Para evitar a sucessão de culturas e agregar os benefícios da rotação de culturas ao sistema de produção é fundamental buscar alternativas de cultivo que possibilitem o cultivar a área de produção o ano inteiro, em especial nos períodos de entressafras das culturas de verão. Dentre os benefícios da rotação de culturas, destacam-se o controle de plantas daninhas, a eliminação de plantas hospedeiras de patógenos e insetos, a adubação de sistema, melhorias estruturais do solo, proteção do solo contra erosões superficiais entre outros.
Visando culturas para a produção de cobertura para o solo, algumas forrageiras apresentam características desejáveis ao sistema de produção, além de produzirem matéria seca, auxiliam na descompactação do solo e na ciclagem de nutrientes. Uma dessas culturas é a ervilhaca comum (Vicia sativa. L), que conforme descrição de FONTANELE (2010), é uma leguminosa anual de inverno, cultivada principalmente nas regiões sul do Brasil e que apresenta aptidão para consorcio com forrageiras gramíneas como azevém e aveia preta. Sua principal finalidade é servir como cobertura do solo e adubação verde.
Figura 1. Ervilhaca (Vicia sativa .L)

Segundo GIACOMINI et al, (2003), a ervilhaca apresenta capacidade de fixar nitrogênio atmosférico (N2) o que torna o cultivo da planta atraente quando pensada na forma de adubação verde para culturas sucessoras exigentes em nitrogênio, como por exemplo o milho. Além disso, os autores ainda destacam a importância de consorciar a cultura, uma vez que em decorrência da baixa relação C/N a cultura apresenta rápida decomposição. Fato que por um lado é bom por apresentar rápida disponibilização dos nutrientes da fitomassa para as plantas, contudo por outro lado deixa o solo descoberto e sujeito a erosões. Também é interessante trabalhar a consorciação de culturas com plantas como o nabo forrageira, que atua na descompactação do solo além de ciclar nutrientes do solo.
Veja também: Plantas de cobertura na entressafra – importância e benefícios
Avaliando o efeito de cultivos isolados e consorciados de aveia preta, ervilhaca e nabo forrageiro, GIACOMINI et al. (2003), obtiveram resultados que demonstram o acúmulo de Nitrogênio superior a 100 kg.ha-1 quando cultivada a ervilhaca, conforme demonstrado na figura 2. Além disso, resultados satisfatórios foram encontrados para o acúmulo de Nitrogênio em consórcios de ervilhaca com aveia preta e nabo e aveia preta.
Figura 2. Acúmulo de nitrogênio na matéria seca da parte aérea de plantas de cobertura, em cultivo isolado e consorciado, em 1998.

Adaptado: GIACOMINI et al. (2003).
Outra vantagem da consorciação da ervilhaca principalmente com gramíneas é a produção de massa seca, tendo em vista a maior relação C/N das gramíneas, a palhada tende a permanecer por mais tempo na superfície do solo. Apesar da enorme contribuição que a ervilhaca atribui ao sistema pela fixação de nitrogênio, seu uso como cultivo solteiro não é amplamente recomendado, uma vez que sua produção de massa seca é pequena e sua degradação é rápida. Valores de massa verde e massa seca de raízes e parte aérea de ervilhaca, bem como o comprimento médio de folhas e raízes foram avaliados por FABIAN, et al. (2016) e estão apresentados na tabela 1.
Tabela 1. Valores médios de comprimento foliar e radicular, massa verde e massa seca foliar e radicular de ervilhaca.

Apesar da baixa produção de matéria seca, quando utilizada de forme correta no sistema de produção, a ervilhaca contribui consideravelmente no aumento de produtividade de culturas responsivas ao nitrogênio, fato este evidenciado por HEINRICHS et al (2001), onde avaliando a resposta de produtividade do milho em sucessão ao cultivo de ervilhaca, aveia e o consorcio de ambas, a maior produtividade de milho foi observada no cultivo após a ervilhaca.
Sendo uma cultura com potencial contribuição para o sistema de produção, cabe destacar que o cultivo da ervilhaca em especial quando consorciada com gramíneas apresenta grandes benefícios ao sistema, sendo uma planta de cobertura muito interessante de se trabalha, além disso, seu cultivo auxilia na diminuição de custos de produção com adubação nitrogenada de cobertura, principalmente no milho sucessor a ervilhaca.
Referências:
FONTANELI, R. MULTIMÍDIA: BANCO DE IMAGENS, Embrapa, 2010. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-imagens/-/midia/3820001/ervilhaca>, acesso em: 06/05/2020.
GIACOMINI, S. J. MATÉRIA SECA, RELAÇÃO C/N E ACÚMULO DE NITROGÊNIO, FÓSFORO E POTÁSSIO EM MISTURAS DE PLANTAS DE COBERTURA DE SOLO. R. Bras. Ci. Solo, 27, p.325-334, 2003.
FABIAN, F. J. et al. BIOMASSA FOLIAR E RADICULAR DA LEGUMINOSA ERVILHACA. Anais da X Seagro, FAG, Cascavél, 2016.
HEINRICHS, R, et al. CULTIVO CONSORCIADO DE AVEIA E ERVILHACA: RELAÇÃO C/N DA FITOMASSA E PRODUTIVIDADE DO MILHO EM SUCESSÃO. R. Bras. Ci. Solo, 25, p.331-340, 2001.
Redação: Maurício Siqueira dos Santos – Eng. Agrônomo, equipe Mais Soja.