As lavouras do Sul do Brasil, em especial do Rio Grande do Sul, vêm sendo assoladas pela baixa ocorrência de chuvas, impactando negativamente o crescimento e desenvolvimento da soja. Em regiões mais afetadas, a soja já começa a morrer, causando danos irreversíveis para os produtores rurais. Em algumas regiões do RS, como é o caso de Santa Maria, dados do Instituto Nacional de Meteorologia demonstram que o volume acumulado de chuva até então para o mês de Janeiro, não ultrapassou 15 mm, mal distribuídos (dados de 1/01 a 20/01).

Mesmo com a presença de mecanismos fisiológicos de defesa, as lavouras de soja têm sido severamente afetadas pela baixa disponibilidade hídrica. Em alguns casos, as plantas atingem o ponto de murcha permanente, que é definido como o teor de umidade do solo no qual as plantas murcham e não conseguem mais recuperar a turgidez, mesmo após chuvas ou irrigação (Cid & Teixeira, 2017). Em outras palavras, ao atingir esse ponto, nenhuma estratégia para aumentar a disponibilidade hídrica no solo é capaz de evitar a morte da planta.

Figura 1. Soja sob efeito de seca extrema. Ponto de murcha permanente.

Como a soja resiste a seca?

Ao identificar o déficit hídrico, a planta adota alguns mecanismos de adaptação, tentando sobreviver ao estresse no ambiente. A deficiência de água na planta é condicionada por dois fatores: a disponibilidade de água no solo e a diferença entre a quantidade de água transpirada em relação à absorvida (Pes & Arenhardt, 2015).

O primeiro mecanismo adotado pela planta é o fechamento dos estômatos, para regular o balanço hídrico vegetal, reduzindo a perda de água para a atmosfera. Por consequência, a fotossíntese é afetada. O fechamento estomático também resulta na redução da taxa de fotossíntese da planta, pela redução da entrada de COna folha. Indiretamente, a falta de água provoca murcha das folhas, o que irá reduzir a superfície de absorção de luz, afetando a fotossíntese (Pes & Arenhardt, 2015).

A taxa de respiração da planta diminui, entretanto ainda permanece maior que a taxa fotossintética. O crescimento é paralisado e o desenvolvimento pode ser afetado (figura 2) havendo antecipação dos estádios fenológicos, tais como florescimento e senescência, reduzindo o ciclo da cultura.



Figura 2. Sintomas visuais da deficiência hídrica em soja aos 12 dias de supressão hídrica (A) e diferenças morfológicas em soja cultivada no município de Alegrete (safra 2021/22) em ambiente de sequeiro e irrigado por pivô central (B).
Fonte: Equipe FieldCrops.

Durante o florescimento da soja, o déficit hídrico pode resultar no abortamento das flores. Por consequência, a formação de frutos é comprometida. Plantas submetidas a déficit hídrico podem apresentar abscisão de frutos, fator resultante da maior síntese de ácido abscísico.

absorção de nutrientes fica comprometida, uma vez que não há a absorção de água e nutrientes da solução do solo. O balanço hormonal da planta também é alterado, a planta afetada pelo déficit hídrico tende a produzir mais ácido abscísico e etileno, acelerando o envelhecimento da planta (Pes & Arenhardt, 2015).

Embora as respostas bioquímicas e fisiológicas possam variar de acordo com a espécie vegetal, em suma o déficit hídrico causa condições estressantes para a planta, inibindo seu crescimento, alterando a fotossíntese e produção de fotoassimilados, que por consequência limita a produtividade da cultura.

Os danos variam em função da severidade do déficit, duração da seca e estádio do desenvolvimento da soja. Conforme observado por Gava et. al, (2015), a ocorrência de déficit hídrico durante o período reprodutivo da soja pode resultar no abortamento de quase 30% das flores de soja, causando um impacto na produtividade que pode ser superior a 45%.

Sob condições mais extremas, em que o déficit hídrico é prolongado, as perdas de produtividade podem representar 100% caso as plantas atinjam o ponto de murcha permanente.


Veja mais: Bacillus aryabhattai: Uma ferramenta promissora em anos de seca


Referências:

CID, L. P. B.; TEIXEIRA, J. B. FISIOLOGIA VEGETAL – DEFINIÇÕES E CONCEITOS. Embrapa, Documentos, n. 356, 2017. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/187023/1/FisiologiaVegetal-final21.pdf >, acesso em: 20/01/2025.

GAVA, R. et. al.  ESTRESSE HÍDRICO EM DIFERENTES FASES DA CULTURA DA SOJA. Revista Brasileira de Agricultura Irrigada. v.9, n.6, p. 349-359, 2015. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/288499201_Estresse_hidrico_em_diferentes_fases_da_cultura_da_soja >, acesso em: 20/01/2025.

INMET. GRÁFICOS. Instituto Nacional de Meteorologia, 2025. Disponível em: < https://tempo.inmet.gov.br/Graficos/A803 >, acesso em: 02/01/2025.

PES, L. Z.; ARENHARDT, M. H. FISIOLOGIA VEGETAL. : Universidade Federal de Santa Maria, Colégio Politécnico, Rede e-Tec Brasil, 2015. Disponível em: < https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/413/2018/11/09_fisiologia_vegetal.pdf >, acesso em: 20/01/2025.

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