Autores: Tales Tiecher, Luiz Gustavo De Oliveira Denardin, Amanda Posselt Martins, Osmar Henrique Pias, Leonardo Rodrigues Nunes, Tadeu Luis Tiecher, Jimmy Walter Rasche Alvarez, Fábio Joel Kochem Mallmann, Gustavo Brunetto & Danilo Rheinheimer Dos Santos
O enxofre (S) é um macronutriente essencial para as plantas, absorvido na forma de sulfato (SO42-) da solução do solo. A disponibilidade de SO42- na solução do solo é controlada pelo SO42- adsorvido aos grupos funcionais de partículas reativas do solo e, principalmente, pela mineralização da matéria orgânica (MO), que é o maior reservatório de S no solo. (Schmidt et al.2012).
Outra fonte potencial de S é a deposição atmosférica, que muitas vezes pode ser suficiente para atender aos requisitos para o pleno crescimento e desenvolvimento das culturas. Estas condições significam que freqüentemente o fornecimento de S é adequado para alcançar o potencial produtivo das principais culturas de grãos no mundo (Aulakh 2003 Werner et al. 2003).
No entanto, a ocorrência de deficiência de S pelas plantas tem se tornado comum em vários lugares como a Europa (Ercoli et al. 2012), África (Kihara et al. 2017) e e América do Sul (Sfredo e Moreira 2015). Em algumas situações específicas e especialmente na combinação de mais de uma delas, a resposta às adições de fertilizantes sulfatados pode ser favorável. Estas situações são:
- Solos com textura arenosa;
- Com baixa M.O.;
- Localizado longe de centros urbanos e industriais (Divito et al. 2015);
- Com alta produtividade das culturas (Blum et al. 2014);
- Ausência de rotação de culturas;
- Quando a fertilização é realizada com o uso de fertilizantes concentrados pobres em S.
Embora existam poucos estudos que relatam um aumento na produtividade agrícola devido à fertilização com sulfato no Brasil, nos últimos anos tornou-se comum recomendar a aplicação de gesso agrícola como fonte de S para as plantas.
Pequenas quantidades de gesso podem fornecer quantidade suficiente de S para nutrição de plantas (<0,15 Mg ha-1), mas este condicionador do solo também é usado em grandes quantidades (>6,0 Mg ha-1) com o objetivo de promover a lixiviação de Ca no perfil do solo e, em seguida, reduzir a saturação por Al em camadas de solo subsuperficiais (Nora et al.2017).
No entanto, isso também leva ao aumento do conteúdo de Ca na superfície do solo, favorecendo o deslocamento de outros cátions básicos, como Mg e K, adsorvidos aos grupos funcionais de partículas reativas do solo, o que aumenta o potencial de lixiviação desses nutrientes no perfil do solo através da formação de pares iônicos com sulfato (Caires et al. 2011).
A disponibilidade de sulfato na planta é regulada pela razão entre os processos de mineralização/imobilização pela atividade microbiana do solo e pelo fenômeno de adsorção/dessorção desse íon com os grupos funcionais das bordas superficiais quebradas da caulinita e do ferro (Fe) e óxidos de Al (Sposito 2008), cuja energia de adsorção é baixa, quando comparada a outros ânions como o fosfato.
Assim, essa menor energia de ligação de adsorção favorece uma maior concentração em solução e o movimento desse íon no perfil do solo, lixiviando a profundidades além da zona de raiz de captação (Caires et al., 2011 a). Este fenômeno é potencializado em solos arenosos, que além de possuírem menor reserva de S no solo, apresentam maior lixiviação desses íons, principalmente devido à menor quantidade de grupos funcionais capazes de reter o sulfato.
A lixiviação de sulfatos também é potencializada quando o solo é manejado em sistema de plantio direto (NT), pois a aplicação superficial de calcário aumenta o pH do solo, o que reduz a quantidade de cargas elétricas positivas capazes de reter sulfato (Blum et al. 2014). Além disso, o teor de P disponível no solo é maior no solo de NT (Tiecher et al. 2017), aumentando a competição de sorção com sulfato.
