O solo compactado é uma das problemáticas atuais em discussão na agricultura e, dependendo do estado de compactação que o solo atinge, pode comprometer o desenvolvimento adequado das plantas e diminuir consideravelmente a produtividade das culturas.

No entanto, através do conhecimento dos fatores que ocasionam essa condição e pela adoção de práticas de manejo adequadas, é possível reverter esse problema, realizando a descompactação ou melhor ainda, evitar que ela alcance níveis prejudiciais.

Mas, como se define a compactação? A compactação é definida como o aumento da densidade do solo em um mesmo volume com a redução da sua porosidade. Isso ocorre quando o solo é submetido a um grande esforço ou compressão, expulsando o ar dos poros e rearranjando as partículas. Na prática, isso acontece em função do uso incorreto do solo pelo homem, tanto com equipamentos agrícolas, tráfego de máquinas ou por negligência no manejo da criação de animais com utilização de sobrecarga animal, por exemplo.

Solos argilosos e com argila de alta atividade possuem maiores chances de compactação. Assim, quando um trator, por exemplo, trafega em um local com essas características, o      solo      expande-se mais e quando o solo seca, não retrai (“foi amassado”). Outro aspecto é a maior porosidade total e microporosidade, que se preenche mais fácil que macroporos.

A consistência de friabilidade é a ideal para realizar o manejo com equipamentos agrícolas em uma lavoura, pois nessa condição, as forças de coesão e adesão estão em equilíbrio, enquanto na consistência de plasticidade agrava-se o processo de compactação.

O excesso de lotação animal pode compactar mais que um trator ou máquina de grande porte, levando em conta a pressão exercida por unidade de área com o mesmo peso. Ou seja, se ambos tivessem o mesmo peso, o trator compactaria menos, porque seu peso está distribuído em uma área maior de contato rodado-solo, enquanto o animal tem menor área de contato pata-solo, exercendo maior pressão sobre um ponto. Por outro lado, a compactação pelo animal é mais superficial (mais fácil corrigir) e a do trator impacta camadas mais profundas (mais difícil corrigir).

Comparando rodados de pneu e de esteira, o primeiro compacta mais, pois a interface com o solo é menor, já o de esteira distribui a pressão em maior área e a compactação é mais superficial. A mesma reflexão vale para a largura de rodados, de modo que os mais largos são menos agressivos ao solo.

Como identificar a compactação?

Entre os vários métodos para identificar a compactação existem desde os laboratoriais, que requerem a coleta de amostras e análises com equipamentos específicos e os de campo, com o uso de equipamentos como penetrômetros ou através da análise da trincheira pela observação de sintomas em plantas e no solo.

O laboratorial é o método mais preciso, porém mais moroso, demandando maior trabalho para coleta de amostras em cilindros para as posteriores análises físicas de densidade, macroporosidade, microporosidade e porosidade total, em geral, sendo necessário consultar técnicos e/ou empresas.

Entre os equipamentos eletrônicos, o penetrômetro (Figura 1) é o mais utilizado, medindo a resistência do solo à penetração de uma haste metálica. Essa medida é indireta, pois não apresenta um valor de compactação, mas sim um valor de resistência à penetração, relacionado à pressão exercida ao perfurar o solo. Essa medida deve ser usada com cautela, pois depende de vários atributos do solo, como granulometria e umidade no momento da aferição.

Figura 1: Penetrômetro utilizado para medição da resistência do solo à penetração. Foto: Douglas Jandrey

O método da trincheira (Figura 2) é uma metodologia de campo que pode ser realizada inclusive pelos produtores, em que o diagnóstico é diretamente na lavoura ou em ponto da área que se desconfia existir compactação. O primeiro passo é abrir uma trincheira no solo e com objeto pontiagudo (canivete, faca, etc.) perfura-se a parede da trincheira até encontrar a camada com maior resistência à penetração. Após identificada, marca-se e mede-se a profundidade, para a partir daí planejar estratégias de correção do problema.

Uma prática importante que pode ser feito com trincheira é cavar uma em área de vegetação nativa ao lado da lavoura, e compará-las. Embora, não há como se exigir que os solos de ambas sejam iguais, devido ao manejo que se realiza em uma lavoura, o ideal seria buscar práticas agronômicas que deixassem o solo de uma lavoura o mais próximo possível da condição observada na vegetação nativa, onde há cobertura permanente do solo, grande massa de raízes, alta atividade biológica, alto nível de matéria orgânica, várias espécies de plantas, etc. Ou seja, devemos buscar “imitar a natureza”.

Figura 2 – Exemplo de trincheira aberta com objetivo de observar o crescimento de raízes e padrão de compactação do solo. Fonte: Pioneer.

Sintomas nas plantas, como percepção de sinais de emergência lenta, coloração deficiente, sistema radicular raso, menor e tortuoso são indícios que podem estar associados ao estado de compactação. Além disso, sinais em relação ao solo, como maior demanda de potência no trator, erosão, entre outras alterações, também são exemplos importantes a serem considerados (Macedo et. al., 2015).

Como corrigir problemas de compactação?

A primeira grande dúvida do agricultor é saber se existe um nível de compactação que seja crítico para o rendimento de grãos e      a segunda é o quanto o rendimento decresce se a compactação ultrapassar o nível crítico (Gubiani & Reinert, 2019).

Gubiani & Reinert (2019), à partir de estudos elaborados com 134 dados de rendimento relativo (incluem as culturas de arroz, trigo, soja, milho e feijão) e densidade relativa, obtidos de 17 pesquisas, encontraram duas tendências.  A faixa 1 de densidade relativa permite que o rendimento de grãos possa alcançar a 100%, enquanto que a faixa 2 força o rendimento a se distanciar progressivamente de 100% à medida que se eleva a densidade relativa.

