A cultura do milho pode ser atacada por diversas pragas, desde o início do ciclo até a sua maturação fisiológica. Nos últimos anos, a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) tem se tornado a praga mais temida pelos produtores, principalmente nas áreas semeadas com milho de segunda safra, por ser uma praga de importância econômica e com alto potencial de dano.
A cigarrinha-do-milho é um inseto sugador, com coloração branco-palha a levemente acinzentada, apresentando duas manchas pretas no dorso da cabeça que facilitam sua identificação. Possui de 0,4 a 0,5 cm de comprimento por 0,1 cm de largura. Essa praga possui alta capacidade de migração a longas distâncias, favorecendo a colonização de áreas com plantas recém emergidas até lavouras em florescimento (MANEIRA, 2021).
Figura 1. Cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis.
Fonte: https://www.focorural.com/cigarrinha-do-milho
Esse inseto preocupa os produtores de milho devido à sua capacidade de transmissão de microrganismos fitopatogênicos, causadores de doenças do chamado complexo de enfezamentos. Ao se alimentar da seiva de uma planta contaminada, a cigarrinha torna-se capaz de transmitir os fitopatógenos da classe dos molicutes para plantas de milho sadias, espalhando o enfezamento na lavoura (MANEIRA, 2021).
Os molicutes são microrganismos patogênicos que atacam a cultura do milho e, através da cigarrinha, são disseminados de planta em planta. Estes patógenos se instalam nos feixes vasculares das plantas causando danos em todo o processo de translocação de fotoassimilados, acarretando em redução do metabolismo e da assimilação dos nutrientes. Como consequência, as espigas apresentam tamanho reduzido e produzem menos grãos. A infecção com os molicutes ocorre nos estágios iniciais do desenvolvimento da cultura, mas os sintomas de enfezamento são observados no período de enchimento de grãos.
Figura 2. Período de maior dano à cultura do milho por D. maidis.
Fonte: Maneira, 2021.
O patógeno Spiroplasma kunkelii (CSS – corn stunt spiroplasma) se desenvolve no floema da planta e é responsável por causar o enfezamento pálido, o qual se caracteriza pelo aparecimento de estrias cloróticas que surgem da base para o ápice das folhas. A região basal das folhas jovens apresenta coloração amarelada a verde claro, enquanto as folhas mais velhas podem ter coloração amarelada ou avermelhada. As plantas infectadas podem apresentar também encurtamento de entrenós e formação defeituosa de espigas e pendões.
Figura 3. Sintomas de enfezamento pálido em planta de milho.
Fonte: https://agro.genica.com.br
Já o enfezamento vermelho é causado pelo patógeno MBSP (maize bushy stunt phytoplasma). Este fitoplasma também se desenvolve no floema da planta, apresentando como sintoma característico o avermelhamento das folhas, iniciando pelas mais velhas e posteriormente afetando toda a planta, seguido por sintomas de necrose e secamento. Ademais, também pode ser observada redução do porte das plantas e da área foliar, com encurtamento dos entrenós, redução da altura de inserção da espiga e má formação de espigas e grãos, além de abortamento de estruturas reprodutivas, multi-espigamento, emissão de perfilhos e brotação nas axilas das folhas.
Figura 4. Sintomas de enfezamento vermelho em planta de milho.
Foto: Henrique Pozebon
Vale ressaltar que as perdas de rendimento ocasionadas pelo complexo de enfezamentos podem chegar a até 90%. Portanto, é fundamental realizar o monitoramento desde a germinação até o pendoamento da cultura e, quando necessário, realizar o controle químico para reduzir a população de cigarrinha-do-milho e evitar prejuízos significativos na cultura. Por tratar-se de um inseto vetor de patógenos, a rapidez na tomada de decisão é essencial, de modo que a praga seja controlada antes de contaminar as plantas sadias.
Além disso, pode-se optar pela semeadura de híbridos com maior tolerância aos danos causados pela cigarrinha e pelo complexo de enfezamentos, auxiliando no controle da praga. Para saber mais sobre a suscetibilidade de híbridos de milho ao complexo de enfezamentos, clique aqui.
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
DE OLIVEIRA, C. M.; SABATO, E. de O. Doenças em milho: insetos-vetores, molicutes e vírus. Embrapa Milho e Sorgo-Livro científico (ALICE), 2017.
MANEIRA, Roberto. Ferramentas para o Controle da Cigarrinha-do-milho, 2021.
MENDES, Simone M. et al. Manejo de pragas no milho de segunda safra: com ou sem a utilização de milho Bt. Embrapa Milho e Sorgo-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2019.
OLIVEIRA, E. de et al. Enfezamentos em milho: expressão de sintomas foliares, detecção dos molicutes e interações com genótipos. Embrapa Milho e Sorgo-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2002.
SANTO, Jessica Marcy Silva Melo et al. Monitoramento da ocorrência de enfezamentos e da cigarrinha dalbulus maidis na cultura de milho nos estados de Sergipe, Bahia e Alagoas na safra 2014. In: Embrapa Tabuleiros Costeiros-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E PÓS-GRADUAÇÃO DA EMBRAPA TABULEIROS COSTEIROS, 5., 2015, Aracaju. Anais… Brasília, DF: Embrapa, 2015. p. 280, ref. 199-206. 1 CD-ROM. Editor Técnico: Marcelo Ferreira Fernandes., 2015.
WAQUIL, J. M. Cigarrinha-do-milho: vetor de molicutes e vírus. Embrapa Milho e Sorgo-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2004.