Um estudo publicado pela Embrapa, em parceria com o Instituto Agronômico (IAC), apresenta o diagnóstico agroambiental dos municípios que abrigam os Distritos Agrotecnológicos (DAT) do projeto Semear Digital. A análise oferece uma base sólida para o planejamento de ações e políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável nessas localidades. A iniciativa, que integra tecnologias digitais, produção agrícola e conservação ambiental, tem o objetivo de conciliar a demanda por alimentos com a preservação do meio ambiente e a inclusão social no campo.

Produzido por especialistas da Embrapa e do IAC, o estudo detalha a distribuição geográfica, características edafoclimáticas e estrutura fundiária, além de traçar a evolução histórica da produção agropecuária e mapear a dinâmica de uso da terra desde 1985. O trabalho também identifica padrões de expansão e retração agrícola, avalia pastagens degradadas e aponta oportunidades para recuperação produtiva.
Os DAT do projeto Semear Digital estão distribuídos em 10 municípios de seis estados e quatro biomas: Mata Atlântica, com Alto Alegre (SP), Caconde (SP), Jacupiranga (SP), Lagoinha (SP), São Miguel Arcanjo (SP), Ingaí (MG) e Vacaria (RS); Amazônia, com Breves (PA); Cerrado, com Guia Lopes da Laguna (MS); e Caatinga, com Boa Vista do Tupim (BA).
“Caracterizamos 10 municípios distribuídos pelos biomas brasileiros. Trata-se de uma radiografia completa, integrando dados edafoclimáticos, fundiários, de produção agropecuária e de uso da terra desses territórios. A relevância está na possibilidade de identificação dos pontos de pressão e das oportunidades de conciliar produção agrícola e conservação”, informa o analista da Embrapa Meio Ambiente Gustavo Bayma. “Em nossa análise, utilizamos exclusivamente dados públicos, e a base completa que compilamos também está aberta e acessível ao público por meio do Repositório de Dados da Embrapa (Redape). Isso garante total transparência e permite que novas análises possam ser realizadas a partir deste trabalho”, complementa Bayma.
A integração desses dados diversos e sua análise revela que os territórios analisados não podem ser tratados de forma uniforme. Cada um apresenta combinações próprias de uso da terra, pressões produtivas e condições ambientais, que resultam em cenários bastante distintos. Nesse contexto, a diversidade, longe de ser um obstáculo, destaca a importância de políticas e iniciativas locais capazes de dialogar com as especificidades de cada região, conciliando desenvolvimento econômico e conservação ambiental. Essa conclusão é reforçada pelo pesquisador da Embrapa Agricultura Digital Édson Bolfe. “O diagnóstico, gerado a partir de bases de dados geoespaciais, demonstra que os municípios apresentam realidades altamente heterogêneas em termos de uso do solo, dinâmica agropecuária e conservação ambiental. Essa diversidade reforça a necessidade de políticas públicas locais diferenciadas”, salienta ele.
A mesma perspectiva é compartilhada pelo pesquisador do IAC Glauber Gava, para quem a parceria entre as instituições foi fundamental para o sucesso do estudo. “Esta colaboração permitiu unir expertises complementares em análise ambiental, agricultura digital e manejo do solo, resultando em um diagnóstico robusto e multidimensional. O IAC, com seu histórico em pesquisa agronômica, contribuiu significativamente para a análise das características edafoclimáticas e do potencial produtivo dessas importantes regiões”, afirma.
Dessa forma, o diagnóstico agroambiental oferece um retrato multidimensional dos DATs. O estudo evidenciou a diversidade ambiental e socioeconômica desses territórios, destacando desde a dinâmica histórica do uso da terra até oportunidades concretas para intensificação sustentável. Tais resultados reforçam a necessidade de políticas públicas diferenciadas que considerem as particularidades de cada território, oferecendo uma base sólida para orientar o desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira.
Aplicação prática
Sobre a aplicação prática do trabalho, a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e ponto focal do DAT de Jacupiranga (SP), Kátia Nechet, destaca que a compilação de informações é uma etapa crucial. “Este diagnóstico integrado é a base para todas as tratativas e atividades futuras nos DATs. Ele nos fornece um ponto de partida comum e embasado cientificamente para discutir, com o setor produtivo e o poder público, as melhores estratégias de intensificação sustentável e conservação ambiental específicas para cada território”, ressalta.
Com o levantamento, os pesquisadores reforçam que o diagnóstico agroambiental dos DATs vai além da simples geração de dados: trata-se de um instrumento estratégico para orientar decisões públicas, estimular a inovação no campo e promover um modelo de desenvolvimento agrícola capaz de aliar produtividade, conservação ambiental e inclusão social. Para Bayma, o valor do estudo está também em sua aplicação futura: “O diagnóstico serve como base para auxiliar a governança precisa dos DATs, orientando ações com evidências e permitindo o monitoramento do impacto das iniciativas de inovação sustentável”. A expectativa é que, ao oferecer uma base científica sólida e acessível, o estudo contribua para transformar os DATs em referências de sustentabilidade e inovação para a agricultura de pequenos e médios produtores brasileiros.
Os autores do estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), são: Gustavo Bayma (Embrapa Meio Ambiente), Edson Luis Bolfe (Embrapa Agricultura Digital, Glauber José de Castro Gava (IAC), Jener Fernando Leite de Moraes (IAC), Jane Maria de Carvalho Silveira (IAC), Isabella Clerici de Maria (IAC), Regina Célia de Matos Pires (IAC), Edson Eyji Sano (Embrapa Cerrados), Taya Cristo Parreiras (Unicamp), Claudinei Oliveira dos Santos (Acelen Renováveis S.A), Victória Beatriz Soares Leandro (Unicamp), Victória Hellena Matusevicius e de Castro (Unicamp), Phillipe Marques de Rezende (IAC) e Leticia Lopes Martins (IAC).
A publicação está disponível neste link.
A base de dados pode ser obtida no Repositório de Dados da Embrapa (Redape).
Fonte: Eliana Lima – Embrapa Meio Ambiente