Em relação ao quanto decresce o rendimento de grãos se o nível de compactação ultrapassar o nível crítico estabelecido, a relação matemática (Figura 3) obtida da regressão do rendimento relativo com a densidade relativa da faixa 2 indica que há queda de aproximadamente 21% no rendimento relativo, para cada 0,1 de aumento na densidade relativa (Gubiani & Reinert, 2019). No entanto, o nível de confiança dessa informação é de 9%. Ou seja, é grande o risco de se recomendar a descompactação e não ocorrer ganho no rendimento de grãos.

Figura 3: Relação entre rendimento relativo e densidade relativa da faixa 2. Fonte: Gubiani & Reinert.

Apesar das incertezas, é oportuno saber em qual das faixas enquadra-se o solo de uma lavoura, pois cada faixa significa uma tendência quanto ao efeito da compactação no rendimento de grãos. As densidades do solo das faixas 1 e 2 foram relacionadas com o correspondente teor de argila (Figura 4).

Figura 4: Relação entre densidade do solo e teor de argila para as faixas 1 e 2. Fonte: Gubiani & Reinert.

A linha de regressão na faixa 2 (houve boa associação entre densidade do solo e teor de argila) serve para separar as duas faixas. Conhecendo o teor de argila da lavoura e medindo a densidade do solo da mesma, o agricultor pode verificar se a densidade se posiciona na faixa 1 ou na faixa 2 e, a partir disso, terá uma ideia sobre qual tendência de rendimento tem maior probabilidade de ocorrer na lavoura. Desse modo     , na faixa 2, a chance de haver aumento no rendimento de grãos com descompactação aumenta progressivamente à medida que a densidade da lavoura se afasta para posições acima da reta de regressão (Gubiani & Reinert, 2019). Do contrário, na faixa 1, a probabilidade de incremento na produtividade com descompactação é mínima.

É importante ressaltar que essa referência é uma pista indicando níveis críticos de compactação, mas não pode garantir a frequência e a amplitude do prejuízo na produção de grãos causado pelo estado de compactação.

O nível crítico não representa uma característica de solo, pois são as plantas no contexto do cultivo (espécies, cultivares, nível tecnológico da lavoura, condições meteorológicas) que mostram o nível de compactação no qual acontecerá mudança de uma resposta biológica, seja de crescimento radicular, da parte aérea ou de produtividade de grãos.

Alterando o contexto, pode-se alterar o nível crítico de compactação sem que o estado de compactação do solo tenha modificado. Exemplo disso, é o fato de que a resistência mecânica do solo é menor com solo úmido e aumenta com o solo mais seco. Outra situação é vivenciada na prática com o rendimento grãos em área de lavoura com estado de compactação mais acentuado, sendo que durante anos com adequado regime de chuvas colhe-se muito bem, enquanto naqueles que ocorrem déficit hídrico o rendimento de grãos diminui drasticamente.

Para casos de tomada de decisão favorável à realização da descompactação mecânica, seja com aração, subsolagem ou escarificação, devemos considerar aspectos desfavoráveis e favoráveis. Nos desfavoráveis, temos a perda de carbono para a atmosfera, o custo da operação, risco de erosão e também o aumento da suscetibilidade à compactação, pois a capacidade do solo em suportar carga reduz muito após o decréscimo da densidade e, se não houver rápido fortalecimento da estrutura do solo descompactado com mecanismos biológicos (alto e contínuo aporte de biomassa), se houver tráfego de máquinas do mesmo modo e intensidade anterior, a recompactação do solo será inevitável e muito rápida, perdendo-se os benefícios promovidos pela descompactação.

Como positivos, temos o fato de ser uma oportunidade de promover melhorias, aprofundando a aplicação de corretivos e fertilizantes até a profundidade da operação de mobilização do solo, resolvendo problemas de baixo pH, excesso de alumínio e deficiências de nutrientes em subsuperfície. Além disso, a melhoria no perfil de solo também pode possibilitar o aumento da fixação de carbono em maior profundidade.

Nessa linha de raciocínio, precisamos nos atentar que, além de produzir alimentos, o solo desempenha outras funções, como degradar contaminantes, purificar a água, abrigar diversidade de organismos, sequestrar carbono, ciclar nutrientes, regular enchentes, entre outros. E, à medida que buscamos atender essas funções estamos caminhando rumo a uma agricultura mais conservacionista e sustentável.

Autor:  Alex Maquiel Klein – Acadêmico do 8º semestre do curso de Agronomia – Bolsista do grupo PET Agronomia – Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

Referências:

GUBIANI, Paulo Ivonir; REINERT, Dalvan José. Desafios para recomendar descompactação do solo. Portal Mais Soja. Disponível em:<https://maissoja.com.br/desafios-para-recomendar-descompactacao-do-solo2/>. Acesso em 05 set. 2020.

MACEDO, Deivielison Ximenes S, et. al. Fatores que compactam. Revista Cultivar Máquinas. Edição nº152. Ano XIII. Junho de 2015. Versão digital. p. 14 – 18. Disponível em:<https://www.grupocultivar.com.br/revistas/27>. Acesso em10 ago. de 2020.

PIONEER. Compactação de solos. Blog Agronegócio em foco. 2019. Disponível em:http://www.pioneersementes.com.br/blog/99/compactacao-de-solos-agricolas. Acesso em 13 ago. 2020.

Foto de Capa: Henrique Debiasi

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