O uso de herbicidas residuais, também chamados de herbicidas pré-emergentes, em lavouras comerciais de grãos é uma prática fundamental para reduzir os fluxos de emergência das plantas daninhas e favorecer o adequado estabelecimento da cultura no campo. A escolha e o posicionamento desses produtos devem ser realizados com base nas espécies infestantes predominantes na área e no espectro de controle de cada herbicida. Além disso, é essencial considerar a seletividade do produto à cultura subsequente, a fim de evitar possíveis efeitos fitotóxicos sobre as plântulas.
Dente os herbicidas pré-emergentes, os mais comuns pertencem ao grupo dos inibidores da ALS ou inibidores da PROTOX. Os herbicidas inibidores da ALS (imazetapir e diclosulam) apresentam maior residual e espectro de controle, com destaque para o herbicida imazetapir. Os herbicidas inibidores da PROTOX (sulfentrazone, flumioxazin e saflufenacil) apresentam menos relatos de plantas daninhas resistentes e complementam o espectro dos inibidores da ALS; outros mecanismos de ação como acetanilidas (s-metolacloro e pyroxasulfone) e carotenoides (clomazone) devem ser utilizados em condições específicas pois apresentam espectro de controle limitado (Borsato; Maschietto; Penckowski, 2021).
Embora ambos possam ser considerados seletivos à cultura da soja quando posicionados na pré-emergência da lavoura, dependendo da dose, tipo de solo e condições ambientais, alguns sintomas podem ser observados no estabelecimento da lavoura em função da ação dos pré-emergentes em soja. Os sintomas podem variar de acordo com o herbicida. Conforme destacado por Borsato; Maschietto; Penckowski (2021), os inibidores da ALS como o imazetapir ou o diclosulam resultam em clorose das folhas e redução temporária no porte das plantas (Figura 1).
Figura 1. À esquerda, plantas de soja com clorose e de menor porte. Esses sintomas de fitotoxicidade são característicos da aplicação de herbicidas inibidores da ALS, como o imazetapir, no dia da semeadura da soja.

Além do efeito proveniente dos herbicidas pré-emergentes, algumas injurias observadas durante o estabelecimento da lavoura podem ser oriundas da residualidade de pré ou pós-emergentes no solo, fator popularmente conhecido como carryover. O carryover pode ser compreendido como o efeito residual prolongado no solo, que consiste na persistência do produto em níveis que podem prejudicar o desenvolvimento de culturas subsequentes. Esse efeito pode ser acentuado por condições climáticas e ambientais como textura do solo e umidade.
Figura 2. Injúria durante a emergência da cultura da soja decorrente de herbicida pré-emergente ou carryover.

Vale destacar que, além das diferenças entre os herbicidas, as cultivares de soja também apresentam distintas respostas quanto à sensibilidade e à expressão de sintomas fitotóxicos. Conforme demonstrado por Borsato; Maschietto; Penckowski (2021), cultivares semeadas no mesmo dia, sob as mesmas condições ambientais e de textura de solo, podem manifestar níveis distintos de sensibilidade ao efeito fitotóxico causado por herbicidas residuais. Nesse contexto, os sintomas de fitotoxicidade, tanto de herbicidas pré-emergentes quanto pós-emergentes, podem variar significativamente em função da cultivar utilizada.
Figura 3. Diferença da sensibilidade do cultivar de soja ao herbicida saflufenacil, com mesma data de semeadura e de aplicação, conduzido no cerrado. Fundação ABC, 2021. No cultivar A a fitotoxicidade visual foi muito severa, inclusive com morte de plantas, porém esses sintomas não foram observados quando o mesmo herbicida aplicado sobre o cultivar B (Borsato; Maschietto; Penckowski, 2021).

De modo geral, quando são seguidas corretamente as orientações de manejo e as recomendações de bula, incluindo dose, época de aplicação, intervalo entre a aplicação e a semeadura, além das condições climáticas e ambientais adequadas para a pulverização; os sintomas decorrentes da residualidade dos herbicidas tendem a não causar impactos econômicos significativos à cultura. Além disso, é importante destacar que nem todo sintoma de fitotoxicidade observado na soja tem origem na aplicação de herbicidas pré ou pós-emergentes. Diversos fatores, isoladamente ou em combinação, podem desencadear sintomas semelhantes, especialmente quando as plantas estão submetidas a condições de estresse.
Veja mais: Aplique-plante ou plante-aplique?
Referências:
BORSATO, E. F.; MASCHIETTO, E. H. G.; PENCKOWSKI, L. H. SELETIVIDADE DE CULTIVARES DE SOJA A HERBICIDAS PRÉ-EMERGÊNTES. Fundação ABC, 2021. Disponível em: < https://fundacaoabc.org/wp-content/uploads/2021/11/202111revista-pdf.pdf>, acesso em: 06/11/2025.
WERLE, R.; OLIVEIRA, M. C. Chave para Identificação de Injúrias Causadas por Herbicidas. University of Wisconsin-Madison UW-Extension, WiscWeeds, 2018. Disponível em: < https://maxweeds.rbind.io/pt/post/chave_id-herbicida/2018-herb-pt.pdf >, acesso em: 06/11/2025.





