Após o encerrar de uma safra, recorrentemente vem à mente do produtor essa pergunta: “qual cultivar vou semear no próximo ano?”. Isso porque, intrinsicamente o produtor sabe que a escolha da cultivar é ponto chave para o sucesso e rentabilidade da lavoura. A obtenção de altas produtividades é determinada pela genética, ambiente, manejo e a interação desses fatores entre si. As variações nessa interação podem determinar a favorabilidade ou não da cultivar no ambiente em que ela está.
Há uma enorme gama de cultivares disponíveis no mercado, e a cada ano novas são realizados novos lançamentos. Realizando uma regressão estimada entre o ano de lançamento das cultivares e a produtividade das lavouras, com 853 lavouras, 5 safras e 86 cultivares registradas no mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil), entre 2008 a 2019 mostrou um incremento na produtividade de 41,4 kg ha-1 ano-1 atribuído ao melhoramento genético para o RS.
Ao pesquisar literaturas para o Brasil (1965 a 2011), Argentina (1980 a 2015) e Estados Unidos, encontramos valores semelhantes de 40 kg ha-1 ano-1 (Todeschini et al., 2019), 43 kg ha-1 ano-1 (Felipe; Gerde; Rotundo, 2014) e 29 kg ha-1 ano-1 (Specht et al., 2014), respectivamente.
Somente no período de 2019 a 2022, o Brasil duplicou o número de cultivares registradas, trazendo ao mercado novas biotecnologias, como, INTACTA2 XTEND®, HB4®, Libert Link®, Enlist® e Conkesta®. Com tanta opção de cultivares, pode ficar difícil saber qual é a melhor cultivar para a sua lavoura. Ribeiro et al., e Winck et al., (2021) apontam que pode haver diferenças de mais de 100% na produtividade entre a melhor e a pior cultivar para um determinado ambiente.
Figura 1. Ganho genético estimado pelas produtividades de 853 lavouras e o ano de lançamento das cultivares de soja.

Escolher a melhor cultivar de soja para sua lavoura envolve considerar uma série de fatores que podem influenciar diretamente na produtividade e na rentabilidade do cultivo. A escolha da cultivar é baseada em clima e região, duração de ciclo, resistência a pragas e doenças, rendimento esperado, custo e experiência do produtor.
Os programas de melhoramento estão buscando cada vez mais a seleção de genótipos superiores, podendo ser selecionada para alta produtividade, qualidade de grãos (óleo e proteína), tolerância a estresses abióticos (seca, excesso hídrico, alta temperatura, resistência a herbicidas) e bióticos (tolerância a insetos e doenças).
A interação genótipo x ambiente x manejo é complexa, no entanto, necessário o entendimento para a melhor tomada de decisão no momento da escolha da cultivar. Cada cultivar de soja possui diferentes níveis de adaptação a condições específicas de solo e clima, respondendo às estratégias de manejo, como fertilização e controle de pragas.
Além disso, há cultivares mais estáveis e cultivares mais produtivas, cultivares mais tolerantes ou menos a resistência a pragas e doenças, e entender todos esses fatores conjuntamente é um desafio para quem busca uma cultivar produtiva e lucrativa. A contribuição anual para o aumento da produtividade nos últimos 15 anos é de 42% atribuída à genética melhoramento genético, 46% para manejo e 13% para meio ambiente.
Figura 2. Contribuição dos fatores genética, manejo e ambiente para o incremento de produtividade de soja no Rio Grande do Sul.

A Equipe FieldCrops coordena o Projeto “A melhor cultivar de soja para sua lavoura” e anualmente os resultados são publicados em E-books disponíveis no site (www.fieldcrops.com) de acesso gratuito para servir de auxílio para a escolha das cultivares de soja que se adaptam em cada região.
Além disso, podemos contar com ferramentas digitais como os aplicativos Plantio Certo e Best Cultivar que auxiliam o produtor na seleção das cultivares a serem semeadas em função da época de semeadura e características desejadas numa cultivar. Outrossim, é de extrema importância que os produtores realizem testes anualmente nas suas lavouras com as principais cultivares semeadas na região e lançamentos, para assim fazer a escolha mais assertiva da cultivar para a sua lavoura.
Referências Bibliográficas
ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES / EDUARDO LAGO TAGLIAPIETRA… [ET AL.]. 2. ED. SANTA MARIA: [S. N.], 2022.
WINCK, J. E. M., et al. 2023. Decomposition of yield gap of soybean in environment× genetics× management in Southern Brazil. European Journal of Agronomy, 145, 126795.