Alcançar altas produtividades na cultura da soja é um desafio que exige planejamento e a adoção de boas práticas agrícolas. Cada etapa do manejo influencia a produtividade final da lavoura, desde a escolha da cultivar até a colheita. O sucesso produtivo está diretamente ligado à capacidade do produtor em manejar os fatores ambientais e agronômicos de forma eficiente, construindo uma base sólida para que a planta expresse seu máximo potencial. A água, a nutrição, o manejo de pragas e doenças, a estruturação do solo e a plantabilidade são elementos essenciais que, quando bem conduzidos, formam os degraus para altas produtividades.

Figura 1. Fatores para construção de lavouras de alta produtividade de soja subtropical.
Fonte: Equipe FieldCrops

A disponibilidade de água é um dos mais determinantes, pois afeta diretamente o potencial produtivo. Em regiões subtropicais, como o Sul do Brasil, Uruguai e Pampa Argentino, a irregularidade na distribuição das chuvas, influenciada pelo fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), pode resultar em déficits hídricos severos. Esse déficit representa cerca de 60% da lacuna de produtividade, tornando a irrigação uma ferramenta essencial para mitigar perdas.

Para a época de semeadura, é determinante ajustar o período do ano de maior coeficiente fototérmico no período entre R3-R6, conforme o GMR da cultivar. A definição da cultivar mais adequada ao ambiente é outro passo essencial na busca por altas produtividades. No Sul do Brasil, onde há uma janela de semeadura mais ampla, a semeadura precisa ser ajustada para que os estágios reprodutivos mais críticos, entre R3 e R6, coincidam com o período de maior disponibilidade de luz e temperatura favorável. Essa interação entre genética, clima e manejo influencia diretamente o rendimento final.

A nutrição das plantas também exerce um papel crucial no desempenho da lavoura, pois está diretamente relacionada à disponibilidade de água, à época de semeadura e ao potencial genético da cultivar. O fornecimento equilibrado de nutrientes essenciais e a correção de fatores limitantes, como acidez do solo, são determinantes para garantir um ambiente favorável ao desenvolvimento radicular e à absorção de elementos essenciais. A relação entre pH do solo e produtividade é clara: solos com pH inadequado podem imobilizar nutrientes essenciais e intensificar a toxicidade por alumínio e manganês, prejudicando o crescimento da soja. Além disso, a adubação precisa considerar não apenas a reposição de nutrientes, mas também a expectativa de produtividade, ajustando as quantidades aplicadas conforme a demanda da cultura.

Outro fator que impacta significativamente na produtividade da soja é o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas. O inverno frio pode interromper ou reduzir o ciclo de algumas pragas e doenças, tornando o impacto desses fatores menos severo. Nesse cenário, a estruturação do solo passa a ser um aspecto ainda mais relevante para o sucesso da lavoura, pois influencia diretamente a capacidade de armazenamento de água, a disponibilidade de nutrientes e o crescimento radicular. Em ambientes com maior restrição hídrica, como as regiões subtropicais, solos bem estruturados fazem a diferença na mitigação dos efeitos da seca e na manutenção do desenvolvimento saudável das plantas.

Por fim, a plantabilidade é um degrau essencial para a construção de altas produtividades. A correta distribuição das sementes, o espaçamento adequado entre linhas e a densidade populacional bem ajustada garantem o aproveitamento máximo da radiação solar e dos recursos disponíveis, reduzindo a competição entre plantas e promovendo um estande uniforme. Qualquer falha nesse processo pode comprometer o potencial produtivo da lavoura, limitando a eficiência do uso da água, dos nutrientes e da luz.

O caminho para altas produtividades na soja não depende de um único fator isolado, mas sim da interação entre práticas bem planejadas e executadas ao longo de todo o ciclo da cultura. O sucesso produtivo está na construção de um sistema equilibrado, que considera desde a disponibilidade hídrica e a escolha da cultivar até a nutrição, o manejo fitossanitário, a estruturação do solo e a plantabilidade. Cada degrau vencido representa um avanço rumo a máxima produtividade da lavoura, garantindo sustentabilidade e rentabilidade ao produtor.

Referências bibliográficas

Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades. 2. ed. Santa Maria, 2022.



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