O objetivo do trabalho foi avaliar o espectro de gotas e a eficácia da dessecação de herbicidas associados a adjuvantes, em pré-colheita de campos de semente de soja (cultivar RK6719).

Autores: SÉRGIO M. SILVA1, DAVI C. MARTINS2, VITÓRIA C. P. L. A. FRANÇA3, MARIANA R. BUENO4, ANDERSON B. EVARISTO5

Introdução

Trabalho disponível nos Anais do Evento e publicado com o consentimento dos autores.

Uma alternativa para reduzir a deterioração das sementes de soja nos campos de produção é a aplicação de herbicidas visando a dessecação rápida da planta, possibilitando a antecipação da colheita, sem comprometer a qualidade fisiológica das sementes (PEREIRA et al., 2015). Os herbicidas usados nessa prática podem ter diferentes modos de ação, causando diferentes porcentagens de fitointoxicação e desfolha, conforme a dose utilizada (COSTA et al., 2018). Por outro lado, certos herbicidas usados em dessecação pré-colheita podem deixar resíduos, levando à redução do vigor ou da germinação das sementes (DALTRO et al., 2010), fato esse não desejado. No preparo de caldas herbicidas, os adjuvantes desempenham importante função, melhorando a eficácia biológica dos produtos, assim como a qualidade da aplicação (CUNHA et al., 2010). Tais compostos podem promover melhorias no espalhamento, no molhamento, na aderência das gotas ao alvo, na redução de espuma e na penetração (COSTA et al., 2005).

Adjuvantes à base de óleo vegetal agem na penetração dos produtos, aumentando sua absorção, devido à ação direta na cutícula. Já os condicionadores de calda podem proporcionar maior homogeneização da calda e maior uniformidade no espectro de gotas. Em vista disso, não se sabe se a eficácia de caldas herbicidas, contendo adjuvantes com propriedades penetrantes, pode ser potencializada e levar à intoxicação da semente, com riscos ao embrião. Também há dúvidas se herbicidas aplicados em menores doses, na presença de adjuvantes penetrantes, poderiam apresentar semelhante eficácia às maiores doses. Portanto, o presente trabalho objetivou avaliar o espectro de gotas e a eficácia da dessecação de caldas herbicidas associadas a adjuvantes, em pré-colheita da soja.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido em campo de sementes de soja, pertencente à Fazenda Bela Vista, Município de Bonfinópolis de Minas, MG, safra 2018/2019. A cultivar de soja RK6719 (KWS) foi semeada com linhas espaçadas de 0,5 m e densidade populacional de 360 mil plantas ha-1. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com 4 repetições, em esquema fatorial 2x2x2+1, sendo os fatores: herbicidas (diquat e o glufosinato de amônio), doses de herbicidas (100% e 50% do i.a. ha-1) e adjuvantes (espalhante adesivo óleo vegetal a base de d-limoneno; nome comercial: Orlist, SuperAgro, 0,5% v/v; condicionador de calda, com ação molhante e tensoativa; nome comercial: GoodSpray, Forquímica, 0,5% v/v), além da testemunha sem aplicação.

As parcelas foram constituídas de 20 m2, sendo 8 linhas de plantas com 5 m de comprimento cada. A aplicação dos tratamentos foi realizada no estádio R7.3 (mais de 75% de folhas e vagens amarelas). Para isso, foi utilizado um pulverizador costal acionado por pressão de CO2, com barras contendo quatro pontas espaçadas entre si por 0,5 m. Foram utilizadas pontas de pulverização de jato plano AIXR 11002na pressão constante de 200 kPa, velocidade de trabalho de 4 km h-1 e taxa de aplicação de 195 L ha-1. As condições ambientais durante as aplicações foram monitoradas por meio de um termo-higro-anemômetro digital (AKROM KR825), sendo registrados médias de temperatura de 28oC, umidade relativa de 58% e velocidade do vento de 4 km h-1. Foi avaliado o espectro de gotas pulverizadas em cada tratamento, por meio de papéis hidrossensíveis com dimensões de 76 x 26 mm (Spraying Systems Co., Wheaton, U.S.A). Antes da pulverização, foram colocados dois papéis hidrossensíveis por parcela, fixados na região superior da planta, em posição horizontal e voltados para cima.

