A baixa qualidade do solo é um dos principais fatores limitantes da produtividade das culturas agrícolas. Além de adequados níveis nutricionais e da boa qualidade química, é essencial que o solo apresente boa qualidade física e estrutural para o bom crescimento e desenvolvimento do sistema radicular das plantas.

Solos compactados tendem a atuar de forma restritiva ao crescimento radicular, limitando o volume de solo explorado pela planta, e consequentemente, restringindo o acesso a água e nutrientes do perfil do solo. Esse efeito reduz a capacidade da planta a suportar períodos de estresse, principalmente se tratando do déficit hídrico.

De acordo com Machado (2023), os principais efeitos da compactação do solo incluem a redução da macroporosidade e da porosidade total, além do aumento da densidade do solo, especialmente em sistemas de plantio convencional. Como consequência, há diminuição da taxa de infiltração de água e a restrição física ao crescimento das raízes, o que também cria condições favoráveis ao desenvolvimento de pragas e patógenos de solo, como os fitonematoides.

A partir de que nível de compactação há redução da produtividade da soja?

Conforme observado por Savioli et al. (2021), a partir de 1,3 g cm-3 de densidade do solo, já é possível observar a restrição do crescimento radicular da soja e a redução da produtividade da cultura. Logo, monitorar as condições físicas do solo, bem como sua densidade, é fundamental para mitigar as perdas de produtividade, principalmente em anos secos.

Como monitorar a compactação do solo?

Com a cultura estabelecida, observar o desenvolvimento do sistema radicular da planta pode ser uma alternativa para identificar áreas compactadas. Plantas desenvolvidas em áreas com solo compactado tendem a apresentar baixo crescimento de raízes, além de apresentar maior desenvolvimento lateral do que vertical de raízes (figura 1).

Figura 1. Raiz de soja desenvolvida em solo compactado.
Foto: Henrique Debiasi.

De forma mais técnica, uma das alternativas para identificar e mensurar a compactação do solo é através do uso de ferramentas como o penetrômetro. O penetrômetro mede a resistência do solo à penetração (RP). Contudo, para resultados mais fidedignos, o ideal é que as avaliações com essa ferramenta sejam realizadas quando o solo atingir a capacidade de campo. A nível de lavoura para reduzir erros, recomenda-se a prática dois a três dias após eventos de chuva (Oliveira et. al, 2019).

Figura 2. Uso de penetrômetro digital para avaliação da resistência a penetração do solo.
Foto: Moacir Tuzzin de Moraes
Manejo da compactação: Escarificação mecânica

Distintas estratégias podem ser adotadas com o intuito de reduzir e/ou manejar a compactação do solo em sistemas de produção agrícola. Dentre as alternativas mais sustentáveis, destaca-se a rotação de culturas com espécie de sistema radicular agressivo. O trafego controlado de máquinas e o planejamento das atividades agrícolas reduzindo a necessidade de entrada e/ou reentrada na lavoura sob condições de solo úmido também contribuem para redução da compactação do solo.

Sobretudo no sistema plantio direto, o qual preconiza o não revolvimento do solo, em algumas ocasiões estratégias com respostas a curto prazo necessitam ser adotadas a fim de garantir a conservação do sistema de produção e melhorar as condições físicas do solo, sem que haja o revolvimento do solo, tal como ocorre no sistema convencional.

Uma dessas estratégias consiste na descompactação mecânica do solo com o uso de escarificadores ou subsoladores. Ainda que essa estratégia  demande significativo custo operacional, no geral apresenta bons resultados em áreas compactadas, favorecendo o crescimento e desenvolvimento radicular das plantas e impactando positivamente a produtividade das culturas agrícolas.

Quando realizada de forma adequada e criteriosa, a escarificação do solo contribui para a descompactação das camadas subsuperficiais, promovendo o aumento da macroporosidade e da infiltração de água, além de facilitar o crescimento das raízes em profundidade.

Conforme observado por Wagner (2017) tanto em áreas de baixa compactação quando em áreas de alta compactação, a escarificação contribuiu para a redução do efeito da compactação do solo sobre o crescimento e desenvolvimento vegetal, melhorando inclusive a produtividade da soja cultivada em sucessão a essa prática de manejo.

Avaliando o efeito da compactação do solo e da influência da descompactação mecânica na produtividade da cultura da soja, Wagner (2017) observou que a escarificação contribuiu efetivamente para o aumento da produtividade da soja cultivada em sucessão a prática, sendo que, em zonas de baixa resistência do solo à penetração, o ganho de produtividade em função da escarificação foi de aproximadamente 12%, enquanto que, para zonas de alta compactação, a escarificação proporcionou incremento de produtividade de cerca de 3% em comparação aos tratamentos que não receberam a escarificação (figura 3).

Figura 3. Influência da Resistência a Penetração (RP) do solo na produtividade de grãos em zonas de baixa RP e alta RP, escarificadas e não escarificadas.
Fonte: Wagner (2017)

Em áreas de alta RP, a escarificação do solo promoveu um incremento de produtividade de 3781 kg/ha para 3914 kg/ha (3,5%), enquanto que em áreas de baixa RP, a escarificação proveu incremento de produtividade de 3707 kg/ha para 4165 kg/ha (12,3%).

Os resultados obtidos por Wagner (2017) demonstram que a escarificação do solo pode ser uma estratégia de manejo para mitigar o efeito da compactação sobre a produtividade das culturas agrícolas, a curto prazo, com melhores resultados em áreas não tão compactadas. Além de proporcionar incremento de produtividade, a escarificação contribui para aumentar a tolerância das plantas a estresses hídricos, uma vez que aumenta a infiltração de água no solo e melhora a distribuição as raízes no perfil.

Contudo, essa estratégia de manejo é uma medida paliativa, devendo ser adotada em conjunto com outras estratégias que possibilitam a melhoria da qualidade física e estrutural do solo a longo prago, como a rotação de culturas, o trafego controlado de máquinas, a correção química do solo e a boa cobertura do solo com palhada.


Veja mais: pH do solo afeta a fixação biológica de Nitrogênio?


Referências:

MACHADO, T. M. et al. NÍVEIS DE COMPACTAÇÃO E SISTEMAS DE PRAPARO SOBRE ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO E COMPONENTES DE PRODUÇÃO DE SOJA. Agrarian, 2023. Disponível em: < https://ojs.ufgd.edu.br/agrarian/article/view/17037/9689 >, acesso em: 11/04/2025.

OLIVEIRA, A. B. et al. COLEÇÃO 500 PERGUNTAS, 500 RESPOSTAS. Embrapa, Brasília, 274 p. 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/208388/1/500-PERGUNTAS-Soja-ed-01-2019.pdf >, acesso em: 11/04/2025.

SAVIOLI, M. R. et al. COMPONENTES DE PRODUÇÃO DA SOJA SOB DIFERENTES NÍVEIS DE COMPACTAÇÃO DO SOLO. Acta Uguazu, v. 10, n. 2, p. 1-12. Cascavel – PR, 2021. Disponível em: < https://e-revista.unioeste.br/index.php/actaiguazu/article/download/26312/17560/104262 >, acesso em: 11/04/2025.

WAGNER, W. A. ESPACIALIZAÇÃO DA COMPACTAÇÃO DO SOLO E O EFEITO DA ESCARIFICAÇÃO MECÂNICA SOB A PRODUTIVIDADE DA CULTURA DA SOJA. Universidade Federal de Santa Maria, Dissertação de Mestrado, 2017. Disponível em: < https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/13017/DIS_PPGAP_2017_WAGNER_WILLIAM.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 11/04/2025.

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