A fase de enchimento de grãos (R5-R6) na cultura da soja é um período crucial para o acúmulo de matéria seca e nutrientes nos grãos, começando quando eles atingem cerca de 3 mm de comprimento e terminando quando estão completamente preenchidos no interior do legume. Durante essa fase, a planta atinge o máximo índice de área foliar, o desenvolvimento pleno das raízes e a maior fixação de nitrogênio pelas bactérias dos nódulos. Com alta demanda hídrica, que varia de 5 a 7 mm por dia, o déficit de água pode impactar negativamente, reduzindo o peso dos grãos e a produtividade.
A translocação dos fotoassimilados para os grãos acontece intensamente nessa etapa, mas é acompanhada de desafios fitossanitários. Pragas como percevejos e lagartas podem causar danos significativos, seja pelo abortamento de grãos no início do enchimento, seja pela redução do peso de mil grãos e da qualidade fisiológica das sementes no final dessa fase. O monitoramento constante, utilizando métodos como o pano-de-batida, é essencial para determinar o momento ideal para intervenções químicas. Além disso, ácaros, tripes e doenças como a ferrugem asiática e as chamadas doenças de final de ciclo (DFCs) merecem atenção especial (Figura 1).
Figura 1. Legume de soja com dano causado por ataque de lagarta (A), legume e grão com dano por ataque de percevejo (B).

A aplicação de fungicidas durante a fase de enchimento de grãos é uma estratégia amplamente utilizada para reduzir o impacto das doenças. É importante planejar bem os programas de controle químico, priorizando misturas de triazóis e estrobilurinas e evitando o uso de carboxamidas devido à resistência de fungos. Produtos multissítios complementam o manejo, oferecendo proteção contra a ampla pressão de doenças nesse período. É fundamental também evitar misturas de produtos que possam causar fitotoxicidade, um risco maior devido ao alto fluxo de nutrientes para os grãos.
Ao avançar para a maturação fisiológica (R7-R8), os grãos atingem o máximo acúmulo de matéria seca, as plantas param de absorver água e nutrientes, e os legumes começam a perder a coloração verde até alcançarem a umidade ideal para colheita (13 a 15%). Embora os componentes principais de rendimento já estejam definidos, o ataque de percevejos pode comprometer a qualidade das sementes, justificando o manejo em lavouras destinadas à produção de sementes. Em sistemas de produção com cobertura do solo, práticas como a sobressemeadura com espécies como aveia e nabo forrageiro auxiliam na ciclagem de nutrientes e na proteção do solo, promovendo um manejo sustentável.
Nos sistemas produtivos de regiões onde a estação seca é bem definida e há o cultivo de uma segunda safra, como milho ou algodão, é comum a dessecação da soja na maturação fisiológica (após R7), visto que há um elevado risco de ocorrer deficiência hídrica no final do ciclo. Dessa forma, para encurtar o ciclo da cultura e ampliar a janela de semeadura é utilizada essa prática. Já em locais com excesso hídrico, cultivares tolerantes à umidade são recomendadas para evitar problemas como germinação antecipada e apodrecimento dos grãos antes da colheita. Essas práticas garantem maior eficiência produtiva e sustentabilidade no manejo da cultura da soja (Figura 2).
Figura 2. Germinação de grãos de soja na lavoura antes da colheita.

A fase de enchimento de grãos e a maturação fisiológica representam etapas decisivas no ciclo da soja, sendo diretamente responsáveis pela definição do potencial produtivo e da qualidade do grão. Para alcançar bons resultados, é indispensável o manejo integrado de pragas, doenças e condições ambientais, além da utilização de tecnologias adequadas e estratégias sustentáveis.
Referências bibliográficas
Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades. 2. ed. Santa Maria, 2022