O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da aplicação de doses de fertilizante orgânico sobre os teores de pH do solo.

Autores: Jaqueline Gaio Spricigo¹; Débora Cristina Antunes da Cruz2; Cristiano Nunes Nesi4; Cristiane Pain¹; Gabriela Naibo³; Mauricio Vicente Alves4

Introdução

Um dos desafios da agricultura moderna é promover sistemas de produção sustentáveis capaz produzir alimentos de qualidade sem afetar os recursos ambientais (AHLBURG et al., 2013). Assim a utilização de resíduos em áreas agricultáveis vem crescendo rapidamente, entretanto, os conhecimentos sobre seu valor fertilizante para a agricultura permanecem rudimentares (SOUZA et al, 2011). A adição dos resíduos ao solo como fertilizantes é possível, desde que sejam adicionados em quantidades adequadas, tratados ou transformados de acordo com critérios agronômicos e as legislações vigentes (ECKHARDT, 2015).

Para a transformação dos resíduos em adubos orgânicos emprega-se o método de compostagem, onde a utilização de uma pratica adequada possibilita o aproveitamento seguro dos rejeitos. Além da eliminação dos microorganismo patogênicos e a elaboração de um produto com boas características nutricionais, sendo que o uso no solo não oferece riscos ao ambiente, à planta e ao homem (SEDIYAMA, et al. 2016) Para formular a composição de um fertilizante orgânico, há uma ampla variedade de resíduos que podem ser utilizados, dentre eles estão os estercos, lodos e restos vegetais. Tendo como pontos favoráveis a transformação de um resíduo em fertilizante e o baixo custo da produção na agricultura com a utilização dos mesmos (EDWARDS, 2004; ECKHARDT, 2015).

No entanto, ocorre a não aceitação do produto, onde em grande parte esta na falta de informação sobre a caracterização química e resposta agronômica nas culturas (ANTONIOLLI et al., 2009). O uso de fertilizantes orgânicos é um método eficaz na recuperação de solos degradados e no rendimento agrícola, pois apresentam numerosos benefícios sobre as propriedades químicas, físicas, físico-químicas e biológicas do solo (OURIVES et al, 2010). A composição do fertilizante é variável conforme sua origem, a umidade e o processamento, onde em geral, produtos de origem animal apresentam um processo de mineralização mais rápidas do que os de origem vegetal, quando sujeitos as mesmas condições de umidade, temperatura e ambiente (PEREIRA et al, 2015). Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da aplicação de doses de fertilizante orgânico sobre os teores de pH do solo.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido no município de Xanxerê, na Universidade do Oeste de Santa Catarina, durante os meses de setembro a janeiro, em um período de 120 dias. O solo utilizado no experimento foi o Latossolo Vermelho distroférrico, descrito conforme EMBRAPA (2013), sendo este coletado na camada de 20-50 cm, com as características na tabela 1, avaliadas conforme metodologia descrita em Tedesco et al. (1995). Para incubação, o solo foi peneirado em malha de 1 cm, acondicionados sacos plásticos, contendo um volume de 2 kg de solo. O delineamento experimental empregado foi inteiramente casualizado com cinco repetições.

Os tratamentos constituíram de doses de fertilizantes orgânico, sendo uma testemunha (somente o solo), 2,25 t ha-1, 4,5t ha-1, 9,0t ha-1, 13,5t ha-1 e 22,5t ha-1 calculada em base do nitrogênio do fertilizante orgânico (umidade natural). O fertilizante orgânico é proveniente da empresa Nitro Solo Fertilizante orgânicos, situado no município de Xaxim- SC, sendo o fertilizante composto dos seguintes produtos: serragem, resíduo de incubação, cinzas, lodo de flotador, e cama de aviário, apresentando características conforme a tabela 2 , analisados pelo laboratório de solos da universidade de Passo Fundo. A amostragens de solo para as análises de pH foram realizadas a cada 20 dias em um total de cinco avaliações.

A umidade era corrigida no momento da coleta, sendo feito pelo teste da mão (NUNES, 2009), assim adicionando água quando necessário. As amostras foram secas a 45ºC, moídas e tamisadas em peneira 2 mm, posteriormente determinado o pH (água) conforme metodologia descrita em Tedesco et al. (1995) no laboratório de Solos da Universidade do Oeste de Santa Catarina. Os dados foram submetidos à análise de variância utilizando teste F, com 95% de confiança, e quando o efeito de dose foi significativo, os dados foram submetidos à análise de regressão quadrática, conforme parametrização proposta por (Zeviani, 2013). Todas as análises foram realizadas com o programa R (R Core Team, 2014).

