Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja em Chicago voltaram a superar a marca dos US$ 14,00/bushel, fechando a quinta-feira (25) em US$ 14,06, após ter atingido a US$ 14,23/bushel na véspera. Uma semana antes o fechamento para o primeiro mês cotado foi de US$ 13,75. Nota-se a disparada nos preços do óleo de soja naquela Bolsa, com a libra-peso chegando a 51,14 centavos de dólar no dia 24/02. O atual valor do grão não era visto desde o final de junho de 2014, enquanto o do óleo alcança patamares somente vistos em fevereiro de 2013, portanto, há oito anos.
Dentre os principais motivos deste comportamento, elencamos os seguintes:
- Existe sim uma bolha especulativa importante em torno de diversas commodities, puxada pelos Fundos de Investimento, a qual está alimentada pelos juros baixos na economia internacional e o grande volume de recursos disponibilizados pelos Estados na tentativa de recuperação da economia neste longo período de pandemia da Covid-19;
- Apesar de uma safra recorde na América do Sul e particularmente no Brasil, o atraso na colheita brasileira, devido as secas que atrasaram o plantio, está levando a demanda mundial a continuar buscando soja nos EUA, quando a mesma já deveria ter se direcionado para o subcontinente sul-americano;
- A continuidade da forte demanda chinesa pela oleaginosa e outras commodities.
Entretanto, o quadro geral, em nada ocorrendo de problemas climáticos maiores junto aos produtores de soja do mundo, é destas cotações recuarem ao longo deste ano. Tanto é verdade que para novembro/21 a cotação em Chicago estava em US$ 12,86/bushel em meados da corrente semana, ou seja, US$ 1,37/bushel a menos do que cota o atual primeiro mês. Este processo poderá ser visto já com a aceleração da colheita brasileira a partir de agora, seguida pela da Argentina, assim como pelo plantio nos EUA. A questão é esperar em que intensidade poderá vir este movimento baixista, o qual tende a ser apenas moderado. Muito irá depender também dos juros básicos internacionais, especialmente nos EUA. Se os mesmos começarem a subir, tornam os títulos públicos mais interessantes, podendo levar os Fundos a se desfazerem de posições compradas em Chicago.
No que diz respeito ao plantio e futura oferta estadunidense de soja, o Fórum Outlook, promovido pelo USDA na semana passada, projetou área e safra maior, porém, ainda estoques finais apertados para este ano 2021/22.
A produção da oleaginosa poderá chegar a 123,2 milhões de toneladas, contra 112,5 milhões neste último ano, com uma produtividade média de 57 sacos/hectare. Isso decorre de uma área expressivamente maior a ser semeada neste ano. O Fórum apontou a mesma em 36,42 milhões de hectares. Neste caso, o principal indicador virá com a intenção de plantio dos produtores estadunidenses, a qual será divulgada em 31/03 próximo. Mesmo assim, os estoques finais neste próximo ano ficariam em apenas 3,95 milhões de toneladas, contra 3,27 milhões projetados para o último ano. Esta situação dos estoques tende a segurar a baixa das cotações em Chicago, gerando grande volatilidade das mesmas entre maio e início de setembro próximo. Ou seja, para se terminar o ano nestas condições, e mesmo assim com estoques apertados, tudo deverá correr muito bem neste novo ano agrícola da soja estadunidense.
Quanto às exportações estadunidenses, o Fórum apontou um volume de 59,9 milhões de toneladas, contra 61,2 milhões no atual ano comercial. Já o esmagamento ficaria em 60,2 milhões, contra previsão de 59,9 milhões de toneladas para a atual temporada. Neste contexto geral, a relação estoque/uso da soja nos EUA chegaria a 3,2%, contra 2,6% neste ano, ficando como a terceira mais apertada da história do país. O preço médio esperado para o bushel de soja, neste novo ano comercial, ficaria em US$ 11,25, portanto, bem cerca de US$ 3,00/bushel abaixo do que Chicago vem praticando no momento.
Por sua vez, pelo lado da demanda, a China indica que suas indústrias esmagadoras de soja começam a diminuir o ritmo de atividade, pois já não há muita soja disponível para exportação nos EUA e a colheita no Brasil está atrasada. Com isso, os estoques chineses tendem a ser consumidos, podendo levar o país asiático a nova pressão de compras nos próximos meses. Este fator pode também impedir um recuo mais expressivo das cotações em Chicago mais adiante. Para março, os operadores portuários chineses esperam a entrada de 5,5 milhões de toneladas de soja, contra uma média semanal de consumo que vem girando entre 8 e 9 milhões de toneladas. Na atualidade, os preços da soja no mercado interno chinês se aproximam do recorde histórico alcançado em julho de 2008, quando da grande crise econômico-financeira mundial.
Neste sentido, os embarques de soja por parte dos EUA já acumulam, em todo o atual ano comercial, iniciado em setembro/20, um total 70% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior, atingindo a 50,9 milhões de toneladas, contra 30 milhões no mesmo período do ano anterior. Do total exportado, 22% foi para a China. Os EUA esperam exportar, em todo o ano comercial atual, um total de 61,2 milhões de toneladas, sendo que deste total 59,9 milhões já estariam negociadas.
Enquanto isso, EUA e China, a partir da posse do presidente estadunidense Joe Biden, em 20 de janeiro, já iniciaram rodadas de negociações comerciais com maior distencionamento. Embora este processo tenda a demorar, os primeiros sinais são positivos para o mercado de commodities.
Já aqui no Brasil os preços estacionaram, porém, em níveis elevados, mesmo com Chicago subindo. O contraponto ficou por conta do câmbio, que manteve o Real um pouco acima de R$ 5,40 por dólar; do aumento no ritmo da colheita nacional, embora o seu atraso (que já era esperado); e de prêmios negativos em muitos portos nacionais neste momento.
