Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja na Bolsa de Chicago continuaram firmes nesta semana, com o bushel, no primeiro mês cotado, finalmente rompendo os US$ 9,00, para fechar, nesta quinta-feira (23), em US$ 9,06, contra US$ 8,93 uma semana antes. Esta cotação não era alcançada, para o primeiro mês cotado, desde o dia 24/01/2020.
Além das especulações climáticas, normais para esta época do ano, a forte demanda da China está dando suporte ao mercado. Todavia, as tensões comerciais e políticas entre os EUA e o país asiático deixam o mercado atento a uma reversão de expectativas mais adiante, embora a disponibilidade de soja na América do Sul comece a diminuir.
Somando a safra velha e a nova, os EUA teriam exportado, nesta semana, até o dia 22, um total superior a 1,3 milhão de toneladas de soja, especialmente para a China. Neste sentido, na semana encerrada em 16/07, os embarques semanais de soja por parte dos EUA somaram 452.811 toneladas, ficando dentro do esperado pelo mercado. Em todo o ano comercial, os embarques da oleaginosa já chegam a 38,3 milhões de toneladas, enquanto no anterior eram pouco mais de 39 milhões.
Mesmo sendo precificada, a participação da China no mercado estadunidense alivia um pouco a tensão existente em relação a continuidade chinesa neste mercado. Os operadores, então, se voltam para o clima nos EUA; ao volume final a ser colhido por este país; e para a tendência de safra recorde na América do Sul na futura safra.
É bom frisar que, apesar das especulações, o clima nas regiões da soja nos EUA transcorre muito bem. Tanto é verdade que muitos analistas consideram factível que, nos próximos relatórios, o USDA eleve entre 3% a 5% suas projeções de safra de soja e milho para aquele país.
Por enquanto, o quadro favorável permitiu elevar as condições das lavouras entre boas a excelentes para 69% até o dia 20/07, com ganho de um ponto percentual sobre a semana anterior. Por outro lado, são 24% das lavouras em situação regular e 7% entre ruins a muito ruins. Cerca de 25% estão com formação de vagens e 64% em fase de floração.
No Brasil, os preços da soja se mantiveram em alta, mesmo diante de um Real mais valorizado (R$ 5,11 por dólar em momentos desta semana). A forte demanda na exportação, associada a grande quebra no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, deixa a demanda interna em dificuldades. Com isso, por um lado o prêmio nos portos brasileiros sobem, enquanto o mercado interno sustenta preços elevados para garantir fornecimento, especialmente no sul do país onde há escassez de oferta.
Assim, a média gaúcha no balcão, em termos nominais, bateu novo recorde, chegando nesta semana a R$ 107,35/saco. Nas demais praças os preços foram os seguintes: R$ 98,00 a R$ 99,00 no Paraná; R$ 102,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 107,00 em Maracaju (MS); R$ 94,00 em Rio Verde (GO) e R$ 102,00 em Luís Eduardo Magalhães (BA).
Por sua vez, a ANEC reduziu sua estimativa de exportação de soja por parte do Brasil em julho, com o volume final para o mês ficando agora estimado em 8,8 milhões de toneladas. Já o farelo de soja deverá ficar em 1,76 milhão de toneladas. Em se confirmando esta estimativa, nos sete primeiros meses do ano o país terá exportado 70,6 milhões de toneladas do grão e 8,2 milhões em farelo. Por outro lado, a estimativa de exportação de soja para o total do ano comercial nacional, segundo alguns analistas, já estaria em 83 milhões de toneladas, contra 77 milhões inicialmente previstas. Na semana passada, do 12 ao 18 de julho, o Brasil exportou 2,1 milhões de toneladas de soja e 322.355 toneladas de farelo.
Oficialmente, segundo a Secex, o Brasil exportou, nos primeiros 13 dias úteis de julho, 6,1 milhões de toneladas do grão, acumulando 70 milhões no ano, contra 48 milhões de toneladas no mesmo período do ano passado.
Somando os três produtos do “complexo soja” (grão, farelo e óleo) o país já teria vendido 80,7 milhões de toneladas neste ano, contra pouco mais de 53 milhões em igual momento do ano passado. Vale destacar que as vendas externas de óleo de soja serão bem maiores do que o esperado, devendo ficar entre 800.000 a um milhão de toneladas devido à redução na demanda interna de biodiesel, em função da pandemia, e também pelo aumento da oferta a partir de um esmagamento maior para atender a demanda de farelo por parte das indústrias integradoras de carnes.
Já no Mato Grosso a soja vem sendo muito disputada igualmente, com preços superando a casa dos R$ 100,00/saco. Vale destacar que os subprodutos farelo e óleo estão muito valorizados também, na medida em que a demanda vai melhorando no mundo, passado o forte da pandemia (a crise do coronavírus, de fato, se concentra agora particularmente nos EUA, Brasil, Índia e África do Sul, embora os demais países não possam se descuidar, pois o número de casos de contaminação em muitos locais volta a aumentar repentinamente em alguns momentos).
Enquanto na Bolsa de Chicago o óleo chegou a superar os 30 centavos de dólar por libra-peso no dia 21/07, algo que não era visto há cinco meses, as margens de esmagamento no Mato Grosso aumentaram 11,1% na última semana, fato que ocorreu também em outras regiões. Com isso, a demanda interna busca pagar mais pela soja visando impedir sua exportação. Tanto é verdade que muitas tradings estão fazendo recompra de soja, ou seja, comprando soja que estava vendida para exportação, visando colocá-la no mercado interno.
Como já comentado em outras oportunidades, esta situação excepcional no Brasil neste ano eleva o volume de importações de soja visando abastecer o mercado interno. Somente nos 13 primeiros dias úteis de julho o país importou mais 66.000 toneladas, contra 12.700 toneladas em todo o mês de julho do ano passado.
Neste contexto, segundo o Cepea, a relação estoque/consumo neste ano é a menor desde a safra 2011/12. Isso explicaria porque as importações brasileiras de soja cresceram mais de 197% no primeiro semestre de 2020, em relação ao mesmo período de 2019, totalizando 272.000 toneladas, sendo o Paraguai o maior fornecedor.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