Assim, a recomendação e o uso disseminado do gesso podem aumentar desnecessariamente o custo de produção e causar efeitos indesejáveis, como excesso de lixiviação de bases (Mg e K), que podem resultar em deficiências nutricionais e decréscimos no rendimento de grãos.
Um dos cátions com maior potencial de lixiviação é o Mg, devido ao seu maior raio iônico hidratado em relação ao Ca. Alguns estudos demonstram o potencial de perda de Mg no perfil do solo a longo prazo causado pela aplicação de gesso agrícola, mesmo em solos com alto teor de argila (Vicensi et al. 2016).
Embora o uso de gesso agrícola associado à aplicação de calcário dolomítico possa gerar efeitos benéficos, sua aplicação isolada promove uma diminuição do Mg trocável na superfície do solo e pode causar uma diminuição na produtividade das culturas. Embora estudos demonstrem a dinâmica do Mg trocável na fase sólida de solos argilosos após a aplicação de altas taxas de gesso (Caires et al.2011 a), sua dinâmica em solos arenosos sob sistemas de NT, cujo potencial de perda se torna maior, ainda é pouco estudada. Nesta situação, mesmo pequenas doses de gesso, visando apenas fornecer pequenas quantidades de S, podem já ser suficientes para impactar a dinâmica desses cátions básicos.
O entendimento da dinâmica de cátions e sulfatos básicos em solos arenosos com baixa capacidade de troca catiônica é particularmente importante em regiões de expansão agrícola no mundo. Esses solos leves ocupam 8% do território brasileiro (~ 68 milhões de hectares) e são especialmente expressivos na nova e última fronteira agrícola do Brasil: a região do Matopiba (estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde representam 20% da área (~ 15 milhões de hectares) (Donagemma et al. 2016).
Além disso, o efeito da aplicação de gesso a curto prazo, após os primeiros meses de aplicação, tem recebido pouca atenção, apesar da importância de se avaliar a dinâmica dos principais cátions e ânions na solução do solo após a aplicação do gesso.
Nesse sentido, a análise da solução do solo combinada com a especiação química é uma alternativa eficaz para o entendimento dos processos do solo permitindo avaliar as espécies nutrientes encontradas na solução do solo fornecendo informações úteis para melhor entender sua mobilidade no solo. Assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar a dinâmica de curto prazo de espécies químicas de sulfato e os principais cátions básicos na solução do solo em diferentes profundidades de um solo arenoso sob sistema NT, em função da aplicação de diferentes taxas de S via gesso agrícola.
MM
Tabela 1. Histórico das culturas cultivadas no experimento e a quantidade e modo de aplicação de S em cada cultura.

Resultados e discussões
As taxas de gesso alteraram as concentrações de Ca2+ e SO42- livre na solução do solo, bem como as espécies de sulfato (CaSO4°, MgSO4° e KSO4–), (Tabela 2). Isso ocorre devido à alta solubilidade do gesso agrícola, que dissocia e libera grandes quantidades de Ca2+ e SO42- na solução do solo. Além disso, houve também uma mudança na dinâmica das concentrações de outros cátions avaliados (Mg2+ e K+ ) na solução do solo, bem como suas espécies químicas ao longo do tempo e em diferentes profundidades do solo.
Tabela 2. Significância dos fatores de variação e suas interações na concentração de espécies químicas na solução do solo, como resultado da análise de variância (ANOVA).

Concentração total de sulfato e cátions na solução do solo
A concentração total de SO42- na solução do solo foi alterada pelas taxas de gesso nas duas camadas de solo avaliadas (20 e 60 cm), (Figura 2). A concentração máxima de SO42- na solução do solo a 20 cm de profundidade para todas as doses de gesso avaliadas foi verificada no primeiro período de amostragem, 9 d após a aplicação do gesso, atingindo valores de até 71 mg L-1 de SO42 – na maior taxa de gesso (equivalente a 20 kg S ha−1) (Figura 2a).