Tabela 1. Atributos químicos e granulometria do solo o qual foi utilizado para a incubação, antes a adição do adubo. (horizonte B de um Latossolo vermelho Distrófico).

Tabela 2. Caracterização química do fertilizante orgânico da empresa NitroSolo utilizada no experimento.

Resultados e Discussão

No inicio do experimento o valor do pH do solo, sem aplicação do fertilizante orgânico é de 5,44 (Tabela 3), observou-se que o comportamento do pH apresentou variações, onde se constatou uma diminuição em seu valor ao longo do experimento. Na primeira avaliação observou-se um resultado significativo, conforme o aumento das doses do fertilizante orgânico (Figura 1), sendo a dose que confere ao maior valor do pH é de 21,32 t.ha-(Tabela 3). Aos 40 dias podemos observar que o maior teor de pH foi de 5,7, onde coincide com a dose de 34,02 t.ha-1 (Tabela 3), sendo que somente nas duas primeiras avaliação apresentou efeito significativo com o aumento das doses. Nos 60 dias o menor valor de pH foi de 4,96 conferindo a dose de 3,12 t.ha-1 do fertilizante orgânico, nos 80 e 120 dias o maior teor ficou 5,03 e 4,91 com as doses condizendo de 22,11 e 23,13 t.ha-1 de fertilizante orgânico respectivamente (Tabela 3). Dessa forma, constatando-se que nas avaliações de 60, 80 e 120 dias não se observou o efeito de doses (Figura 1) e o pH do solo teve uma tendência a diminuir com o passar do tempo.

Tabela 3. Valor máximo de pH que pode ser encontrado (Ym) em cada época de coleta e dose a qual confere o valor máximo (Xm). Enquadrado na equação y = ym + c(x + xm)2

Analisando a figura 2, nota-se que nas primeiras avaliações (20 e 40 dias) o pH do solo aumenta conforme aumenta as doses, provavelmente devido o elevado teor do pH do composto, sendo de 7,3, vindo a baixar posteriormente o pH do solo. Um fato a considerar é que na medida em que passa o tempo, tanto o tratamento com doses de fertilizantes como o tratamento sem o fertilizante diminuiu o pH (Figura 1), onde pode ser reflexo da baixa relação C/N do fertilizante, da atividade de microrganismo e a umidade solo, a qual pode ter acelerado a decomposição da matéria orgânica gerando assim He acidificando o solo. Ao adicionar o fertilizante orgânico ao solo intensifica a atividade microbiana, possivelmente transformando o N pelo processo de nitrificação, sendo esse processo acidificante, justificando as quedas de pH (YAN, et al 1996).

Segundo Candian et al (2010) utilizando adubo orgânico no cultivo de couve-flor, verificou um aumento linear no teor do pH do solo com oaumento das doses, explicando que a matéria orgânica sendo decomposta na forma aeróbica ocorre a reação básica elevando o pH. O experimento de Naramabuye & Haynes, (2007), comportou-se semelhante ao presente trabalho, onde a aplicação de doses de 20 t.ha-1 de adubo orgânico, causou um aumento no valor do pH, seguindo da diminuição com o passar do tempo de incubação. O aumento foi relacionado à característica do composto enquanto a diminuição foi relacionada à nitrificação.

Figura 1. Valores de pH do solo nas diferentes doses de fertilizante orgânico e com o passar do tempo de incubação.

Figura 2. Valores de pH do solo nas diferentes doses de fertilizante orgânico.


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Conclusões

O fertilizante orgânico eleva o pH do solo nos primeiros 40 dias de incubação pelo efeito do pH elevado do composto;  Aos 60 dias de incubação o pH diminui, não apresentando mais o efeito de doses; O pH do solo diminui com o passar do tempo, estabilizando no final da incubação.

Referências

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Informações dos autores

1Acadêmicas de curso de Agronomia, Universidade do Oeste de Santa Catarina-Unoesc Xanxerê, Rua Dirceu Giordani, 696, Xanxerê/SC, 89820-000;

2Acadêmica de pós-graduação em Administração Estratégica do Agronegócio; Universidade do Oeste de Santa Catarina-Unoesc Xanxerê;

3Acadêmica do curso de Engenharia Florestal, Universidade do Oeste de Santa Catarina Unoesc Xanxerê;

4Professores do curso de Agronomia, Universidade do Oeste de Santa Catarina-Unoesc Xanxerê.

Disponível em: Anais da XII Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo. Xanxerê – SC, Brasil.

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