilidades de aumento dos juros básicos nos EUA.
Quanto à colheita estadunidense, até o dia 15/10, os produtores locais haviam cortado 62% da área total de soja, contra a média histórica de 52%. O restante das lavouras a colher se aresentavam com 52% em condições entre boas a excelentes, 30% regulares e 18% ruins a muito ruins.
Pelo lado dos embarques de soja, os EUA continuam registrando volume melhor do que no ano passado na mesma época. Na semana encerrada em 12/10 os mesmos atingiram 2,01 milhões de toneladas. Este volume superou as expectativas do mercado, para a semana, acumulando no atual ano comercial um total de 5,4 milhões de toneladas, ou seja, 15% acima do registrado no mesmo período do ano anterior.
Por outro lado, a NOPA (Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA) informou que foram processadas 4,5 milhões de toneladas de soja em setembro, naquele país, volume recorde para o mês. O total ficou ainda acima das expectativas do mercado, de 4,4 milhões, além de superar o esmagamento do mês anterior. A instituição informou ainda que os estoques de óleo de soja estadunidenses, no último mês, totalizaram 1,108 bilhão de libras, sendo estes os menores estoques desde dezembro de 2014. Além disso, o número ficou ainda abaixo das expectativas do mercado, de 1,208 bilhão de libras. Este fato ajuda a reaquecer as cotações do óleo em Chicago.
Neste sentido, o USDA informou que “a demanda por combustíveis renováveis tem sido crescente no país, o que puxa fortemente também o consumo de óleo de soja para a produção de biodiesel.”.
Em contra-partida, pelo lado da demanda, a China deixa a entender que, diferentemente dos últimos anos, o ritmo de consumo de soja será mais lento daqui em diante. Parte disso estaria relacionado ao comportamento da suinocultura no país asiático, diante de margens de ganhos ajustadas. Além disso, há margens ruins junto aos esmagadores de soja chineses. No que diz respeito a suinocultura, a produção chinesa de carne suína soma 43,01 milhões de toneladas no atual ano comercial. Isso representa 3,6% mais do que no mesmo período de 2022, com tendência de continuar crescendo. O problema é que, enquanto a produção de carne suína aumenta, o consumo não acompanha. Por enquanto, os derivados da soja na China apresentam estoques apertados, o que equilibra um pouco o mercado. Mas isso pode não durar muito tempo diante do contexto de consumo da carne suína no país. (cf. Agrinvest)
Quanto ao lado da produção mundial de soja, o mercado começa a se preocupar com maior intensidade em relação ao clima no Brasil, onde o excesso de chuvas no Sul e a falta de umidade no Centro-Norte estão atrapalhando o plantio da nova safra. E isso vem gerando novas projeções para a futura safra nacional da oleaginosa.
Enquanto a Abiove continua projetando uma colheita futura de 164,7 milhões de toneladas, outros consultores privados começam a cogitar de que a futura safra brasileira não alcance as 160 milhões de toneladas. Os mesmos afirmam que mais de cinco milhões de toneladas de perda, no potencial produtivo da oleaginosa, já ocorreu diante destas condições climáticas. “E a cada dia em que as coisas continuem neste ritmo que está indo, com excesso de chuvas no Sul e faltando no restante do Brasil, perdemos de 200 mil a 300 mil toneladas. Então, continua a diminuição de potencial produtivo”. (Cf.Brandalizze Consulting)
Dito isso, não podemos esquecer que a capacidade de reação da soja, diante das adversidades climáticas, é muito elevada. Afora isso, segundo Pátria Agronegócios, o plantio no Brasil, até o final da semana passada, havia atingido a 17,4% da área, contra a média histórica de 16,8%, mesmo com os problemas climáticos. O Paraná seguia liderando o plantio, atingindo, na oportunidade, 43,2% da área semeada, contra 33% do ano passado. Já no Mato Grosso havia atraso, com 27,1% semeado, contra 41,4% em 2022, nesta mesma época. Porém, segundo o Imea, a área semeada melhorou bastante neste Estado até o início desta semana, chegando a 35,1%, contra 28,1% na média histórica conforme o Instituto. Mas a preocupação com a falta de chuvas é cada dia maior. Com isso, o Mato Grosso deverá colher, nesta próxima safra, 43,8 milhões de toneladas, ou seja, entre 3% a 4% menos do que o colhido no ano anterior.
Em tal contexto, os preços da oleaginosa no Brasil continuam oscilando entre R$ 110,00 e R$ 135,00/saco, dependendo da região. No Rio Grande do Sul, a média desta semana ficou em R$ 134,26/saco, enquanto as principais praças locais voltaram a negociar o produto a R$ 133,00. Já nas demais regiões brasileiras os preços oscilaram entre R$ 116,00 e R$ 126,00/saco.
Dito isso, segundo ainda a Abiove, a partir de dados dos oito primeiros meses do corrente ano, o processamento de soja no país deverá alcançar um total de 53,5 milhões de toneladas, gerando 41 milhões em farelo e 10,8 milhões de toneladas em óleo. A Associação espera 100 milhões de toneladas de grãos exportadas, 22 milhões em farelo e 2,4 milhões de toneladas em óleo de soja.
Enfim, a Anec projeta, agora, 6,4 milhões de toneladas de soja a serem exportadas em outubro, ou seja, cerca de 200.000 toneladas a menos do que o previsto na semana anterior. Mesmo assim, os embarques da oleaginosa ainda cresceriam 2,8 milhões de toneladas na comparação anual.
Quer saber mais sobre a Ceema/Unijui. Clique na imagem e confira.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).