Subsequentemente, a concentração de SO42-na solução do solo a 20 cm diminuiu e 28 dias após a aplicação do gesso não houve diferença significativa entre os tratamentos até o final do período de amostragem. Por outro lado, a concentração de SO42- na solução do solo a 60 cm (Figura 2b) começou a diferenciar as taxas de gesso após 17 dias de aplicação, atingindo um valor máximo de 78 mg L-1 de SO42- na maior taxa de gesso (20 kg S ha−1 ) aos 78 dias após sua aplicação.
Após essa amostragem, o conteúdo de SO42- a 60 cm diminuiu. Esses resultados confirmam a alta mobilidade do SO42- , já verificado em solos argilosos (Caires et al. 2002, 2006; Caires et al. 2011 a; Blum et al. 2014), bem como em solos arenosos (Ercoli et al. 2012).
Figura 2. Teor total de sulfato (SO42-) na solução do solo a 20 cm (a) e 60 cm (b) de profundidade após a aplicação de diferentes doses de gesso agrícola para o suprimento de enxofre (S). * diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. ns = não houve diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. LSD = menor diferença significativa entre as doses avaliadas, a cada tempo, independentemente da profundidade do solo, a um nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.
A concentração total de SO42- na solução do solo apresentou tempo de permanência inferior a 30 dias nos primeiros 20 cm do solo. Entretanto, apesar de não haver diferença estatística na concentração de SO42- 20 cm após 28 dias de aplicação, observou-se que a concentração média permaneceu muito maior nos tratamentos com aplicação de gesso do que no tratamento controle. Solos argilosos, em geral, apresentam maior capacidade de suprir as necessidades nutricionais de S às plantas em comparação aos solos de textura média a arenosa (Ercoli et al. 2012).
Estudar os efeitos residuais das doses de fosfogesso variando de 3 a 9 Mg ha-1, muito acima das taxas testadas no presente estudo (31 a 125 kg ha).−1 ), em argila Oxisil (58% argila) do Estado do Paraná, no Sul do Brasil, Blum et al. (2014) observaram que o teor de S disponível no solo após a aplicação do gesso permaneceu maior que o controle por um período de 1,5 anos na camada superficial.
Abaixo de 20 cm de profundidade, esses autores verificaram que o tempo residual foi superior a 6 anos. Ercoli et al. (2012) verificou-se que durante um ciclo de colheita de trigo que havia uma perda média de 35 kg ha-1de S devido à lixiviação de SO42-.
Esses mesmos autores constataram que quando a adubação sulfatada foi aplicada na mesma data de semeadura, as perdas por lixiviação foram maiores. Como resultado, recomendaram dividir as doses de S para obter maior sincronia entre as necessidades das plantas e o S disponível na solução do solo.
A aplicação de gesso também alterou o teor total de Ca 2+ e Mg 2+ na solução do solo (Figura 3). Imediatamente após a aplicação do gesso (9 dias), as maiores concentrações de Ca 2+ e Mg 2+ na solução do solo a 20 cm de profundidade foram detectadas (Figura 3 (a, c)). Após 28 dias de aplicação, as concentrações de Ca 2+ e Mg 2+ deixaram de apresentar diferenças entre os tratamentos nesta profundidade. Mesmo assim, é importante notar que apenas Ca 2+ foi adicionado com gesso.
Assim, o alto aumento de Mg 2+na solução do solo foi originada apenas dos locais de troca de solo, onde foi substituída pelo Ca 2+ adicionado via gesso. Por outro lado, a concentração de Ca 2+ e Mg 2+ a 60 cm começou a aumentar na maior taxa de gesso após 37 dias (Figura 3 (b, d)). A concentração de Ca 2+ e Mg 2+ a 60 cm permaneceu maior do que no controle até 109 dias após a aplicação do gesso, quando a concentração desses cátions começou a diminuir (Figura 3 (b), d)).
