A soja destaca-se por ser uma cultura amplamente cultivada em todo o território brasileiro, e por isso, em todo o seu ciclo é suscetível a doenças, condições ambientais desfavoráveis, ataque de pragas e competição com plantas daninhas.
Sabendo disso, as doenças se manifestam na lavoura quando há relação entre três fatores: cultura suscetível, condições de ambiente favoráveis e a presença do agente causal (fungos, bactérias…), conhecido como o Triângulo da doença.
Na safra atual 2023/2024, o clima mostrou-se favorável para o desenvolvimento da doença da Ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, preocupando produtores de soja pela sua rápida disseminação e alto potencial de dano, registrando perdas de até 90% de acordo com a Embrapa.
Condições ambientais e disseminação
O fungo Phakopsora pachyrhizi é o agente causal da ferrugem da soja, sendo conhecida e temida pelos produtores de soja de todo país, em vista da sua rápida disseminação. O fungo possui os uredosporos, esporos assexuais, que são alastrados facilmente para lavouras vizinhas ou a longas distâncias através do vento. Esses esporos assexuais são sintetizados no interior das urédias (estrutura responsável pela reprodução do fungo) e são os agentes principais da disseminação da doença (Yorinori et al 2004).
Com a presença dos esporos na lavoura e em contato com a folha da soja, havendo condições favoráveis, esses esporos germinam ocorrendo o rompimento da epiderme e a penetração do fungo que passa a colonizar o tecido da folha.
Sendo que, a incidência dessa doença está fortemente relacionada com as altas temperaturas e pela frequência regular de chuvas ao longo de todo o ciclo da cultura.
As condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo registram uma temperatura ótima entre 15 a 28°C e no mínimo 6 a 12 horas de molhamento foliar, com esse cenário de clima e molhamento foliar, em torno de 5 dias após a penetração do fungo já é possível identificar os primeiros sintomas na face abaxial da folha que são pontos escurecidos de 1 a 2 mm.
Efeitos da Ferrugem na soja
Em qualquer estádio de desenvolvimento da cultura da soja pode haver a manifestação de sintomas podendo ser em diferentes locais da planta. Em um primeiro momento, a infecção inicial da lavoura pode ser visualizada nas folhas do terço inferior da planta, popularmente conhecido como baixeiro, tendo a presença de erupções de coloração escura na face abaxial da folha.
Seguidamente, após essa colonização inicial pelo fungo, a evolução da doença atinge tanto a face inferior como superior da folha com lesões escurecidas, indicando a morte das células pelo fungo. Com essas lesões, a folha adquire uma coloração característica, amarelada-escurecida que com o passar do tempo essa folha cairá prematuramente, causando a desfolha precoce da soja, sendo o principal dano na cultura.
A ferrugem asiática completa seu ciclo de vida, em condições favoráveis, de 6 a 9 dias, ou seja, a cada um destes intervalos, novos esporos da doença são produzidos na lavoura, aumentando a severidade da doença. Por este motivo, para ser mais assertivo no manejo, se faz necessário aplicações de fungicidas em intervalos mais curtos, o que faz com que aumente o número de aplicações no ciclo da cultura, e automaticamente, o custo de produção.
Uma vez que a doença seja mal manejada, e o fungo atinge severamente a cultura, causando a queda prematura das folhas, com isso, a produção será comprometida com grãos de baixo peso e baixa qualidade devido a interrupção do enchimento de grãos.
Estratégias de manejo
Vazio sanitário:
O vazio sanitário é um dos principais manejos da ferrugem na cultura da soja, devido a Phakopsora pachyrhizi ser um fungo biotrófico, ou seja, necessitar de um hospedeiro vivo para completar seu ciclo e multiplicar-se, ao eliminarmos o seu hospedeiro, a soja, diminuímos o foco da doença, atrasando o seu aparecimento na safra seguinte. No Brasil, o vazio sanitário é uma exigência legal, em que os produtores devem respeitar um período de 60 a 90 dias, dependendo do estado, sem o plantio da soja, e monitorando a presença de soja voluntária, que deve ser eliminada caso apareça.
Semeadura em abertura de janela:
Supondo-se que o vazio sanitário seja cumprido, na abertura de plantio a pressão da doença é menor, tendo um número reduzido de esporos infectivos no ambiente produtivo, conforme se avança na janela de plantio, a tendência é que a pressão da doença seja maior, então uma das formas de se evitar, ou postergar o aparecimento da doença na cultura, é antecipar a semeadura, claro, dentro do limite agronômico recomendado.