Posteriormente, em laboratório, foram quantificados e caracterizados os impactos das gotas nos papéis por meio de digitalização com um scanner e análise em programa computacional Cir, sendo determinado o diâmetro da mediano volumétrico (DMV), a amplitude relativa (AR) e a densidade de gotas (gotas por cm2). O efeito da dessecação da cultura da soja foi realizado visualmente aos 2, 8 e 15 dias após aplicação (DAA), conforme metodologia da SBCPD (1995), onde comparou-se a ação dessecante exercida pelos tratamentos em relação à testemunha sem aplicação, no qual “0” correspondeu à ausência de sintomas e “100%” à morte da planta. Os dados de campo de avaliação visual de dessecação e espectro de gotas foram submetidos ao teste F por meio da análise de variância, a comparação das médias pelo teste de Tukey e um contraste com o tratamento adicional pelo teste de Dunnett, ambos a 0,05 de significância.

Resultados e Discussão

O fator dose dos herbicidas não influenciou no espectro de gotas e na eficácia de dessecação. Por outro lado, houve interação significativa entre herbicidas e adjuvantes para o diâmetro da mediano volumétrico (DMV). Nesse caso, o tratamento contendo diquat associado ao espalhante adesivo apresentou o menor DMV, alterando a classe do tamanho das gotas (Tabela 1). O maior DMV foi obtido com o mesmo herbicida, porém associado ao condicionador de calda. As caldas contendo glufosinato de amônio e os adjuvantes não diferiram estatisticamente para a variável DMV. Com isso, é possível observar que a interação entre os produtos e adjuvantes, possivelmente, levam a mudanças nas propriedades físico-químicas das caldas, e consequentemente, no espectro de gotas (CUNHA et al, 2010).

Segundo Antuniassi (2009), a utilização de óleos nas caldas tem como função principal de melhorar a penetração e adesão dos defensivos nas folhas, estes são indicados em condições climáticas extremas como temperaturas altas e baixa umidade relativa do ar e com folhas espessas, por facilitarem mais a penetração. Os óleos ainda podem favorecer o espalhamento e a absorção por apresentarem uma porcentagem variável de surfactante em sua composição, em média de 5 a 9%, reduzindo a taxa de degradação do agrotóxico e a tensão superficial da calda (ARAÚJO; RAETANO, 2011). Um ponto importante que foi observado durante o preparo das caldas, apesar de não ter sido um dos fatores avaliados, foi a presença de espuma em todos os tratamentos com o adjuvante espalhante adesivo, o que não foi observado na presença do condicionador de calda.

A formação de espuma não é desejada durante o preparo da calda, devido ao volume maior de ar ocupado no tanque de pulverização, o que dificulta o processo de formação de gotas, levando à perda do produto. Já a amplitude relativa das gotas não apresentou diferença significativa entre os fatores, mostrando assim que os espectros de gotas foram homogêneos, apesar da diferença significativa entre o DMV de cada tratamento (Tabela 2).

Tabela 1. Médias do diâmetro da mediana volumétrica (DMV) dos tratamentos, obtidas após análise do espectro de gotas em papel hidrossensível.

Tabela 2. Amplitude relativa de gotas pulverizadas de caldas contendo diferentes doses de herbicidas e adjuvantes.

Quanto à densidade de gotas, não foi obtida interação entre os fatores, apresentando diferença apenas entre os adjuvantes. Foi observado que o número de gotas por área (cm2) foi maior na presença do espalhante adesivo (Tabela 3), em relação ao condicionador de calda. Silva (2013) relata que o processo de formação das gotas pode ser significativamente alterado pelo uso de certas formulações e pela adição de adjuvantes, visto que estes alteram características físicas e químicas das caldas.