Do total de Mg que é translocado para camadas subsuperficiais do solo, parte dele é adsorvido em camadas subsuperficiais e parte é lixiviada para camadas mais profundas abaixo da zona de raiz de captação. Assim, considerando que há boa disponibilidade de Mg na superfície do solo, o movimento de Mg no perfil do solo não é prejudicial. Por outro lado, a lixiviação excessiva do Mg pode resultar em decréscimos no rendimento da cultura, especialmente quando os teores de superfície Mg trocáveis são baixos (Caires et al., 2011 b).
Figura 3. Teor total de cálcio (Ca 2+ ) na solução do solo a 20 cm (a) e 60 cm (b) de profundidade, teor total de magnésio (Mg 2+ ) na solução do solo a 20 cm (c) e 60 cm (d) profundidade e teor total de potássio (K + ) na solução do solo a 20 cm (e) e 60 cm (f) de profundidade após a aplicação de diferentes doses de gesso agrícola para o suprimento de enxofre (S) . * diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. ns = não houve diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. LSD = menor diferença significativa entre as doses avaliadas, a cada tempo, independentemente da profundidade do solo, a um nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.
A concentração de K + total na solução do solo não foi afetada pelas taxas de gesso (p> 0,05) em ambas as profundidades de solo avaliadas (Figura 3 (e, f)). Esse resultado está de acordo com outros estudos (Vicensi et al. 2016) que geralmente afirmam que as perdas de K podem ser negligenciadas. Isso porque, além da menor afinidade de K e sulfato, ao formar o par iônico (KSO4–), há também uma carga residual dessa espécie química que diminui sua mobilidade no perfil do solo, em comparação com os pares iônicos formados. com cátions divalentes (Ca e Mg) e sulfato, que têm carga residual nula (CaSO4° e MgSO4°).
Espécies químicas de sulfato na solução do solo
O sulfato livre (SO42- ) foi a forma predominante de S na solução do solo (Figuras 4 e 5), como esperado em solos bem drenados (ambiente oxidado). Independentemente da dose aplicada, o período de amostragem e a profundidade do solo, livre SO4 2- representado cerca de 91,5% do S total na solução do solo. No entanto, observou-se que até 17 dias a 20 cm, e a partir de 37 d após a aplicação do gesso em 60 cm, as taxas de gesso reduzida a proporção de SO 4 2- livre. Isso potencializa a formação de pares iônicos e, consequentemente, a lixiviação, pois os pares iônicos CaSO4° e MgSO 4° têm uma carga neutra e, portanto, são facilmente transportadas junto com a água da chuva. Ercoli et al. (2012) salientam que o S disponível na solução do solo apresenta dois caminhos predominantes: para ser absorvido pelas plantas ou lixiviado em conjunto com a água da chuva.
Figura 4. Proporção de sulfato livre (SO 4 2- ) na solução do solo a 20 cm (a) e 60 cm (b) de profundidade após a aplicação de diferentes doses de gesso agrícola para o suprimento de enxofre (S). * diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. ns = não houve diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. LSD = menor diferença significativa entre as doses avaliadas, a cada tempo, independentemente da profundidade do solo, a um nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.
Figura 5. Distribuição das espécies de sulfato químico na solução do solo nas profundidades de 20 e 60 cm durante o período de monitoramento.
