As plantas de cobertura desempenham um papel importante na proteção do solo, agindo como uma cobertura e protegendo o solo contra a erosão e a perda de nutrientes por lixiviação. Além disso, elas possuem diversas funções, como a produção de grãos, sementes, feno e silagem, bem como o fornecimento de palhada. Algumas espécies também são capazes de ciclar nutrientes, o que contribui para a fertilidade do solo (Lima Junior et al., 2022).
Diversas espécies de plantas de cobertura podem ser introduzidas como cobertura do solo e compor o sistema de rotação de culturas. Na região sul do Brasil, durante o período de entressafra no outono/inverno, uma das espécies mais utilizadas é o nabo-forrageiro (Raphanus sativus).
Nabo-forrageiro
O nabo-forrageiro, de acordo com Carvalho et al. (2022), é amplamente utilizado como adubo verde e em sistemas de rotação ou sucessão de culturas, principalmente com soja, milho e algodão. Esta espécie possui um sistema radicular agressivo do tipo pivotante, capaz de explorar solos compactados e adensados em grande profundidade.
Figura 1. Sistema radicular do nabo-forrageiro (Raphanus sativus).

Os autores destacam ainda que, em condições adequadas de cultivo, o nabo-forrageiro pode proporcionar cobertura de até 70% do solo em apenas 60 dias. Além disso, suas características alelopáticas inibem o desenvolvimento de algumas espécies de plantas daninhas.
Relação entre o nabo-forrageiro e o mofo-branco
Apesar dos benefícios do nabo-forrageiro como cobertura do solo, em áreas de plantio de soja com histórico de incidência do fungo causador do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), é importante considerar que pode ocorrer a disseminação do fungo devido à colonização e multiplicação dos escleródios no nabo-forrageiro. O mofo-branco tem sido observado em plantas de nabo dessecadas e/ou roladas, inclusive em regiões antes não consideradas ideais para a ocorrência da epidemia (Alencar, 2021).
O mofo-branco, conforme destacam Meyer et al. (2022), é considerada uma das doenças mais importantes na cultura da soja no Brasil, em casos severos de infestação, pode provocar perdas de produtividade de até 70%, principalmente sob condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença e na ausência de medidas de controle adotadas no momento adequado.
Dessa forma, além de afetar a cultura da soja, o mofo-branco pode também ocorrer em plantas de cobertura, como o nabo-forrageiro, aumentando o inóculo na área de cultivo. Para evitar possíveis infestações, é recomendado não utilizar o nabo-forrageiro em áreas com histórico da presença desse fungo.
As plantas de cobertura são essenciais para proteger o solo, aumentar sua fertilidade e melhorar a estrutura do solo. No entanto, é preciso atenção ao selecionar as plantas de cobertura, optando por espécies que não sejam hospedeiras de pragas e doenças, como é o caso do mofo-branco no nabo-forrageiro em áreas de cultivo de soja.
Disseminação de S. sclerotiorum
De acordo com Madalosso (2018), uma das questões relacionadas à disseminação do mofo-branco está ligada à qualidade das sementes de nabo-forrageiro, que podem conter escleródios, os quais são os principais responsáveis pela transmissão da doença. Quando semeamos nabo-forrageiro contaminado com esses escleródios, introduzimos o patógeno S. sclerotiorum no solo. Em condições ideais de umidade e temperaturas em torno de 15°C, ocorre a germinação dos escleródios, dando origem a apotécios. Cada apotécio pode produzir até 2 milhões de esporos, contribuindo assim para a disseminação do fungo.
Figura 2. Escleródios de Sclerotinia sclerotiorum com a formação de apotécios.

É importante que, ao identificar plantas de nabo-forrageiro atacadas pelo mofo-branco, sejam removidas da lavoura. Ao utilizar o nabo como planta de cobertura, é essencial garantir a qualidade das sementes utilizadas.
Além disso, é necessário monitorar regularmente a presença do mofo-branco nas plantas, a fim de evitar sua disseminação na área de cultivo. Calegari (2016) destaca que o cultivo do nabo-forrageiro em consórcio com outras espécies, como centeio, aveia e milheto, pode reduzir a probabilidade de aumento do mofo-branco em áreas de cultivo com histórico da doença.
Veja mais: Plantas de cobertura e os benefícios além da cobertura do solo
Referências:
ALENCAR, J. NABO COMO MULTIPLICADOR DE ESCLERÓDIOS. Fito Agrícola, 2021. Disponível em: < https://fitoagricola.com.br/nabo-como-multiplicador-de-esclerodios/#:~:text=O%20mofo%2Dbranco%20tem%20sido,de%20600%20m%20de%20altitude >, acesso em: 25/04/2024.
CALEGARI, A. MANUAL TÉCNICO DE PLANTAS DE COBERTURA. Projeto SoloVivo, IAPAR, 2016. Disponível em: < https://www.ecoagri.com.br/web/wp-content/uploads/Plantas-de-Cobertura-%E2%80%93-Manual-T%C3%A9cnico.pdf >, acesso em: 25/04/2024.
CARVALHO, M. L. et al. GUIA PRÁTICO DE PLANTAS DE COBERTURA: ASPECTOS FITOTÉCNICOS E IMPACTOS SOBRE A SAÚDE DO SOLO. Esalq- USP, Piracicaba – 2022. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/biblioteca/pdf/Livro_Plantas_de_Cobertura_completo.pdf >, acesso em: 25/04/2024.
LIMA JUNIOR, K. M. et al. PLANTAS DE COBERTURA COMO ALIADAS. Revista Cultivar, Grandes Culturas, 2022. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/plantas-de-cobertura-como-aliadas >, acesso em: 25/04/2024.
MADALOSSO, M. G. ATENÇÃO NO USO DE NABO FORRAGEIRO (MOFO BRANCO). Madalosso Pesquisas, 2018. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=gsDWM0B22Zc >, acesso em: 25/04/2024.
MEYER, M. C. et al. CONTROLE BIOLÓGICO DE MOFO-BRANCO NA CULTURA DA SOJA. Embrapa, Bioinsumos na Cultura da Soja, cap. 18. Brasília- DF, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/234840/1/Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 25/04/2024.
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