Tabela 3. Médias do número de gotas por cm2 obtidas em papel sensível após aplicação dos tratamentos.

Em relação a dessecação, os adjuvantes não influenciaram nos efeitos dos herbicidas. Para essa característica, aos 2 e 8 dias após a aplicação, o herbicida diquat, devido ao seu mecanismo de ação, proporcionou significativamente a dessecação mais rápida da cultura, o que possivelmente pode antecipar a colheita da cultura.

Tabela 4. Médias de porcentagem de dessecação da cultura da soja após aplicação de diferentes doses de herbicidas associados a adjuvantes.

Conclusões

A presença do espalhante adesivo (óleo vegetal a base de d-limoneno) proporcionou a formação de gotas menores com o herbicida diquat e, por consequência, maior densidade de gotas depositadas em papéis hidrossensíveis. Esse herbicida acelerou o processo de dessecação, independente da dose e adjuvantes estudados.

Referências

ANTUNIASSI, U. R. Conceitos básicos da tecnologia de aplicação de defensivos para a cultura da soja. Boletim de Pesquisa de Soja 2009. Rondonópolis: Fundação Mato Grosso, v. 13, 2009. p. 299-317.

ARAÚJO, D.; RAETANO, C.G. Adjuvantes de produtos fitossanitários. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de aplicação para grandes culturas. Passo fundo: Aldeia Norte, 2011, p.27-49.

COSTA, N. V.; MARTINS, D.; RODELLA, R. A.; COSTA, L. D. N. C. pH foliar e deposição de gotas de pulverização em plantas daninhas aquáticas: Brachiaria mutica, Brachiaria subquadripara e Panicum repens. Planta Daninha, v. 23, n. 2, p. 295-304, 2005.

COSTA, A. G. F.; SEVERINO, L. S., SOFIATTI, V.; FREITAS, J. G. GONDIM, T. M. S., CARDOSO, G. D. Pré-harvest desiccation of castor crop using 2,4-D and glyphosate. Industrial Crops and Products, v. 122, p. 261-265, 2018.

CUNHA, J. P. A. R.; BUENO, M. R.; FERREIRA, M. C. Espectro de gotas de pontas de pulverização com adjuvantes de uso agrícola. Planta daninha, Viçosa, MG, v. 28, p.1153-1158, 2010.

DALTRO, E. M. F.; ALBUQUERQUE, M. C. F.; NETO, J. B. F.; GUIMARAES, S. C.; GAZZIERO, D. L. P.; HENNING, A. A. Aplicação de dessecantes em pré-colheita: efeito na qualidade fisiológica de sementes de soja. Revista Brasileira de Sementes, v. 32, n. 1, p. 111-122, 2010.

Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas – SBCPD. Procedimentos para instalação, avaliação e análise de experimentos com herbicidas. Londrina: 1995. 42p.

PEREIRA, T.; COELHO, C. M. M.; SOBIECKI, M.; SOUZA, C. A. Qualidade fisiológica de sementes de soja em função da dessecação pré-colheita. Planta Daninha, v.33, n.3, p. 441-450, 2015.

SILVA, A.C.A. Desempenho de adjuvantes na qualidade da aplicação e na retenção e translocação de fungicida na cultura da soja. Faculdade de Ciências Agronômicas. Tese (Doutorado), 67f, 2013.

Informações dos autores

1Engenheiro Agrônomo, Professor Adjunto, Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, UFVJM, Unaí/MG – Brasil, Fone (38) 999109683, sergio.macedo@ufvjm.edu.br;

2 Graduando do Curso de Agronomia, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, UFVJM, Unaí/MG;

3 Graduanda do Curso de Agronomia, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, UFVJM, Unaí/MG;

4 Engenheira Agrônoma, Coordenadora de Tecnologia de aplicação, Forquímica Agrociência Ltda, Alto Paranaíba/MG;

5Engenheiro Agrônomo, Professor Adjunto, Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, UFVJM, Unaí/MG.

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