A boa nutrição de plantas é fundamental para garantir a boa produtividade de culturas anuais, sendo necessário atentar para os teores nutricionais no solo e a disponibilidade dos nutrientes para as plantas. Não necessariamente os nutrientes presentes no solo encontram-se prontamente disponíveis na solução do solo para absorção pelas plantas, sendo que, essa disponibilidade esta condicionada ao pH do solo entre outros fatores.
Embora a disponibilidade de nutrientes no solo possa variar em função do nutriente e da sua interação com o pH do solo, de modo geral a maior disponibilidade de nutrientes é observada em solos com pH 6,5, sendo recomendado trabalhar com pH variando entre 5,5 e 6,0 para a cultura da soja. Sendo assim, muitas vezes, elevar o pH do solo é necessário para aumentar a disponibilidade de nutrientes para as plantas e a calagem é a prática mais utilizada com esse intuito.
Figura 1. Disponibilidade de nutrientes em função do pH do solo.

Embora os calcários calcítico e dolomítico sejam os insumos mais recomendados para a correção da acidez e pH do solo, em algumas ocasiões, equivocadamente o gesso agrícola é utilizado com esse intuito. Entretanto, cabe destacar que embora apresente maior solubilidade em comparação ao calcário, por se tratar de um sal neutro e não de uma base, o gesso agrícola não é capaz de elevar o pH do solo, logo, seu uso não é recomendado com essa finalidade.
O gesso agrícola normalmente é um subproduto da fabricação de ácido fosfórico, e apresenta em média, 15% de Enxofre (S) e 18% de Cálcio (Ca) em sua composição, atuando como fonte desses nutrientes (Embrapa, 2020). Em função da maior mobilidade no perfil do solo quando comparado ao calcário, o gesso diminui a toxidez por Al3+ e aumenta os teores de Cálcio e de Enxofre em subsuperfície, resultando em um ambiente menos limitante para o desenvolvimento das raízes das plantas (Seixas et al., 2020), contudo, não altera o pH do solo.
Ainda que não altere o pH do solo, por sua maior solubilidade, o gesso agrícola é utilizado como condicionador de solo, melhorando condições de solo para o crescimento e desenvolvimento radicular das plantas. Dentre os benefícios da utilização do gesso agrícola, Sousa; Lobato; Rein (2005) destacam a melhoria da distribuição das raízes das plantas em profundidade no solo, refletindo na maior absorção de água e nutrientes do solo, podendo inclusive resultar em incrementos de produtividade de culturas anuais como milho, trigo e soja (tabela 1).
Figura 2. Distribuição relativa de raízes de milho no perfil de um latossolo argiloso, sem aplicação e com aplicação de gesso agrícola.

A necessidade de aplicação de gesso agrícola é determinada pela análise de solo de amostragem nas profundidades de 20 a 40 cm e 40 a 60 cm para as culturas anuais (Vitti & Priori, 2009). A necessidade de gesso (NG) pode ser calculada em função do teor de argila no solo (equação 1) ou para Região Sul, em função da saturação por cálcio na CTC efetiva (CTCe), quando esta estiver com menos de 50% ocupada por Cálcio (equação 2); o método se baseia em elevar a saturação por Ca na CTCe do subsolo (20 cm–40 cm) a 60% (Seixas et al., 2020).
Equação 1. Necessidade de Gesso (em função do teor de argila do solo).
NG (kg/ha) = 50 x Teor de Argila (%)
Equação 2. Necessidade de Gesso [em função da saturação por cálcio na CTC efetiva (CTCe)].
NG (t/ha) = (0,6 x CTCe – Ca2+) × 6,4
Em que:
- CTCe = CTC efetiva (SB + Al)
- Ca2+ = Ca2+ trocável em cmolc /dm3
- 0,6 = ocupação de 60% de Ca na CTCe
- 6,4 = Constante gerada pelo ajuste estatístico (Seixas et al., 2020).
Conforme observado por Sousa; Lobato; Rein (2005), em algumas situações é possível notar significativa melhora da produtividade de culturas anuais em função da aplicação do gesso agrícola, corroborando o efeito benéfico do gesso quando empregado corretamente.
Tabela 1. Efeito da aplicação de gesso agrícola ao solo, na produtividade de culturas anuais, submetidas a veranicos na época da floração.

Cabe destacar que a produtividade de uma cultura é uma variável um tanto quanto complexa, podendo ser influenciada por inúmeros fatores, e que não necessariamente a prática da gessagem seja suficiente para elevar significativamente a produtividade de culturas agrícolas. Além disso, é necessário compreender que o gesso agrícola atua pincipalmente como melhorador e condicionador do solo, não apresentando aptidão para uso com objetivo de corrigir o pH do solo.
Veja mais: Qual o intervalo entre calagem e semeadura?
EMBRAPA. PRODUTORES DEVEM FICAM ATENTOS AO USO DO GESSO AGRÍCOLA. EMBRAPA, NEWS, 2010. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/18119102/produtores-devem-ficar-atentos-ao-uso-do-gesso-agricola >, acesso em: 02/06/2022.
SEIXAS, C. D. S. et al. TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA. Embrapa, Sistemas de Produção, n. 17, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123928/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 02/06/2022.
SOUSA, D. M. G.; LOBATO, E.; REIN, T. A. USO DO GESSO AGRÍCOLA NOS SOLOS DO CERRADO. Embrapa, Circular Técnica, n. 32, 2005. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/568533/1/cirtec32.pdf >, acesso em: 02/06/2022.
VITTI, G. C.; PRIORI, J. C. CALCÁRIO E GESSO: OS CORRETIVOS ESSENCIAIS AO PLANTIO DIRETO. Visão Agrícola, nº9, 2009. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Fertilidade01.pdf >, acesso em: 02/06/2022.