Nativa do leste asiático, a mosca-da-haste (Melanagromyza sojae) encontra-se estabelecida no Brasil, Paraguai, Bolívia e, mais recentemente, na Argentina (POZEBON et al., 2021). As larvas dessa espécie abrem galerias no interior das hastes das plantas de soja, reduzindo a capacidade de translocação de água e nutrientes do xilema e, consequentemente, afetando a produtividade de grãos (TALEKAR; CHEN, 1985).
No sul do Brasil, os maiores níveis de infestação por M. sojae ocorrem na segunda safra de verão ou soja “safrinha”, correspondendo às semeaduras realizadas após 31 de dezembro. Como as plantas injuriadas praticamente não apresentam sintomas externos (GANGRADE; KOGAN, 1980), a mosca-da-haste pode ser considerada uma “praga silenciosa” da soja, cuja ocorrência muitas vezes não é percebida pelos produtores.
Figura 1 – Ciclo de vida de M. sojae em plantas de soja.
Fonte: Henrique Pozebon e Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM.
O monitoramento de mosca-da-haste envolve a abertura longitudinal da haste principal das plantas de soja, para verificar a presença de larvas, pupas ou galerias de alimentação. Recomenda-se um número mínimo de 20 plantas amostradas por hectare, de forma aleatória; quanto maior a amostragem, maior será a precisão do monitoramento. Com o auxílio de um canivete, efetua-se a remoção do sistema radicular e, em seguida, a abertura da haste principal desde a base até o ápice da planta, incluindo, se possível, as ramificações laterais (Figura 2).
Figura 2 – Galeria de alimentação, de coloração avermelhada típica, e pupa de M. sojae no interior da haste principal de uma planta de soja.
Foto: Henrique Pozebon e Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM.
Ocasionalmente, pode ocorrer encurtamento de entrenós, ramificação excessiva e engrossamento na base do caule das plantas de soja infestadas por M. sojae, facilitando na sua detecção. Sob altas infestações, ocorre ainda murcha de folhas e aceleramento da maturação, podendo ser confundido com sintomas de doenças e nematoides (Figura 3).
Figura 3 – Sintomas de ataque de M. sojae em Santa Maria-RS (safra 2020/21).
Foto: Henrique Pozebon e Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM.
O monitoramento deve ser especialmente rigoroso nos estágios iniciais da cultura, quando a sua sensibilidade ao ataque de mosca-da-haste é maior. Por fim, ressalta-se que plantas de soja voluntária (soja guaxa ou tigüera) servem como hospedeiros para o inseto durante o inverno e devem ser eliminadas, evitando-se assim a formação de “pontes verdes” para a praga durante a entressafra (CZEPAK et al., 2018). Portanto, é imprescindível que se realize o monitoramento durante todo o ano para que a safra de soja não se inicie com elevada pressão da praga.
Embora não haja atualmente nenhum inseticida registrado para o controle de mosca-da-haste da soja no Brasil (AGROFIT, 2021), alguns ingredientes ativos apresentam eficiência de controle satisfatória para a praga, como clorantraniliprole via tratamento de sementes e clorpirifós via pulverização foliar em dez dias após a emergência das plântulas (CURIOLETTI et al., 2018). Para saber mais sobre a relação entre o ciclo de vida da mosca-da-haste e as possibilidades de controle químico, acesse aqui.
Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
AGROFIT. Agrofit: Sistema de agrotóxicos fitossanitários. 2021. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 11 fev. 2021.
CURIOLETTI, L. E. et al. First insights of soybean stem fly (SSF) Melanagromyza sojae control in South America. Australian Journal of Crop Science, v. 12, p. 841-848, 2018.
CZEPAK, C. et al. First record of the soybean stem fly Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae) in the Brazilian Savannah. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 48, p. 200-203, 2018.
GANGADRE, G. A.; KOGAN, M. Sampling stem flies in soybean. In: KOGAN, M.; HERZOG, D. C. (ed.) Sampling methods in soybean entomology. Heidelberg: Springer Science & Business Media, p. 394-403, 1980.
POZEBON, H. et al. Arthropod invasions versus soybean production in Brazil: a review. Journal of Economic Entomology, v. 113, n. 4, p. 1591–1608, 2020.
POZEBON, H. et al. Highly diverse and rapidly spreading: Melanagromyza sojae threatens the soybean belt of South America. Biological Invasions, v. 23, p.1405–1423, 2021.
TALEKAR, N. S.; CHEN, B. S. Soybean in tropical and subtropical cropping systems. Tainan: Asian Vegetable Research and Development Center, p. 257-271, 1985
TALEKAR, N. S.; CHEN, B. S. Soybean in tropical and subtropical cropping systems. Taiwan: Asian Vegetable Research and Development Center, p. 257-271, 1985.