Os principais pares iônicos de SO 4 2‒ na solução do solo foram formados com Ca 2+ e Mg 2+ (CaSO 4 ° e MgSO 4 °), representando 4,2% e 4,1% do sulfato total, respectivamente (Figuras 5 e 6). Estes três espécies químicas (livre de SO 4 2- , CaSO 4 ° e MgSO 4 °) soma-se 99,8% do teor total de S da solução do solo. A formação de pares iônicos principalmente com cátions divalentes (Ca 2+ e Mg 2+) ocorre devido a sua maior concentração e valência em relação aos demais cátions e sua maior afinidade pelo sulfato. Além dessas três espécies principais, também foram observados traços de KSO4– ( Figura 5). Com a aplicação de gesso, a diminuição da percentagem de livre SO 4 2-associado com o aumento dos CaSO 4 ° a 20 cm de profundidade ocorre por causa da adição directa desses iões presentes no gesso agrícola, afectar significativamente a distribuição de os formulários S. As taxas de gesso resultaram em uma menor proporção de SO 4 2- livre também na subsuperfície (60 cm) (Figura 4 (b)). Em contraste, a proporção de CaSO 4° e MgSO 4 ° aumentaram em ambas as camadas de solo após 37 dias, com aumentos de 2,4% e 2,0%, respectivamente, para a maior dose de gesso aplicado em comparação ao tratamento controle (Figura 6 (b, d)). Embora tenha havido diferenças significativas ( p <0,05) em alguns períodos de amostragem, a proporção de KSO 4 – foi muito baixa e pouco afetada pelas taxas de gesso (Figura 6 (e, f)).
Figura 6. Proporção de sulfato na forma de CaSO 4 ° na solução do solo a 20 cm (a) e 60 cm (b) de profundidade, proporção de sulfato na forma de MgSO 4 ° na solução do solo a 20 cm (c ) e 60 cm (d) de profundidade, e proporção de sulfato na forma de KSO 4 – na solução do solo a 20 cm (e) e 60 cm (f) de profundidade após a aplicação de diferentes doses de gesso agrícola para o fornecimento de enxofre (S). * diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. ns = não houve diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. LSD = menor diferença significativa entre as doses avaliadas, a cada tempo, independentemente da profundidade do solo, a um nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.
Espécies químicas de Ca na solução do solo
A aplicação de gesso resultou em um intenso movimento de Ca no perfil do solo, afetando as proporções de Ca livre (Ca2+ livre ) e Ca ligado ao sulfato (CaSO4°) (Figura 7). Era esperado porque um dos principais constituintes do gesso é o Ca. Aos 17 dias após a aplicação da maior taxa de gesso, houve um aumento de aproximadamente 6% na proporção da espécie CaSO 4 °, em relação ao controle, a 20 cm de profundidade (Figura 7 (a)). Isso demonstra sua alta mobilidade e potencial de lixiviação no solo, uma vez que esta espécie teve um aumento significativo ( p<0,05) em sua concentração mesmo a 60 cm de profundidade. Este aumento também foi observado 76 d após a aplicação da maior taxa de gesso, sendo 8,5% maior que o controle (Figura 7 (b)).
Figura 7. Proporção de Ca na forma de CaSO 4 ° na solução do solo a 20 cm (a) e 60 cm (b) de profundidade, e proporção de Ca livre na solução do solo a 20 cm (c) e 60 cm ( d) profundidade após a aplicação de diferentes doses de gesso agrícola para o suprimento de enxofre (S). * diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. ns = não houve diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. LSD = menor diferença significativa entre as doses avaliadas, a cada tempo, independentemente da profundidade do solo, a um nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.
A proporção de Ca 2+ livre também foi alterada pelas diferentes taxas de gesso (Figura 7 (c, d)). Embora tenham sido observadas diferenças significativas entre os tratamentos em alguns períodos de avaliação, esse efeito não foi tão pronunciado a 20 cm de profundidade (Figura 7 (c)). No entanto, a 60 cm de profundidade, a maior taxa de gesso aplicada diminuiu a proporção deste cátion livre em 7% ( Figura 7 (d)), corroborando com o aumento da proporção de CaSO4° (( Figura 7 (b)). Isso demonstra a possibilidade útil de usar esse condicionador de solo como uma forma de induzir o movimento do Ca para dentro do perfil do solo (Caires et al., 2011) e melhorar o ambiente químico para o crescimento da raiz e disponibilidade de nutrientes nas camadas mais profundas do solo.
