Autor: Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações do trigo em Chicago apresentaram um viés de baixa durante a semana, com o mesmo sendo revertido a partir do anúncio do relatório de estoques na posição 1º de setembro. Com isso, o fechamento desta quinta-feira (30), para o primeiro mês cotado, ficou em US$ 7,25/bushel, contra US$ 7,17 uma semana antes.

O relatório de estoques, anunciado neste dia 30/09, apontou um recuo de 18% no volume em relação ao mesmo período do ano passado. O mercado esperava um corte menor em tais estoques.

Por sua vez, o plantio do trigo de inverno nos EUA, até o dia 26/09, chegava a 34% da área esperada, contra 32% na média histórica para esta data, sendo que 9% da área semeada já havido emergido.

Quanto às exportações, os EUA embarcaram 286.087 toneladas de trigo na semana encerrada em 23/09, ficando bem abaixo do esperado pelo mercado. No acumulado do ano comercial, os embarques de trigo estadunidense somam 8 milhões de toneladas, ou seja, 14% menos do que há um ano.

E na Argentina, os agricultores locais já venderam 7 milhões de toneladas de trigo da safra 2021/22, a qual começa a ser colhida apenas em novembro. A estimativa local é para uma safra total, neste ano, de 19,2 milhões de toneladas do cereal.

Já no Brasil, os preços se estabilizaram, com certo aquecimento no mercado a partir do desenvolvimento da colheita no Paraná. A partir de agora muitos moinhos nacionais começam a comprar trigo da nova safra, aumentando a liquidez do mercado e, por consequência, podendo aquecer os preços. Isso tende a reverter a tendência de recuo que vinha se desenhando até então, especialmente porque a nova desvalorização do Real deixa o trigo importado mais caro.

Dito isso, destaque ainda para o fato de que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações do Brasil, está em fase de conclusão do parecer técnico quanto à solicitação de empresa argentina que pediu a liberação de importação de farinha de trigo transgênico pelo Brasil. Diante disso, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo – Abitrigo, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados – ABIMAPI e a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria – ABIP se posicionam contrárias quanto ao possível parecer positivo da CTNBio. Lembramos que o trigo transgênico já foi autorizado na Argentina, porém, sua autorização foi condicionada à aprovação da importação e uso comercial pela comissão reguladora no Brasil.



De acordo com as entidades, o processo conduzido pela CTNBio é restrito a elementos técnicos e não são considerados aspectos mercadológicos e sociais, como o posicionamento de consumidores brasileiros, importadores de produtos brasileiros à base de trigo, comunidade científica internacional e mercado mundial. A forte oposição de diferentes setores no país, em relação a liberação deste trigo no Brasil, se dá em torno do fato de que o processo ainda incorre em inúmeros questionamentos e estudos insuficientes de avaliação sobre os impactos do trigo geneticamente modificado à saúde humana, animal e à biodiversidade, além de seus impactos socioeconômicos. Entende-se que, caso ocorra, o Brasil e a Argentina serão os únicos países do mundo a aprovarem tal tecnologia, até o momento sem precedentes internacionais.

Assim, o tema merece ser considerado em sua maior abrangência possível pelas autoridades brasileiras, dada à repercussão mundial que esta decisão trará, com desmembramentos sobre a imagem do país, imagem do agronegócio, reflexos econômicos sobre a cadeia do trigo e reflexos sobre o consumo deste alimento considerado essencial quando se trata de segurança alimentar das nações, defendem as instituições contrárias. Em pesquisa interna promovida pela Abitrigo, e também pela ABIMAPI, concluiu-se que as indústrias do trigo no Brasil são contrárias à utilização de Trigo Geneticamente Modificado, e a quase totalidade dos moinhos está disposta a interromper suas compras de trigo argentino, caso se inicie a produção comercial naquele país e sua exportação para o Brasil. (cf. Notícias Agrícolas)

Enfim, a colheita da nova safra de trigo no Brasil chegava a 4,7% da área neste final de setembro, contra 10,9% um ano antes. O Paraná já teria colhido 11%, contra 23% no ano passado nesta época. Este atraso se deve ao plantio tardio devido ao clima seco entre março e maio passados. Já no Rio Grande do Sul, o clima vem colaborando com as lavouras e a colheita deverá se iniciar em fins de outubro.

A questão é dimensionar o volume final que o país colherá, pois houve quebras regionais importantes devido à seca, geadas, granizo e outras intempéries. Por enquanto, o volume esperado gira entre 7 e 8 milhões de toneladas, graças ao forte aumento da área semeada, a qual compensará eventuais perdas de produtividade regionais. Neste sentido, a Emater/RS reviu para cima a produção gaúcha, indicando que a mesma possa chegar a 3,6 milhões de toneladas, fato que seria 71% acima do colhido na frustrada safra do ano passado.

A área gaúcha total teria sido de 1,18 milhão de hectares, se constituindo na segunda maior área cultivada com trigo na história do Estado. Diante de um consumo estimado em 12,3 milhões de toneladas no Brasil (este seria o maior volume em quatro anos), a relação entre estoque e consumo, em julho de 2022, deve ficar na casa de 11%, ou seja, o melhor nível desse período. Quanto as vendas, praticamente não há negociações antecipadas, pois não é hábito no país assim o fazer para com este produto. Assim, apenas 10% da produção esperada do Paraná, por exemplo, já estaria vendida.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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