Autor: Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja, em Chicago, nesta última semana de outubro, se mantiveram relativamente estáveis, com leve viés de alta. O primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (28) em US$ 12,33/bushel, contra US$ 12,24 uma semana antes.

Na linguagem do mercado, pode-se dizer que Chicago está “andando de lado”, sem fatos consistentes que possam alterar este comportamento. Por enquanto, o clima nos EUA, o desenrolar da colheita neste país, o clima na América do Sul e o desenvolvimento do plantio nesta região, e mais o comportamento do mercado financeiro, a partir da possibilidade de alta nos juros estadunidenses, estão na mira do mercado.

Um elemento que pesou bastante nestes últimos dias tem sido o comportamento dos preços dos óleos vegetais, na medida em que os estoques dos mesmos têm se mostrado apertados em grande parte do mundo. Ao mesmo tempo, a demanda tem crescido, particularmente no uso para biocombustíveis. Soma-se a isso a informação de que a safra de palma na Malásia tende a ser a menor dos últimos cinco anos, comprometendo a produção do óleo de palma. O volume de palma a ser colhido neste país pode ficar abaixo de 18 milhões de toneladas, com um recuo de 6% sobre o ano passado e o menor volume desde 2016. Além da baixa produtividade, a escassez de mão de obra na Malásia estaria provocando esta situação, pois grande parte da palma é colhida à mão. Esta escassez de força de trabalho está ligada ao fato de que a maioria ainda não está suficientemente imunizada contra a Covid-19. Com isso, a indústria malaia está perdendo entre 20% a 30% do potencial de produção do corrente ano, com sua receita caindo ao redor de US$ 4,8 bilhões.

No caso específico do óleo de soja, o mesmo está com demanda importante, especialmente na China, onde as cotações futuras na Bolsa de Dalian subiram 30% desde junho. Isto está fazendo com que as margens de esmagamento das indústrias moageiras melhorem, já que pelo farelo a situação continua ruim em função dos baixíssimos preços internos do suíno. Assim, graças ao óleo de soja, na província de Shangdong, uma das maiores no esmagamento de soja da nação asiática, as margens são as melhores desde março. Com a chegada do inverno chinês a demanda por óleo deve crescer em um momento em que os estoques estão baixos. No último dia 15/10 tais estoques estavam em 933.800 toneladas, ou seja, 14,5% a menos do que o registrado no ano anterior na mesma época. Dito isso, não se pode esquecer que o aumento do esmagamento, devido ao óleo, provocará um crescimento importante no estoque de farelo, que está tendo pouca saída. Em média, para cada grão esmagado, a soja gera 18,5% de óleo e 78% de farelo.

Quanto ao óleo de canola, diante de uma safra frustrada no Canadá, maior produtor mundial desta oleaginosa, sua produção igualmente foi baixa, com os preços do produto no mercado canadense subindo aos níveis mais altos dos últimos 13 anos. Diante desta realidade, o Canadá exportou 71% menos de canola entre o 1º de agosto e o final das primeiras sete semanas deste novo ano comercial. Os preços da tonelada de canola já são 70% mais elevados do que um ano antes no mercado futuro da bolsa canadense. Mas os produtores, diante da baixa produção, não conseguem aproveitar estes altos preços, repetindo a situação dos produtores de palma.



Por sua vez, na Índia, um dos maiores importadores mundiais de óleos vegetais, o governo local está impondo limites de estoques de óleos comestíveis, visando garantir o abastecimento local a preços mais baixos. Ao mesmo tempo, o governo indiano vem reduzindo a tarifa de importação dos óleos comestíveis, especialmente dos óleos de palma, soja e girassol. No varejo indiano, em relação há um ano atrás, os preços dos óleos apresentam altas entre 19% e 62% dependendo da matéria-prima. As importações de óleo por parte da Índia somam de 13 a 15 milhões de toneladas, sendo que, deste volume, 55% a 60% correspondem a óleo de palma, derivado este que lidera as altas nos mercado internacionais. (cf. Notícias Agrícolas, citando a Bloomberg, o Successful Farming, The Hindu – Business Line, e Reuters Internacional)

Voltando especificamente ao mercado do grão de soja, a colheita nos EUA, até o dia 24/10, atingia a 73% da área, contra 70% na média histórica para esta data.

Já as exportações estadunidenses de soja, na semana encerrada em 21/10, atingiram a 2,1 milhões de toneladas, elevando o total do atual ano comercial a 8,1 milhões, volume que se apresenta 45% menor do que o registrado um ano antes.

E no Brasil, diante da nova e forte desvalorização do Real, que retornou à casa dos R$ 5,60 a R$ 5,70 em alguns momentos, os preços voltaram a subir um pouco, apesar de Chicago estar estável, e mais baixo do que meses atrás, e apesar do recuo dos prêmios nos portos nacionais.

A média gaúcha, no balcão, fechou a semana em R$ 162,47/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 157,00 e R$ 162,00/saco. No ano passado, nesta época, o preço médio da soja, no balcão gaúcho, era de R$ 156,67/saco. Assim, em termos nominais houve um aumento anual de apenas 3,7%, ou seja, bem abaixo da inflação oficial (IPCA), que está em 10,25% em 12 meses, e muitíssimo abaixo do aumento dos custos de produção entre a safra passada e o atual plantio. Por sua vez, em termos de preço real a perda já é importante. Neste sentido, considerando a evolução do IGP-M, o qual leva em conta em seu cálculo os preços das commodities, para manter o mesmo valor de compra do final de outubro do ano passado, o saco de soja no balcão gaúcho deveria estar valendo hoje R$ 189,49. Ou seja, em termos de preço real da soja, o produtor está perdendo, neste momento, R$ 27,02/saco em comparação a capacidade de compra que o saco de soja possuía um ano atrás.

Dito isso, até o dia 22/10 o plantio da safra de soja 2021/22, no Brasil, estava em 35,8% da área total esperada. Na média histórica o plantio, nesta data, é de 27,3%. No Mato Grosso, o plantio é de 69%, contra a média de 46,6%. No Mato Grosso do Sul, ele chega a 45%, contra a média 34,2% nesta época. No Paraná, a área ocupa 41% do esperado, contra a média histórica de 49%. (cf. Safras & Mercado)


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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