Monitoramento:
A ferrugem Asiática é um fungo extremamente agressivo, com reprodução de esporos infectivos muito acelerada, aumentando consideravelmente a severidade da doença em um curto intervalo de tempo. Realizar o monitoramento semanal dos talhões é essencial para que o produtor tenha maior assertividade no manejo, tanto de doenças, como pragas e plantas daninhas, obtendo um tempo hábil para tomada de decisão e posicionamento dos melhores produtos, no momento certo, aumentando a assertividade no controle da doença.
Manejo de fungicidas:
Quando se fala em manejo de fungicidas para controle de ferrugem, várias estratégias podem ser adotadas. Uma alternativa que tem se mostrado valiosa no manejo, é a aplicação 0, ou seja, entrar com fungicidas juntamente a “capina” na cultura, onde comumente se utiliza o glifosato para controle de plantas daninhas.
Essa aplicação é mais precoce, geralmente realizada em V4, então os fungicidas entram de maneira preventiva na cultura, com produtos de menor valor econômico, mas que dão suporte à prevenção da doença. É de suma importância que mesmo adotando a aplicação 0, não se atrase a primeira aplicação verdadeira na cultura da soja, a qual deve ser mais robusta, com produtos de maior eficiência de controle, antes que a soja feche linha, geralmente entre V6 e V8, dependendo da cultivar e o ambiente em que está inserida.
A utilização de fungicidas multissítio protetores também se tem mostrado importante ferramenta, uma vez que previne a penetração de fungos nas plantas através da inibição da germinação dos esporos, diminuindo a ocorrência da doença.
O intervalo de aplicações em um ano como este em que as condições foram favoráveis para o desenvolvimento da doença, deve ser reduzido, tem se trabalhado com bons resultados, um intervalo de aplicações de 14 dias, sendo importantíssimo que esse intervalo seja respeitado, atrasos nas aplicações tem comprometido o bom desenvolvimento da lavoura devido a rápida reprodução da ferrugem asiática na soja.
Cultivares Tolerantes:
Outra ferramenta é a utilização de cultivares tolerantes ao fungo da Phakopsora pachyrhizi, no mercado de cultivares temos opções como BRASMAX Titanium TF, BRASMAX Cromo TF, DM56I59 IPRO, TMG 7067IPRO e TMG 7061IPRO.
De maneira geral, cultivares que apresentam tolerância à ferrugem asiática, não dispensam a utilização de fungicidas, se possível manter a utilização de produtos bons, na hora certa e respeitando o intervalo de aplicações, no entanto, a vantagem destes materiais, entre outros, é uma segurança maior, então a doença tem dificuldade de se estabelecer e se reproduzir na planta, logo, dá um fôlego a mais para o operacional, onde se houver um atraso no intervalo de aplicações, os prejuízos não serão tão severos quanto em cultivares suscetíveis.
Para informações mais específicas dentro dos manejos citados, consulte um engenheiro agrônomo, que fará o melhor posicionamento das estratégias que podem ser utilizadas dentro da realidade de cada propriedade.
Autores: Dyeferson dos Reis Rocha e Thaysla Vezaro Wiedemann, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.
Referências
RODRIGUES, Leilane. Ferrugem asiática da soja. Disponível em: https://promip.agr.br/ferrugem-asiatica-da-soja/. Acesso em: 20/03/2024.
GROSSO, Daniel. Importância do vazio sanitário no manejo da Ferrugem Asiática na cultura da soja. Disponível em: https://agriculture.basf.com/br/pt/conteudos/cultivos-e-sementes/soja/importancia-do-vazio-sanitario-no-manejo-da-ferrugem-asiatica-na-cultura-da-soja.html#:~:text=A%20import%C3%A2ncia%20do%20vazio%20sanit%C3%A1rio&text=Com%20isso%2C%20uma%20ferramenta%20importante,do%20fungo%20durante%20a%20entressafra. Acesso em: 23/03/2024.
EMBRAPA. Excesso de chuvas pode favorecer incidência precoce da ferrugem da soja. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/84636647/excesso-de-chuvas-pode-favorecer-incidencia-precoce-da-ferrugem-da-soja. Acesso em: 25/03/2024