Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações da soja, em Chicago, engrenaram, nesta semana, um processo de ajuste técnico, com o bushel tendo seu valor em recuo durante quase todos os dias. O primeiro mês cotado, que chegou a US$ 16,49 no dia 16/03, acabou fechando o dia seguinte (quinta-feira, 17) em US$ 16,68/bushel, contra US$ 17,00 uma semana antes. Houve recuo importante igualmente junto ao farelo e o óleo de soja, com o primeiro atingindo a US$ 474,10/tonelada curta durante a semana, enquanto o óleo veio a 73,55 centavos de dólar por libra-peso no dia 16, perdendo cerca de nove centavos por libra em relação ao dia 11/03.
Dito isso, na semana encerrada em 3 de março os EUA embarcaram 772.719 toneladas de soja, volume este dentro das expectativas do mercado. Até então, no atual ano comercial, o país norte-americano atingia a 42,1 milhões de toneladas em exportação, 21% menos do que um ano antes.
Enquanto isso, a China anunciou que irá aumentar sua área de soja, nesta nova safra, em 1,3 milhão de hectares, ao mesmo tempo em que liberava óleo e grão de soja de suas reservas visando aumentar a oferta local e reduzir os preços destes produtos.
Já na Argentina, o governo local informou, no domingo passado (13/03), que as exportações de farelo e óleo de soja estavam suspensas. O objetivo é reduzir a inflação interna (superior a 52% anuais), diante da quebra desta última safra, que está em colheita, a qual provoca alta de preços. Ao mesmo tempo, as retenciones (tarifa sobre as exportações) de farelo e óleo de soja passarão a 33% do valor, ficando iguais à taxação já aplicada sobre o grão exportado. Até então, os dois subprodutos sofriam uma taxação de 31%. Lembrando que o vizinho país esmaga 35 milhões de toneladas de soja, sobre uma produção prevista neste ano entre 40 a 45 milhões de toneladas, sendo o maior exportador mundial de farelo e óleo desta oleaginosa. A Argentina exporta mais de 40% do farelo negociado no mundo e quase 50% do óleo de soja.
Aqui no Brasil os preços voltaram a subir, puxados pelos prêmios nos portos, que se aproximam de US$ 2,00/bushel em muitas localidades, enquanto o Real voltou a trabalhar entre R$ 5,09 e R$ 5,16 por dólar, melhorando um pouco a formação do preço dos produtos exportados.
Com isso, a média gaúcha no balcão bateu em R$ 205,14/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 181,00 e R$ 199,00/saco. Segundo grande parte dos traders que operam no país, na semana passada o Brasil viveu a melhor semana da história em termos de comercialização de soja. De fato, para quem não sofreu com as perdas severas da seca, o valor da soja está em níveis recordes, enquanto a demanda se mantém firme.
Para se ter uma ideia, o Indicador Cepea para o interior paulista bateu, no dia 08/03, em R$ 203,22/saco, sendo o maior valor nominal da série histórica iniciada em julho de 1997. Já o Indicador ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá (PR) registrou, no dia 10, o maior valor nominal desta série do Cepea, iniciada em março de 2006, ao atingir a R$ 207,14/saco. Os preços foram impulsionados pela firme demanda doméstica e pelo expressivo aumento na procura externa, cenário que acirrou a disputa pelo grão entre as indústrias brasileiras e os consumidores internacionais. (cf. Cepea)
Em tal contexto, o porto de Rio Grande chegou a bater em R$ 220,00/saco no melhor momento daquela semana, enquanto Paranaguá, Santos e São Francisco atingiram a R$ 216,00/saco. A forte perda de safra no Brasil vem ajudando em muito a estas elevações, além dos fatores externos. Da safra esperada, cerca de metade (60 milhões de toneladas) já teria sido comercializada neste momento, sendo 80% para exportação e 20% para o mercado interno. (cf. Brandalizze Consulting)
Em paralelo, até o dia 11 de março a colheita brasileira chegava a 68% da área esperada, contra 55% na média histórica para esta data. Em muitos Estados o processo está chegando ao final. O retorno das chuvas está salvando as lavouras mais tardias do Centro-Sul brasileiro, porém, as perdas são irreversíveis. (cf. Datagro)
Na região do Matopiba os rendimentos estão muito bons, com a colheita avançando bem. No Maranhão, por exemplo, tem-se lavouras apresentando produtividade média de 56 sacos/hectare, sendo que 44% da área semeada no Estado foi colhida até o início desta presente semana. Enquanto isso, no Rio Grande do Sul a colheita avança de forma mais lenta, com a produtividade se mostrando péssima, e girando entre 2 a 15 sacos por hectare, até o momento, na maioria das regiões. Até o dia 10/03 a colheita atingia apenas a 6% da área semeada no Estado gaúcho, contra a média histórica de 7% para esta data. (cf. Emater)
Já no Paraná, a colheita da atual safra chegava a 68% da área semeada. As perdas são projetadas em 45% do total esperado, sendo que 50% das lavouras a colher se apresentavam em boas condições, contra 81% um ano antes. Hoje, a projeção de produção paranaense de soja é de um total final de 12,8 milhões de toneladas para este ano 2021/22.
Quanto à comercialização da atual safra de soja, cerca de 46% do total brasileiro esperado já teria sido vendido até o dia 4 de março, contra 50,4% na média histórica. Para o ano seguinte, 2022/23, cerca de 5% já estaria vendido neste momento, contra 5,2% na média histórica para a data. Os produtores, para o novo ano, estão vendendo antecipadamente seu produo em ritmo bem menor, pois em 2021 as vendas antecipadas chegavam a 11% nesta época. (cf. Datagro)
Enfim, nos oito primeiros dias úteis de março o Brasil exportou 4,4 milhões de toneladas de soja, contra um total de 12,7 milhões em todo o mês de março de 2021. O valor da tonelada da soja brasileira exportada, no período, foi de US$ 512,60, contra US$ 397,50 em março de 2021.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).