O objetivo natural de uma planta é perpetuar sua espécie garantindo a sobrevivência dela. Dentre os principais meios de propagação de uma planta, podemos destacar os bulbos, estolões, rizomas e sementes. Se tratando de espécies de plantas daninhas, pode-se dizer que a propagação por meio de sementes é a mais comum entre elas, podendo algumas espécies, produzir milhares de sementes viáveis por planta.
As sementes são dispersas pelos mais variados mecanismos e agentes dispersantes, alimentando o banco de sementes do solo e germinando quando encontram condições adequadas. A germinação é o processo de retomada do crescimento ativo do eixo embrionário, que consiste na sequência ordenada de atividades metabólicas, que inicia com a embebição das sementes, estabelece a retomada do desenvolvimento do embrião até a formação de uma plântula normal (UFSM).
De maneira geral, pode-se dividir o processo de germinação de uma semente em três fases em função da absorção de água (figura 1). Na fase I, as sementes secas embebem ou absorvem água rapidamente. Já que a água flui do potencial hídrico mais alto para o mais baixo, a absorção de água cessa quando a diferença no potencial hídrico entre a semente e o ambiente se torna zero. Durante a fase II, as células expandem-se e a radícula emerge da semente. A atividade metabólica aumenta e ocorre o afrouxamento da parede celular. Na fase III, a absorção de água reinicia à medida que a plântula se estabelece (Taiz et al., 2017).
Figura 1. Fases da embebição das sementes.

A exemplo da necessidade hídrica para a germinação, em média a semente de soja necessita de 50% do seu peso em água para a boa germinação (Farias; Nepomuceno; Neumaier, 2007). Além da umidade, algumas espécies necessitam de condições de temperatura, oxigênio e luminosidade adequadas para o processo de germinação.
Essa necessidade de luminosidade requerida por algumas espécies para iniciar o processo de germinação é conhecida como fotoblastia, e é um fator chave para o manejo e controle de plantas daninhas em culturas agrícolas. Sementes fotoblásticas positivas necessitam de luz para germinar, enquanto sementes fotoblásticas negativas podem germinar na ausência. de luz. O fitocromo, que percebe comprimentos de onda do vermelho e vermelho-distante, é o sensor primário para a germinação regulada por luz.
Conforme observado por Yamashita et al. (2016), espécies de buva (Conyza spp.) necessitam de luz para germinar, podendo ser consideradas fotoblásticas positivas. A buva é conhecida por ser uma problemática planta daninha em lavouras de soja, podendo causar perdas significativas da produtividade da cultura.
Tabela 1. Germinação (%) de sementes de Conyza canadensis e C. bonariensis em duas condições de luminosidade.

A ausência ou redução da germinação de sementes de buva e outras plantas daninhas em condições de ausência de luz, nos permite adequar práticas de manejo visando reduzir os fluxos de emergência de plantas daninhas em lavouras anuais. Uma das principais estratégias para isso, é a boa cobertura do solo com palhada residual de culturas antecessoras.
Figura 2. Palhada em cobertura no solo.
Além de contribuir para a redução da evaporação da água no solo, alterando o fluxo de calor no solo e beneficiando a cultura cultivada, a boa cobertura do solo com palhada restringe a passagem de luz, reduzindo a germinação de sementes fotoblásticas positivas presentes no banco de sementes do solo. Embora possa parecer uma estratégia um tanto quanto simples, a boa cobertura do solo contribui significativamente no manejo de plantas daninhas, podendo inclusive, reduzir a necessidade do uso de herbicidas para o controle em pós emergência.
Logo, a fotoblastia pode ser considerada uma característica benéfica ao sistema de produção, principalmente se tratando do manejo e controle de plantas daninhas que possuem essa particularidade, no sistema plantio direto onde se prioriza a cobertura permanente do solo.
Veja mais: MISSÃO CARURU Episódio 27 – Palha, luz e o caruru
Referências:
FARIAS, J. R. B.; NEPOMUCENO, A. L.; NEUMAIER, N. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica, n. 48, 2007. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/470308/ecofisiologia-da-soja >, acesso em: 21/10/2021.
TAIZ, L. et al. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO VEGETAL. Porto Alegre, ed. 6, 2017. Disponível em: < https://grupos.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/474835/mod_resource/content/0/Fisiologia%20e%20desenvolvimento%20vegetal%20-%20Zair%206%C2%AAed.pdf >, acesso em: 21/10/2021.
UFSM. A SEMENTE E SUA GERMINAÇÃO. Laboratório de Análise de Sementes, UFSM. Disponível em: < https://www.ufsm.br/laboratorios/sementes/a-semente-e-sua-germinacao/ >, acesso em: 21/10/2021.
YAMASHITA, O. M. et al. GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE DUAS ESPÉCIES DE CONYZA EM FUNÇÃO DA PRESENÇA OU AUSÊNCIA DE LUZ E INTERAÇÃO COM A ADIÇÃO DE NITRATO E ÁCIDO GIBERÉLICO NO SUBSTRATO. Ambiência – Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V.12 N.2 Maio/Ago. 2016. Disponível em: < https://revistas.unicentro.br/index.php/ambiencia/article/view/1714 >, acesso em: 21/10/2021.