Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações do milho em Chicago trabalharam em leve alta nesta primeira semana de junho, com o primeiro mês cotado fechando a quinta-feira (04) em US$ 3,29/bushel, contra US$ 3,27 uma semana antes. A média de maio ficou em US$ 3,18, contra US$ 3,20/bushel em abril. Um ano antes, em maio de 2019, a média do bushel de milho havia sido de US$ 3,79.
No mercado internacional as atenções se voltam para o clima nos EUA, especialmente no Meio Oeste onde está o forte da produção de verão. Neste momento estamos em pleno “mercado do clima” naquele país. E este acompanhamento irá até agosto, quando, no final daquele mês inicia-se a colheita. Por enquanto, o clima está normal nos EUA, indicando uma safra recorde.
Todavia, chamou a atenção do mercado o fato de que até o dia 31/05 o plantio ter chegado a apenas 93% da área quando se esperava um encerramento do mesmo. Em sendo assim, começa a se especular que a área do cereal pode não ficar na estimada em março passado. Ora, em havendo redução de área plantada, o volume produzido tende a diminuir. Ao mesmo tempo, esta área poderá se deslocar para a soja, forçando novas baixas nas cotações futuras da oleaginosa. Neste sentido, torna-se importante o relatório de oferta e demanda previsto para este próximo dia 11/06 nos EUA.
Vale ainda salientar que as condições das lavouras de milho no país norte-americano melhoraram nesta última semana, sendo que as lavouras entre boas a excelentes passaram de 70% para 74% do total, apontando para uma produtividade recorde se assim continuar.
Outro ponto positivo no mercado veio do aumento na produção diária de etanol, na medida em que a economia dos EUA retoma fôlego, passado o auge da pandemia da Covid-19. Com isso, o consumo interno de milho aumenta, pois este etanol é feito do cereal.
Contrabalançando este lado positivo, as exportações de milho por parte dos EUA, na semana anterior, foram baixas, chegando a apenas 427.000 toneladas, em um momento em que as mesmas deveriam estar entre um e dois milhões de toneladas semanais. Depois disso, a forte desvalorização do dólar perante as principais moedas mundiais puxou estas exportações, levando-as para 1,1 milhão de toneladas na última semana, aliviando um pouco a pressão baixista. (cf. Safras & Mercado)
Assim, mesmo diante de uma possibilidade de safra recorde, os EUA poderão aumentar suas exportações de milho caso o dólar se mantenha em patamares mais baixos. Isto dá competitividade aos produtos exportados pelos estadunidenses. Mas há um grande problema pela frente para que ocorram novas altas de preço: os elevados estoques atuais de milho naquele país, assim como a projeção futura destes estoques, a partir de uma safra que poderá ultrapassar as 400 milhões de toneladas no final do ano.
Desta forma, em esta safra se confirmando, é factível imaginar cotações em Chicago abaixo de US$ 3,00/bushel a partir de novembro. Principalmente porque as exportações da Argentina, Brasil e Ucrânia crescerão neste segundo semestre, fazendo forte concorrência ao produto norte-americano.
Assim, apesar de algumas notícias altistas importantes, o mercado ainda reluta em reagir, pois os fatores baixistas continuam muito presentes e com fortes possibilidades de se confirmarem no transcorrer destes próximos meses. Neste sentido, muito irá depender do clima nos EUA até a colheita do milho em fins de agosto e, particularmente, em setembro.
Na Argentina, a tonelada FOB de milho fechou a semana na média de US$ 144,00, enquanto no Paraguai a mesma ficou em US$ 103,50.
E no Brasil os preços continuam com viés de baixa na medida em que a colheita da safrinha se aproxima, mesmo com quebras identificadas em São Paulo especialmente. O balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 43,12/saco, enquanto os lotes ficaram entre R$ 46,50 e R$ 48,00/saco. Nas demais praças nacionais os lotes oscilaram entre R$ 29,00 em Sinop (MT) e R$ 49,00/saco em Itanhandu (MG), passando por R$ 47,00 em Concórdia (SC) e na Mogiana paulista.
A partir de agora o mercado se concentra cada vez mais no clima sobre as regiões da safrinha e no câmbio. No primeiro caso porque as lavouras se encaminham para o final, com a colheita devendo começar no final deste mês de junho em algumas regiões e já há problemas em determinadas áreas. No segundo caso, porque diante da revalorização do Real as exportações perdem fôlego e os preços no porto diminuem, puxando para baixo os preços internos nas regiões produtoras.
Dito isso, há bastante interesse de exportação para o milho safrinha em julho e agosto, fato que deixa o mercado também atento ao ritmo das mesmas, o qual tende a crescer a partir de agora. Nestre sentido, existiriam nomeações para exportação, em junho, ao redor de 600.000 toneladas neste momento.
Por enquanto, para o início de julho o porto de Santos estaria trabalhando com R$ 47,00/saco, o que sugere preços entre R$ 44,00 e R$ 45,00/saco no CIF Campinas e ao redor de R$ 38,00/saco na região produtora paulista. A questão é verificar se os produtores locais irão vender seu milho a tal preço.
De forma geral, a semana termina com a safrinha no Paraná tendo ofertas entre R$ 41,00 e R$ 43,00/saco no interior do Estado, enquanto no Mato Grosso do Sul o valor é de R$ 38,00 a R$ 40,00. Todavia, os compradores oferecem preços bem mais baixos. No norte do Paraná, por exemplo, para ferrovia os preços ficam em R$ 38,00 para agosto. No Mato Grosso surgem algumas ofertas entre R$ 32,00 e R$ 33,00 ao longo da BR 163, porém, as tradings mostram interesse de compra, para julho e agosto, com preços abaixo de R$ 30,00/saco.
Em Goiás, ofertas entre R$ 37,00 e R$ 38,00, porém, exportadores indicando valores entre R$ 33,50 e R$ 34,50/saco para embarques após agosto. Em Minas Gerais, safrinha cotada a R$ 36,00/saco no lado dos compradores, para o mês de agosto, enquanto as ofertas ficam ao redor de R$ 40,00.
O mês de maio terminou com o Mato Grosso registrando 1% da área da safrinha colhida, enquanto o Centro-Sul brasileiro ficava dentro da média histórica de 0,4% da área colhida. (cf. Safras & Mercado)
Assim, o clima neste mês de junho, o câmbio e o ritmo das exportações ditarão o comportamento dos preços do milho no Brasil daqui em diante. Por enquanto, o viés de baixa, como visto, se mantém e tende a se acentuar nas próximas semanas caso a colheita da safrinha venha normal.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