Dentre as mais relevantes pragas de solo que afetam a cultura da soja no Brasil estão os complexos de larvas conhecidos como corós, que podem ocorrer em sistemas de semeadura direta ou convencional (Figura 1). Essas pragas alimentam-se de plantas de várias famílias botânicas, inclusive plantas invasoras. Diante disso, a importância dos corós-praga tende a aumentar devido ao crescimento da agricultura, que avança sobre áreas não cultivadas, de pastagens naturais e melhoradas. Mesmo havendo poucas espécies com importância econômica, são responsáveis por danos significativos às culturas agrícolas e por determinarem o uso de medidas de controle químico.
Figura 1. Larva de coró (Phyllophaga cuyabana)
Fonte: AVILA, C. J. Confira a imagem original clicando aqui
Nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, os danos em soja são geralmente causados por larvas de Phyllophaga cuyabana. Larvas de Plectris pexa também causam danos em lavouras paranaenses, enquanto Liogenys spp. costuma ocorrer nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul. Em sistemas de semeadura direta, é comum ainda a ocorrência de espécies que constroem galerias (túneis) permanentes no solo. Esses corós, em geral, são benéficos e consomem material em decomposição, mas alguns podem atacar plantas vivas. No Rio Grande do Sul, larvas de Diloboderus abderus causam danos mais evidentes em culturas de inverno, mas também podem atacar a soja no final do ciclo (Figura 2).
Figura 2. Macho, fêmea e larva de Diloboderus abderus
Fonte: PEREIRA, P. Confira a imagem original clicando aqui
As espécies apresentam desenvolvimento holometabólico (ovo, larva, pupa e adulto) e suas fases de vida são facilmente reconhecidas e diferenciadas (Figura 3). Adultos (besouros) diferem no tamanho e na cor, sendo geralmente castanho-escuros e medindo entre 1,5 e 2 centímetros. As larvas (corós) diferem no tamanho e pelo padrão de pêlos e espinhos do ráster (região ventral do último segmento abdominal). O acasalamento dos corós ocorre de noite, nas primeiras chuvas da primavera, quando os adultos saem em revoada. Após o acasalamento, voltam para o solo e permanecem entre 5 e 15 centímetros de profundidade. Os ovos, brancos, são depositados isoladamente na camada superficial do solo. As larvas, brancas e robustas, atingem até 3,5 centímetros de comprimento.
Figura 3. Ciclo biológico de Phyllophaga cuyabana
Fonte: OLIVEIRA, L. J. Confira a imagem original Clicando aqui
As larvas rizófagas consomem principalmente as raízes secundárias das plantas de soja, causando amarelecimento, murcha e até morte de plantas quando ocorre alta infestação no início do desenvolvimento da lavoura (Figura 4). Quando o ataque é mais tardio, ocorre redução do crescimento das plantas e, consequentemente, menor número de vagens e grãos, diminuindo o rendimento da cultura. Os adultos não causam prejuízos à soja, pois ingerem pequenas quantidades de folhas. Com isso, a importância econômica de corós em soja é regionalizada e danos são intensificados em solos com baixa fertilidade ou sob condições de déficit hídrico em épocas críticas para a cultura, como a fase de enchimento de grãos.
Figura 4. Danos causados por corós em lavoura de soja
Fonte: OLIVEIRA, L. J. Confira a imagem original clicando aqui
Na literatura há indicações do número de amostras adequado para monitoramento da distribuição das espécies de corós. A maior parte das recomendações indica o uso de trincheiras de aproximadamente 20 cm da largura x 50 cm de comprimento x 20 cm a 30 cm de profundidade para cada amostra. Nestas amostragens, os pontos (trincheiras) devem estar o mais distante possível entre si, sem que se perca a precisão amostral. A eficácia do método de amostragem é indicada pela correta localização das reboleiras de ocorrência das pragas (GUEDES J.V.C., ARNEMANN, J.A.). Ademais, o conhecimento sobre a distribuição espacial é parte fundamental na elaboração de programas de manejo de corós; assim, com base em mapas de distribuição (densidade das espécies) elaborados com o uso da geoestatística, é possível construir mapas de manejo e planejar zonas de controle para essas pragas (Figura 5).
Figura 5. Mapa da distribuição espacial de larvas de Phyllophaga triticophaga em lavoura de aveia
Fonte: Revista Cultivar. Confira a imagem original Clicando aqui
O manejo de corós em soja e outras culturas deve considerar a associação de estratégias de controle, buscando o Manejo Integrado de Pragas – MIP. A base deste conceito deve partir da correta e rápida identificação das espécies-praga. Devem ser considerados, também, a biologia, a ecologia e o comportamento das espécies, apoiando as decisões de manejo e aumentando a sua eficácia. Por sua vez, a amostragem e o monitoramento das populações de corós-praga são fundamentais, já que as larvas apresentam baixa mobilidade e, portanto, há uma previsibilidade espaço-temporal e sazonalidade na sua ocorrência, sincronizada aos cultivos (GUEDES, J. V. C., ARNEMANN, J. A.).
O controle químico é a forma disponível mais eficaz de controle dos corós, especialmente via tratamento de sementes. Há no Brasil uma pequena lista de inseticidas disponíveis para o controle de corós e uma ampla variação de sua eficiência para as distintas espécies-praga. Como estudos mais aprofundados acerca do assunto permanecem indisponíveis, os produtores devem ficar atentos a estas variações na eficiência de controle promovida pelos diferentes tratamentos de sementes.
Elaboração do texto: Rael Adams, estudante do Curso de Agronomia na UFSM e membro do grupo Manejo e Genética de Pragas – UFSM
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS
Coró da soja (Phyllophaga cuyabana). Agrolink. Disponível em https://www.agrolink.com.br/problemas/coro-da-soja_2128.html
GUEDES, J. V. C., ARNEMANN, J. A., CHERMAN, M. A., DAL PRÁ, E., STACKE, R. F., FALCÓN, A. Manejo da praga subterrânea coró na cultura da soja. Revista Cultivar. Disponível em https://www.grupocultivar.com.br/artigos/manejo-da-praga-subterranea-coro-na-cultura-da-soja
OLIVEIRA, L. J. et al. Pragas de solo que atacam a soja no Brasil. Fitossanidade – Visão Agrícola. Disponível em https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/va05-fitossanidade02.pdf
OLIVEIRA, L. J. Complexo de corós. Agência Embrapa de Informação Tecnológica. Disponível em https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/soja/arvore/CONT000fznzu9ic02wx5ok0cpoo6ad3rwls5.html
SALVADORI, J. R. et al. Corós. Embrapa. Disponível em https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia35/AG01/arvore/AG01_92_259200616453.html
ZUAZO, P. Corós da soja. Jornal Dia de Campo. Disponível em http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/Materia.asp?id=19573&secao=Pacotes%20Tecnol%F3gicos&t=F
Foto de capa: Embrapa Agropecuária Oeste