Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações da soja em Chicago ensaiaram uma pequena recuperação no início desta semana, porém, o movimento não se sustentou. Com isso, o fechamento do primeiro mês cotado, na quinta-feira (25), ficou em US$ 8,69/bushel, contra US$ 8,73 uma semana antes.

O mercado está na expectativa do relatório de plantio nos EUA, a ser divulgado no próximo dia 30/06. O mesmo pode indicar uma área semeada com soja um pouco maior do que a inicialmente prevista. Além disso, sairá igualmente o relatório de estoques trimestrais, posição 1º de junho.

Neste contexto, o mercado, após avançar para o patamar dos US$ 8,70/bushel, perdeu força, mesmo com a importante demanda chinesa. A perspectiva de uma safra cheia nos EUA tira o ímpeto dos operadores em Chicago.

Tanto é verdade que as atribuladas relações comerciais entre EUA e China não movimentam tanto o mercado, com os operadores se concentrando no clima nos EUA. Neste sentido, por enquanto o mesmo caminha normalmente naquele país. O plantio da soja, até o dia 21/06, atingia a 96%, contra 93% na média histórica e 83% em igual momento do ano passado. Em relação as condições das lavouras semeadas, 72% estavam entre boas a excelentes, 24% regulares e 4% entre ruins a muito ruins.

Por outro lado, notícias vindas da Argentina dão conta de que a empresa Vincentin, voltou às mãos da iniciativa privada, após duas semanas de intervenção estatal. Sob acusação de inúmeras fraudes a empresa está sob ameaça naquele país, com investigação federal ocorrendo neste momento.

Pelo lado das importações de soja, a União Europeia informou que no ano de 2019/20, iniciado em 1º de julho do ano passado, a região importou 14,8 milhões de toneladas até o dia 21 de junho. Este volume estaria apenas 1% acima do importado no ano anterior. Já em canola, as importações chegaram a 5,8 milhões de toneladas, com alta de 42% sobre o ano anterior. Em farelo de soja, as importações somaram 17,5 milhões de toneladas, com alta de 2% sobre o ano anterior, enquanto as compras externas de óleo de palma chegaram a 5,6 milhões de toneladas, com recuo de 11%. Os números da União Europeia ainda incluem o Reino Unido, pois sua saída do bloco está em transição.

Pelo lado da China, o mercado está atento ao fato de que o país asiático estaria com estoques de soja para apenas 20 dias de consumo, precisando ser triplicados. Como a América do Sul entra na entressafra da oleaginosa e as vendas por aqui estão muito avançadas, a tendência é de os chineses buscarem com mais intensidade a soja dos EUA. Isso poderá pressionar para cima as cotações em Chicago. Todavia, tudo dependerá da evolução da nova safra local de soja.



No Brasil, com o Real chegando novamente à casa dos R$ 5,30 por dólar, a soja voltou a se valorizar. O balcão gaúcho retornou ao patamar acima dos cem reais, fechando a semana em R$ 102,03/saco. No Paraná o produto ficou ao redor de R$ 94,00 a R$ 95,00/saco, em Maracaju (MS) em R$ 97,00, em Rondonópolis (MT) o valor CIF chega a R$ 106,00/saco, enquanto em Rio Verde (GO) bate em R$ 89,00 e na baiana Luís Eduardo Magalhães em R$ 93,00/saco.

Junho está chegando ao fim e a Anec espera que o país exporte, no mês, um total de 12,6 milhões de toneladas de soja, reduzindo um pouco a estimativa anterior. Em farelo, as vendas externas chegariam a 1,52 milhão de toneladas no mês, igualmente com um pequeno recuo em relação ao estimado anteriormente. Desta forma, em todo o primeiro semestre do corrente ano espera-se exportações de soja em 62,3 milhões de toneladas, para um total anual projetado em 77 milhões. Em farelo as vendas, no semestre, chegariam a 8,5 milhões de toneladas, para um total anual esperado ao redor de 16,5 milhões de toneladas.

A novidade agora é que importadores chineses estariam exigindo que os exportadores assinem cartas garantindo que as cargas de soja não estejam contaminadas pelo coronavírus. Algo praticamente impossível de garantir haja vista o estágio de avanço da pandemia no Brasil e nos EUA. Há um receio de que a China use isso para forçar uma baixa nos preços da soja, repetindo a estratégia ocorrida com a chamada “soja vermelha” no início dos anos 2000. O fato é que, segundo autoridades sanitárias mundiais, até o momento não há evidência de que o coronavírus possa ser transmitido por meio de alimentos.

Neste contexto, o mercado brasileiro esteve lento nesta semana. Os prêmios recuaram, contrabalançando a desvalorização do Real na formação do preço da soja nacional, mas não impediram uma recuperação do mesmo. A soja disponível em Paranaguá chegou a R$ 111,00/saco, em Rio Grande a R$ 110,00 e em Imbituba (SC) a R$ 114,00. Para fevereiro do próximo ano Paranaguá registra valor de R$ 106,00 e Rio Grande R$ 103,50 por saco. Neste momento, os prêmios nos diferentes portos brasileiros variam na média de US$ 1,10 a US$ 1,20/bushel.

Na prática, diante de vendas elevadas até aqui realizadas, os produtores brasileiros seguram o que resta do produto da última safra (cerca de 5% apenas) e freiam as vendas futuras (35% da nova safra já estariam vendidos) na expectativa de preços ainda mais elevados.

Neste sentido, toda a atenção ao câmbio no Brasil e ao desenvolvimento da nova safra nos EUA. Em o Real voltando a patamares de R$ 4,50, como ensaiou há pouco tempo, e a safra estadunidense vindo cheia, os preços nacionais da soja tendem a recuar fortemente. Ao contrário, em o câmbio se mantendo nos atuais níveis e/ou o Real se desvalorizando mais, somado a alguma frustração climática na safra dos EUA, os preços locais da soja tendem a subir ainda mais até o final do ano.


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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ

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