Esta semana foi de degringolada geral dos preços da soja e derivados em Chicago, assim como no Brasil. A tensão financeira com a crise bancária, especialmente nos EUA; a nova alta nos juros básicos dos EUA, deixando os títulos públicos estadunidenses ainda mais atrativos; e o recuo nos preços do petróleo para níveis ao redor de US$ 76,00 o barril, fato que puxa para baixo os grãos, especialmente o óleo de soja; e algumas revisões de safra no Brasil, indicando que, apesar da enorme quebra no Rio Grande do Sul, o país conseguiria atingir entre 153 e 155 milhões de toneladas, graças ao recorde de produção em outros Estados da Federação, derrubaram fortemente o bushel da oleaginosa. O fechamento desta quinta-feira (23) ficou em US$ 14,19 (a mais baixa cotação desde o dia 17 de novembro passado), contra US$ 14,91 uma semana antes. Salientando que para novembro, momento da futura colheita dos EUA, o bushel já está em US$ 12,58.

Neste contexto, enquanto o mercado espera o relatório de intenção de plantio dos produtores estadunidenses, previsto para o dia 31/03, as exportações dos EUA melhoram um pouco, puxadas pela demanda chinesa. O volume embarcado na semana encerrada em 16/09 ficou em 716.618 toneladas, chegando próximo do teto da meta esperada para aquela semana, e elevando para 44,1 milhões de toneladas o total embarcado no atual ano comercial. No ano passado, na mesma época o volume total era pouco superior a 42 milhões de toneladas.

Por outro lado, especialmente devido a forte quebra na safra da Argentina, um novo levantamento sobre a safra de soja 2022/23 da América do Sul, traz um volume total de 193,5 milhões de toneladas, contra 218,2 milhões projetados em novembro, porém, ainda 5% acima do produzido na frustrada safra do ano anterior, que foi de 184,7 milhões de toneladas. A área total semeada na região foi de 66,85 milhões de hectares, porém, a seca só permitirá a colheita de 64,33 milhões, ficando abaixo da área colhida do ano anterior, que foi de 64,5 milhões de hectares. Neste levantamento, a produção brasileira está estimada em 150,8 milhões de toneladas, devido a quebra no Rio Grande do Sul, com aumento de 16% sobre a safra anterior, que foi de 129,7 milhões de toneladas. Lembrando que a ABIOVE ainda estima safra um pouco acima de 153 milhões de toneladas, e que o Rally da Safra, coordenado pela Agroconsult, aponta 155 milhões de toneladas. O levantamento indicou uma área total semeada no Brasil de 43,99 milhões de hectares, contra 42,11 milhões no ano anterior.

Na Argentina, para uma área a ser colhida de 14 milhões de hectares (o plantio teria sido de 16,5 milhões), o potencial de produção está em apenas 27 milhões de toneladas. Ou seja, um recuo de 37% sobre as 43 milhões colhidas no ano anterior. Já no Paraguai, a área ficou em 3,8 milhões de hectares e a produção deverá alcançar 9,7 milhões de toneladas no somatório das safras de verão e inverno (lá tem-se duas safras no ano), contra apenas 4,54 milhões na frustrada safra anterior.

Na Bolívia, a área teria atingido um novo recorde, de 1,49 milhão de hectares, com uma produção final estimada em 3,5 milhões de toneladas, ou seja, 18% abaixo do colhido em 2021/22, que foi de 4,25 milhões de toneladas. E no Uruguai, com uma área semeada de 1,22 milhão de hectares (+5% sobre o ano anterior), o clima seco trouxe a parte colhida para 1,05 milhão, com recuo de 13,9% sobre o esperado. Com isso, o potencial de colheita caiu 22% sobre o registrado em 2021/22 e 27% sobre o esperado inicialmente para este ano, devendo o volume total ficar em 2,5 milhões de toneladas. (cf. Datagro)

Por outro lado, com base no Rally da Safra, a Agroconsult considera possível o Brasil alcançar o recorde de 155 milhões de toneladas de soja neste ano, apesar da forte quebra gaúcha. Isso seria possível graças a perspectiva de recordes de produtividade em oito Estados: Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Maranhão, Piauí, São Paulo e Rondônia. Neste cenário, a produtividade média brasileira atingiria 59,1 sacos/hectare. O resultado final virá quando tivermos realmente o volume colhido no Rio Grande do Sul, cujas quebras continuaram aumentando após o último relatório da Emater, já que não vieram chuvas consistentes e generalizadas até o momento, neste mês de março. Com cerca de 5% da área colhida no Estado, a produtividade média estacionava ao redor de 33 sacos/hectare. Ou seja, uma quebra ao redor de 50% em relação ao esperado. Se isso se confirmar até o final, as perdas totais gaúchas girariam ao redor de 10 milhões de toneladas de soja em relação ao esperado.

Especificamente sobre Santa Catarina, a área de cultivo foi elevada para 730.600 hectares e a produção daquele Estado atingiria 2,74 milhões de toneladas, quando o prognóstico inicial, na safra 2022/23, era de 2,61 milhões de toneladas. Somando à segunda safra – recém cultivada em 60.000 hectares – a produção em 2023 deve chegar próxima a três milhões de toneladas. (cf. Epagri)

Diante deste quadro, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) ainda espera que o esmagamento de soja no Brasil atinja um novo recorde neste ano, ao bater em 52,5 milhões de toneladas. A produção de farelo de soja ficaria em 40,2 milhões de toneladas e a de óleo de soja em 10,7 milhões. Vale mencionar que o consumo interno de óleo de soja foi atualizado para 8,95 milhões de toneladas, considerando que o governo federal autorizou a mistura de 12% de biodiesel, no diesel normal, a partir de abril.

á em termos de exportação, a entidade projeta os seguintes volumes: soja em grão com 92,3 milhões de toneladas, farelo de soja com 20,7 milhões, e óleo de soja com 2,15 milhões. A receita esperada com as exportações dos produtos do complexo soja pode superar os US$ 66 bilhões neste ano, o que seria mais um recorde histórico. Para a Abiove, em 2022, a colheita total de soja no Brasil teria ficado em 129,9 milhões de toneladas, e o esmagamento em 50,9 milhões.

Já nossas exportações, segundo a Secex, em 2022 ficaram em 78,7 milhões de toneladas para o grão, 20,4 milhões em farelo e 2,6 milhões em óleo. O valor total gerado pelas exportações do complexo soja, no ano passado, foi de US$ 61 bilhões. As vendas internas de farelo foram de 18,9 milhões de toneladas e as de óleo de 7,2 milhões, volume que inclui as vendas para mistura de biodiesel, na época mantida em 10% durante todo o ano.

Enfim, mesmo com o aumento da mistura de biodiesel para 12%, a partir de abril, os estoques finais de óleo de soja deverão crescer em 2023, caso a safra final supere as 150 milhões de toneladas. Tais estoques ficariam em 665.000 toneladas, contra 507.000 em 2022. O consumo de óleo de soja, para o biocombustível no Brasil, vai aumentar 23,5% em 2023, atingindo a 5,8 milhões de toneladas, enquanto o consumo brasileiro geral, de óleo de soja, deverá subir 12,4%, para 8,5 milhões de toneladas. No ano passado, o óleo de soja respondeu por cerca de 65% da produção de biodiesel, com outros óleos vegetais e gorduras animais respondendo pela oferta restante da matéria-prima. (cf. Stone X)

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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).



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