Espécies químicas Mg em solução do solo
Logo após a aplicação do gesso agrícola (9 e 17 dias após), houve aumento na proporção de Mg ligado ao sulfato (MgSO 4 °) na solução do solo a 20 cm de profundidade (Figura 8 (a )). Embora o gesso agrícola possa conter apenas uma concentração muito baixa de Mg em sua composição, o Ca adicionado através do gesso pode ter deslocado o Mg dos locais de troca do solo para a solução, onde formou o par iônico com o SO42-.
Isso resultou no aumento de 4,0% e 4,8% do MgSO 4° forma na solução a 20 cm de profundidade 9 e 17 d após a aplicação do gesso, com diminuição da proporção desta forma nesta profundidade após este período. Como esta forma diminuiu na solução a 20 cm de profundidade, sua proporção foi aumentada na solução a 60 cm de profundidade (Figura 8 (b)), de acordo com as taxas de gesso, atingindo um máximo de aproximadamente 7,0% a 76 d com a aplicação de 20 kg S ha- 1 . A proporção de Mg 2+livre na solução do solo diminuiu em profundidade (Figura 8 (d)), com uma redução de 6,8% desta espécie com a dose mais alta de gesso aplicado (20 kg ha −1 de S).
Figura 8. Proporção de Mg na forma de MgSO 4 ° na solução do solo a 20 cm (a) e 60 cm (b) de profundidade, e proporção de Mg livre na solução do solo a 20 cm (c) e 60 cm ( d) profundidade após a aplicação de diferentes doses de gesso agrícola para o suprimento de enxofre (S). * diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. ns = não houve diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. LSD = menor diferença significativa entre as doses avaliadas, a cada tempo, independentemente da profundidade do solo, a um nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.
Estes resultados demonstram o alto potencial de lixiviação desses cátions, especialmente em solos arenosos após a aplicação do gesso. A alteração da dinâmica do Mg 2+ no perfil do solo com aplicação de gesso é resultado da maior mobilidade deste íon quando são aplicadas altas doses de gesso agrícola. Embora já se conheçam os principais danos potenciais relacionados à perda de Mg no perfil causado pela aplicação de grandes quantidades de gesso em solos argilosos, o presente estudo demonstra e reitera a importância de ser cauteloso com a aplicação de até pequenas doses de gesso (até 20 kg ha- 1 de S) em solos arenosos.
Essa mobilidade de Mg 2+ pode representar um problema para o manejo da fertilidade do solo e limitar a taxa de gesso, principalmente em solos arenosos (<20% de argila). A recomendação atual para o Cerrado brasileiro e o Paraná para calcular a taxa de gesso visando reduzir a saturação de Al e melhorar o perfil do solo leva em consideração o teor de argila (%) multiplicado pela constante 50. Em nosso estudo, a taxa máxima foi de 125. kg ha- 1 de gesso agrícola, uma vez que se destinava apenas a suprir a demanda de S. Se o gesso fosse usado para reduzir a acidez subsuperficial, a dose recomendada seria de 700 kg ha- 1para este solo, ou seja, essa taxa aumentaria muito o potencial de causar excessiva lixiviação de Mg. Além disso, no Brasil, observa-se ao nível do campo uma defasagem em relação às doses recomendadas pelos órgãos oficiais e àquelas efetivamente utilizadas pelos agricultores, com tendência a utilizar doses muito superiores às necessárias.
Em solos ácidos brasileiros, a maior parte do Mg veio da correção da acidez por calcários dolomíticos ou magnesianos, que também aumentam a capacidade de troca catiônica do solo e permitem que o Mg seja retido nas cargas elétricas negativas dos colóides. No entanto, em geral, os solos arenosos também têm baixo poder de tamponamento e, com pequenas quantidades de calcário, ocorrem aumentos significativos no pH do solo. Isso reitera o risco do uso de aplicações contínuas, bem como altas doses de gesso no solo, o que pode ocasionar perdas potenciais de Mg 2+ e, consequentemente, a deficiência deste nutriente nas plantas, causando redução na produtividade das culturas.
