Em média, para a obtenção de boas produtividades de soja, é necessário um volume acumulado variando entre 450 mm a 800 mm de água para suprir todas as exigências hídricas da cultura (PAS Campo, 2005). Essa variação do requerimento hídrico pode ocorrer em virtude da cultivar, seu crescimento e desenvolvimento.
Uma das formas de se mensurar a quantidade de água necessária para o bom crescimento e desenvolvimento da soja é pela evapotranspiração de cultura, que conforme observado por Berlato; Matzenauer; Bergamaschi (1986), é nitidamente maior durante o período reprodutivo do desenvolvimento da soja.
Figura 1. Evapotranspiração diária (ET) em diferentes estádios do desenvolvimento da soja.
Corroborando os resultados obtidos por Berlato; Matzenauer; Bergamaschi (1986), PAS Campo (2005) afirmam que o consumo máximo de água pela cultura da soja ocorre durante a floração e o enchimento de grãos, podendo evapotranspirar de 7 a 8 mm.dia-1.
Conhecer o requerimento hídrico da cultura da soja é essencial para embasar práticas de manejo ou execução de irrigações em cultivos irrigados. Conforme observado por Barbosa et al. (2015), limitações hídricas, configurando períodos de déficit podem reduzir significativamente a produtividade da cultura da soja em comparação a cultivos que não são expostos a períodos de déficit.
Taiz et al. (2017) destacam que o fechamento estomático, a interrupção da fotossíntese e do crescimento vegetal são algumas das principais resposta da planta ao déficit hídrico. Em consequência a isso, tem-se a redução da produção de fotoassimilados, prejudicando efetivamente o crescimento da soja e enchimento de grãos, podendo impactar significativamente a produtividade da cultura.
Avaliando a influência do déficit hídrico sobre parâmetros agronômicos das cultivares de soja embrapa 48 e br 16 em condições de campo, Barbosa et al. (2015) observaram que comparando a produtividade da soja submetida ao déficit hídrico durante o período vegetativo (EV) e durante o período reprodutivo (ER) com a produtividade da soja cultivada em condições de sequeiro, mas sem déficit (NIRR) e da soja cultivada sob irrigação (IRR); ambas as cultivares apresentam drástica redução de produtividade quando o déficit hídrico ocorre durante o período reprodutivo da cultura.
Figura 2. Rendimento (kg ha-1) em plantas das cultivares de soja BR 16 e Embrapa 48 submetidas a diferentes regimes hídricos. EV: estresse hídrico no período vegetativo; ER: estresse hídrico no período reprodutivo; NIRR: não-irrigado; IRR: irrigado.
Com os resultados obtidos por Barbosa et al. (2015), é possível observar que quando o período de déficit hídrico ocorre durante o período vegetativo da soja, mas após ela recebe suprimento de água durante o período reprodutivo, tem-se uma recuperação das plantas, reduzindo o impacto na produtividade. Já quando o déficit ocorre durante o período reprodutivo, tem-se drásticas reduções de produtividade, independente da cultivar avaliada.
Nessas condições, fica evidente a importância de um adequado posicionamento de cultivares, seguindo as orientações técnicas para a cultura para reduzir riscos, principalmente se tratando do período de semeadura da soja. Além do uso de cultivares com maior tolerância a períodos de déficit hídrico, é importante atentar para as condições físicas do solo. Solos compactados aliados a períodos de déficit hídrico prolongados podem resultar em elevadas perdas produtivas, principalmente se o déficit ocorre durante o período reprodutivo da soja, como visto anteriormente.
Visando contornar esses efeitos, além do uso da irrigação, investir na melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo podem contribuir de forma significativa para reduzir os danos ocasionados pelo estresse hídrico. Solos sem compactação e sem limitações químicas possibilitam maior crescimento e desenvolvimento do sistema radicular da soja, aumentando o volume de solo explorado em com maior absorção de água e nutrientes do solo. Do ponto de vista biológico, a macro e mesofauna contribuem para a maior infiltração de água no solo a partir da criação de galerias.
Outro ponto importante a ser abordado é a cobertura do solo, que se bem distribuída e em quantidades adequadas, pode alterar o fluxo de calor do solo, reduzindo a amplitude térmica e a evaporação da água presente no solo. Dessa forma, além de promover um ambiente de melhores condições térmicas para o crescimento e desenvolvimento vegetal e da biota do solo, a palhada exerce influencia direta redução da perda de água para a atmosfera (evaporação), fato essencial para amenizar os danos ocasionados por períodos de estresse hídrico.
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Referências:
BARBOSA, D. A. et al. INFLUÊNCIA DO DÉFICIT HÍDRICO SOBRE PARÂMETROS AGRONÔMICOS DAS CULTIVARES DE SOJA EMBRAPA 48 E BR 16 EM CONDIÇÕES DE CAMPO. VII Congresso Brasileiro de Soja, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126063/1/R.-142-INFLUENCIA-DO-DEFICIT-HIDRICO-SOBRE-PARAMETROS.PDF >, acesso em: 25/08/2021.
BERLATO, M.A.; MATZENAUER, R.; BERGAMASCHI, H. EVAPOTRANSPIRAÇÃO MÁXIMA DA SOJA E RELAÇÕES COM A EVAPOTRANSPIRAÇÃO CALCULADA PELA EQUAÇÃO DE PENMAN, EVAPORAÇÃO DO TANQUE “CLASSE A” E RADIAÇÃO SOLAR. Agronomia Sulriograndense, Porto Alegre, v.22, n.2, p.243-259, 1986.
PAS CAMPO. AS Campo. MANUAL DE SEGURANÇA E QUALIDADE PARA A CULTURA DA SOJA. Embrapa, Transferência de Tecnologia, 2005. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/25249/1/MANUALSEGURANCAQUALIDADEParaaculturadesoja.pdf >, 25/08/2021.
TAIZ, L. et al. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO VEGETAL. Porto Alegre, ed. 6, 2017.