A disponibilidade hídrica é um dos principais se não o principal fator limitante da produtividade de uma cultura agrícola. Segundo Seixas et al. (2020), em média a soja necessita de um volume de água de 450 a 800 mm durante seu ciclo de desenvolvimento, volume esse que varia em função da cultivar e ambiente de cultivo. O requerimento hídrica da cultura varia ainda de acordo com o estádio de desenvolvimento da soja, sendo possível observar maiores valores de evapotranspiração durante os períodos da floração e enchimento de grãos, onde a soja pode evapotranspirar de 7 a 8 mm dia-1 (Pas Campo, 2005).
Assim como para as demais culturas agrícolas, a deficiência hídrica pode limitar ou até mesmo comprometer a produtividade da soja. Sendo assim, buscar alternativas que possibilitem mitigar os efeitos do déficit hídrico é indispensável para a obtenção de boas produtividades, especialmente em lavouras de sequeiro (sem irrigação). Uma das principais e mais importantes ferramentas para isso é a cobertura do solo. Como visto anteriormente, a soja pode evapotranspirar consideráveis volumes especialmente durante seu período reprodutivo do desenvolvimento. A evapotranspiração consiste na soma do volume de água transpirado pela planta e evaporado pelo solo.
Tendo em vista que o solo é a principal meio responsável por armazenar a água da chuva e disponibiliza-la posteriormente para as plantas, além de melhorar as condições para a maior infiltração de água no solo, é essencial investir em alternativas e ferramentas que possibilitem a redução da perda de água do solo por evaporação, sendo uma delas, a palhada em cobertura do solo. Conforme observado por Vieira et al. (2020) o uso de cobertura morta na superfície do solo (palhada residual), contribui significativamente para a redução da temperatura máxima (figura 1) e amplitude térmica do solo, afetando também a umidade do solo.
Figura 1. Temperatura máxima diária do solo nos diferentes tratamentos e nas profundidades de 5-10 cm (A) e 20-25 cm (B).

Com base nos resultados obtidos, os autores observaram maiores volumes de umidade do solo quando utilizado maiores quantidades de palhada em cobertura na superfície do solo, possivelmente em razão da redução da temperatura máxima do solo, amplitude térmica e evaporação de água no solo. A nível de campo, a influência da cobertura do solo pode ser visualizada comparando a temperatura do solo coberto e descoberto, onde reduções consideráveis de temperatura podem ser observadas em função da cobertura do solo (Figura 2).
O fato evidencia a capacidade da palhada em reduzir a temperatura do solo, especialmente nas camadas mais superficiais, contribuindo significativamente para a manutenção da umidade do solo, além de possibilitar melhores condições térmicas para o crescimento e desenvolvimento vegetal, assim, mitigando o efeito dos déficits hídricos. Em casos mais severos, além da maior evaporação da água no solo, elevadas temperaturas podem causar cancro de calor ou tombamento fisiológico nos estádios iniciais da soja, refletindo na redução do estande de plantas.
Veja mais: Temperatura e o tombamento fisiológico
Figura 2. Efeito da palhada em superfície na temperatura do solo.

Referências:
IDR – PARANÁ. MANEJO E CONSERVAÇÃO DE SOLOS E ÁGUA: IDR-PARANÁ ORIENTA COMO UTILIZAR TÉCNICA PARA PROTEGER O SOLO DURANTE ESTIAGEM. Instituto do Desenvolvimento Rural do Paraná, 2020. Disponível em: < https://www.idrparana.pr.gov.br/Noticia/IDR-Parana-orienta-como-utilizar-tecnica-para-proteger-o-solo-durante-estiagem >, acesso em: 28/01/2022.
PAS CAMPO. MANUAL DE SEGURANÇA E QUALIDADE PARA A CULTURA DA SOJA. Embrapa Transferência de Tecnologia, 2005. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/116424/1/MANUALSEGURANCAQUALIDADEParaaculturadesoja.pdf >, acesso em: 28/01/2022.
SEIXAS, C. D. S. et al. TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA. Embrapa, Sistemas de Produção, n. 17, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123928/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 28/01/2020.
VIEIRA, F. F. et al. TEMPERATURA E UMIDADE DO SOLO EM FUNÇÃO DO USO DE COBERTURA MORTA NO CULTIVO DE MILHO. Científica, Jaboticabal, v.48, n.3, p.188-199, 2020. Disponível em: < http://cientifica.org.br/index.php/cientifica/article/view/1264/797 >, acesso em: 28/01/2022.
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