Produzir sementes de soja de qualidade é uma tarefa complexa e desafiadora. Em lavouras destinadas a produção de sementes, tanto o manejo de pragas, quanto de doença e plantas daninhas é mais rigoroso em comparação a lavoura destinadas a produção de grãos, visando garantir a qualidade final das sementes, de seus atributos fisiológicos, físicos, sanitários e genéticos.
Um dos principais focos do manejo fitossanitário da soja é a ocorrência de pragas. Várias espécies de insetos podem causar perdas quantitativas e qualitativas na soja durante seu ciclo de desenvolvimento, requerendo um rigoroso monitoramento e manejo para garantir a manutenção da qualidade e produtividade da soja produzido.
Contudo, não só na lavoura que as pragas podem depreciar a soja. No pós-colheita da cultura, mais especificamente durante o armazenamento das sementes, algumas pragas podem causar danos diretos e indiretos sobre o produto armazenado. Com o intuído de controlar essas pragas no armazenamento, um dos métodos de controle mais utilizados é o expurgo. O expurgo é uma prática usada para eliminar todas as pragas que infestam as sementes armazenadas mediante uso de um gás. O gás registrado no país para expurgo de sementes é a fosfina (PH3), que pode ser usado em lotes de sementes ensacadas ou a granel em silos e armazéns (Krzyzanowski et al., 2012).
A fosfina (PH3, proveniente de fosfeto de alumínio ou de magnésio) é um biocida geral, um gás altamente tóxico, que é liberado na presença de umidade do ar, sendo eficaz no controle de todas as fases (ovo, larva, pupa e adultos) das pragas de grãos e sementes armazenadas (Lorini et al., 2015). O gás liberado ou introduzido no interior do lote de sementes deve ficar nesse ambiente em concentração letal para as pragas, devendo-se para tanto, realizar o isolamento da área com lonas apropriadas (Lorini et al., 2015).
Figura 1. Expurgo com fosfina em um lote de sementes de soja com uso da lona plástica específica para expurgo. A) lote de sementes a ser expurgado, B) lona de expurgo colocada sobre o lote de sementes, C) detalhe da vedação da lona de expurgo junto a base com colocação de “cobras de areia”, D) detalhe da vedação na confluência das laterais na base do lote.

Embora seja uma das práticas mais eficientes para o controle de pragas no armazenamento de sementes, uma das principais preocupações ao realizar o expurgo é sua interferência na qualidade fisiológica das sementes de soja. Levando em consideração que germinação e vigor são alguns dos atributos fisiológicos mais visados em soja, fatores que possam reduzir a esses atributos são indesejáveis.
Visando analisar a possível interferência do expurgo da soja com fosfina em sua qualidade fisiológica, estudos foram desenvolvidos pela Embrapa Soja, avaliando o efeito de diferentes concentrações de fosfina sobre a qualidade fisiológica das sementes de soja. Foram selecionadas duas cultivares com dois níveis de vigor por cultivar, determinado por meio do teste de tetrazólio. Na cultivar Embrapa 48 os índices de vigor eram 93% e 82% e na cultivar CD202 os índices de vigor eram 69% e 62%, tendo sido usado as concentrações de 1,0; 2,0 e 3,0 g de PH3 m-3, conseguidas pela aplicação de 3,0; 6,0 e 9,0 g do produto comercial Fertox® (Lorini et al., 2013).
Durante a condução do estudo, monitorou-se a concentração de fosfina nos diferentes tratamentos, sendo observado que mesmo a dose mais baixa, manteve a concentração superior aos 400 ppm, que é a referência técnica de concentração mínima para a eliminação de todas as fases dos insetos praga (Lorini et al., 2013).
Conforme resultados apresentados por Lorini et al. (2013), para ambas as cultivares analisadas, independentemente da dose de fosfina, não foram observadas diferenças estatísticas que demonstrassem influência do expurgo sobre a qualidade fisiológica das sementes, sendo portanto, considerada uma prática não nociva à qualidade fisiológica das sementes.
Tabela 1. Efeito do expurgo com diferentes níveis de fosfina sobre o desempenho fisiológico de sementes de Embrapa 48.

Tabela 2. Efeito do expurgo com diferentes níveis de fosfina sobre o desempenho fisiológico de sementes de CD202.

Os autores concluem ainda que o expurgo de sementes de soja com fosfina pode ser realizado com um período de exposição de 168 horas sem que haja qualquer prejuízo na qualidade fisiológica. Logo, desde que seguidas as recomendações técnicas para a cultura e prática do expurgo, maiores danos não são observados sobre a qualidade fisiológica das sementes de soja.
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Referências:
KRZYZANOWSKI, F. C. et al. EFEITO DO EXPURGO COM FOSNIFA NA QUALIDADE FISIOLÓGICA DA SEMENTE DE SOJA. VI Congresso Brasileiro de Soja, Cuiabá, MT, 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/62510/1/404-s108.pdf >, acesso em: 22/03/2023.
LORINI, I. et al. EXPURGO DA SEMENTE DE SOJA COM FOSFINA E SEU EFEITO NA QUALIDADE FISIOLÓGICA – SÉRIE SEMENTES. Embrapa, Circular Técnica, n. 97, 2013. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/89855/1/CT97-online.pdf >, acesso em: 22/03/2023.
LORINI, I. et al. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE GRÃOS E SEMENTES ARMAZENADAS. Embrapa, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/129311/1/Livro-pragas.pdf >, acesso em: 22/03/2023.
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