Neste último caso, no porto de Paranaguá, a posição março/21 está com 5 centavos de dólar negativo sobre o preço de Chicago. Nas posições seguintes os valores variam entre 10 e 20 centavos. Em relação a semana passada as baixas nos prêmios giraram entre 33% e 120% naquele porto. Além de a China ter comprado muita soja antecipadamente, há navios esperando para carregar em um contexto de pouca oferta devido ao atraso na colheita. Igualmente começam a aparecer os tradicionais problemas de logística brasileira, fato que tira valor de nossos produtos.
Segundo a corretora Agrinvest, apenas 2,9 milhões de toneladas haviam sido embarcadas até o dia 19/02 em Paranaguá, contra 5 milhões no mesmo período de 2020. Para a China foram 2 milhões de toneladas, contra 3,6 milhões no ano passado.
Por sua vez, o Cepea destaca que “…muitos sojicultores têm pressa em colher a oleaginosa, com o objetivo de conseguir cumprir os contratos. Tradings, por sua vez, estão atentas ao recebimento da soja contratada dentro do prazo – atrasos nas entregas podem limitar os embarques e resultar em multas nos carregamentos portuários. Com isso, a logística para março já está comprometida, e grande parte dos agentes mostra interesse em negociar a soja com entrega apenas a partir do segundo trimestre deste ano”. Desta forma, novos negócios no mercado brasileiro, por enquanto, estão raros.
Por outro lado, quanto à colheita da soja brasileira, a mesma teria chegado a apenas 15% da área semeada até o dia 18/02. É a colheita mais lenta dos últimos 10 anos segundo a AgRural. No ano passado, nesta época, a colheita chegava a 31% da área. E agora são as chuvas que atrasam a colheita no Centro-Oeste. Mas a tendência é de a mesma se intensificar a partir de agora no país, gerando ainda mais problemas logísticos.
Com isso, o milho safrinha continua com seu plantio atrasado nestas regiões. O mesmo teria chegado a 24% até o dia 18/02, contra 51% no mesmo período do ano passado.
Em termos de volume a ser colhido na atual safra, o mesmo pode ser maior do que o esperado. Enquanto alguns analistas apontam 131 milhões de toneladas, outros, inclusive estrangeiros, indicam 134 milhões de toneladas.
Um ponto importante a ser destacado é que, diante da forte alta dos preços em Chicago, e da manutenção de um Real ainda muito desvalorizado, os preços da soja brasileira estão mais baratos do que os da soja dos EUA, devendo atrair rapidamente compras chinesas, o que deve melhorar os prêmios futuros em nossos portos e, com isso, favorecer os preços internos da oleaginosa.
Em paralelo, o mercado interno em alguns Estados brasileiros já está pagando melhor do que a exportação, pois a tendência é de um novo recorde nacional de trituração de soja em 2021, pois os preços do farelo e do óleo de soja estão muito elevados diante da forte demanda existente.
Em termos específicos, a colheita da soja no Mato Grosso chegou a 34,5% da área nesta semana, porém, mantendo o atraso em relação aos anos passados. O atraso em relação a safra anterior está em 39 pontos percentuais, e considerando a média histórica para esta época, a colheita deveria estar em 58% da área, ou seja, está 23,5 pontos percentuais atrasada.
Já no Paraná, a colheita da soja chega a 5% da área, contra 30% colhido na mesma época do ano passado. Espera-se uma safra total de 20,4 milhões de toneladas no Paraná (cf. Deral), com a mesma ficando muito próxima do que se espera para o Rio Grande do Sul neste ano.
No que tange as exportações, as mesmas deverão ficar entre 5 e 6 milhões de toneladas em fevereiro, contra uma expectativa inicial de 6 a 8 milhões de toneladas. Esta redução se dá justamente devido ao lento ritmo de colheita que o país vem vivendo neste ano. (cf. Anec) Em fevereiro do ano passado as exportações atingiram a 6,6 milhões de toneladas.
Em termos de preços, a média gaúcha no balcão fechou esta semana em R$ 155,72/saco, contra R$ 78,83 um ano antes. Portanto, o atual preço médio está 97,5% acima do praticado um ano antes. É evidente, portanto, que nosso mercado está em uma situação atípica. Outro elemento interessante é que, em relação a Chicago, convertendo o bushel de soja para saco de 60 quilos, o preço médio gaúcho hoje está 8,4% menor, contra pouco mais de 7% no ano passado. Porém, em 2014, quando as cotações em Chicago estavam semelhantes as atuais, esta diferença de preço atingia a 9,8%. Ou seja, em relação ao movimento de preços em Chicago, o preço gaúcho da soja apresenta um aumento menor do que o do ano passado nesta época, porém, maior do que o registrado em fevereiro de 2014.
Também vale destacar que a comercialização da safra 2020, apesar de os preços terem subido muito a partir do segundo semestre, apresentou uma média geral bem menor, pois muitos produtores venderam boa parte da safra antecipadamente e/ou ainda no primeiro semestre. Em 2021 este quadro deverá mudar bastante já que as vendas futuras foram a preços bem mais elevados e próximos dos atuais, e a comercialização durante a colheita, se dará em torno de preços que podem estar perto dos máximos para o ano.
Enfim, a título de comparação, no Mato Grosso do Sul, os produtores locais comercializaram mais de 30% da safra de 2020 com preços abaixo de R$ 85,00/saco, enquanto em 2021 cerca de 61% da atual safra já teria sido comercializada, com o preço médio geral ficando em R$ 98,77/saco até o momento.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