Espécies químicas de K na solução do solo
As formas de K na solução do solo a 20 cm de profundidade apresentaram comportamento semelhante ao Ca e Mg, mas com efeito muito menos pronunciado (Figura 9). A aplicação de gesso causou um ligeiro aumento na proporção de K ligado ao SO 4 2- , mas não significativo (p> 0,05), acompanhado de uma ligeira diminuição da sua forma livre (K + ) a 20 cm de profundidade (Figura 9 (a , c)). Este último, embora significativo (p <0,05) aos 9 e 17 dias após a aplicação do gesso, apresentou decréscimos quantitativos mínimos, reduzindo apenas 0,2% deste cátion na forma livre (Figura 9 (c )).
Figura 9. Proporção de K na forma de KSO 4 – na solução do solo a 20 cm (a) e 60 cm (b) de profundidade, e proporção de K livre na solução do solo a 20 cm (c) e 60 cm ( d) profundidade após a aplicação de diferentes doses de gesso agrícola para o suprimento de enxofre (S). * diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. ns = não houve diferença significativa entre as taxas de gesso em p <0,05. LSD = menor diferença significativa entre as doses avaliadas, a cada tempo, independentemente da profundidade do solo, a um nível de significância de 5% pelo teste de Tukey.
O efeito das taxas de gesso nas formas de K na solução do solo a 60 cm de profundidade (Figura 9 (b , d)) foi semelhante ao observado a 20 cm de profundidade. A maior taxa de gesso (20 kg S ha- 1) aumentou a proporção de K+ ligado a SO42- (Figura 9 (b)) e diminuiu o K + livre (Figura 9 (d)). Embora não houvesse uma diferença significativa na maior parte das observações, mostrando uma redução de KSO 4 –espécies, estas diferenças não atingiram 1%. Isso destaca a maior afinidade do SO 4 2-com Ca e Mg quando comparado ao K, principalmente em função da valência (+2) e do raio iônico desses cátions (Sposito 2008). Embora existam estudos como Caires et al. (2011), o que demonstra uma redução de K disponível no solo até 40 cm de profundidade após a aplicação de gesso em grandes quantidades (até 12 Mg ha-1), vários outros estudos (Caires et al. 2002) demonstram o efeito de lixiviação muito mais pronunciada para catiões divalentes de base, e um efeito mínimo de lixiviação que acompanha a K+ Íon.
Conclusões
A aplicação superficial de gesso em solo arenoso (14% de argila) com baixa capacidade de troca catiônica (8,7 cmol c kg −1 ) como fonte de S promove rápido aumento no teor de sulfato na solução do solo a 20 cm de profundidade em breve após o primeiro evento de chuvas (9 d), especialmente na forma livre, seguido por formas ligadas a Ca e Mg.
O aumento de Ca e Mg é temporário e em menos de 30 dias o efeito da aplicação de gesso na solução do solo a 20 cm de profundidade é mínimo, com aumento do teor de sulfato na solução do solo a 60 cm após 17 d, principalmente na forma livre, seguida pelas formas ligadas a Ca e Mg. Estes resultados demonstram que a adubação com sulfato de gergelim agrícola afeta a dinâmica dos cátions de Ca e Mg na solução do solo, garantindo-lhes mobilidade no perfil do solo e atingindo camadas mais profundas do solo.
A dinâmica do K é pouco influenciada pela aplicação do gesso agrícola, com menor risco de induzir a deficiência de K nas plantas para as doses testadas. Taxas de S via gesso agrícola superiores a 10 kg ha-1 alteram a dinâmica do Mg, deslocando-o da fase sólida para a solução, conferindo mobilidade ao Mg no perfil do solo.
A aplicação de S via gesso agrícola em solos arenosos com baixa capacidade de troca catiônica deve ser combinada com o uso de fertilizantes contendo Mg, a fim de manter níveis adequados desse nutriente no solo.
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