O planejamento de compra dos insumos para a safra verão da temporada 2023/24 está na
fase final nas principais regiões produtoras de grãos do Brasil. Ao contrário das safras passadas, a compra de insumos para esta temporada foi mais lenta, pois muitos produtores tinham expectativa de recuo nos preços dos fertilizantes, o que foi observado, mas de maneira menos intensa que o esperado.

Em julho de 2023, o ritmo de aquisição de fertilizantes nas principais regiões produtoras
teve média de 75%, abaixo dos 87,3% observados no mesmo período de 2022, diferença de pouco mais de 12 pontos percentuais.

Embora os preços médios dos fertilizantes tenham recuado no primeiro semestre de 2023, outros componentes do custo não acompanharam essa redução. Por exemplo, a taxa média de queda dos gastos com fertilizantes para a produção de soja foi de 24,1% no primeiro semestre de 2023, com herbicidas, 23,3%, inseticidas, 3,6%, fungicidas, 0,9%; o custo operacional médio, por sua vez, recuou 13,8%. O preço da soja acumulou baixa de 29,5% no mesmo período. Esse descompasso gerou a lentidão nas negociações e preocupação para planejar a safra 23/24.

A equipe do Projeto Campo Futuro CNA/Senar com o apoio do Cepea – Grãos (PCF) analisou a produtividade de nivelamento para saldar o Custo Operacional Efetivo (COE) da soja tolerante ao herbicida e resistente à lagarta para as regiões de Sorriso (MT), Rio Verde (GO), Cascavel (PR) e Carazinho (RS).

Para determinar os valores médios do COE na safra 23/24, foram considerados os coeficientes técnicos da safra 21/22 coletados via painel ao longo de 2022 e os preços médios dos insumos no primeiro semestre de 2023.

Já os valores médios da safra 22/23 e das últimas cinco safras (18/19-22/23) foram coletados a campo com a participação de produtores e consultores de cada localidade. Para
determinar o preço médio da soja, foram levados em conta o valor médio de agosto (24/08/2023) do contrato futuro negociado na Bolsa de Chicago para março/24, de US$ 13,4/bushel, prêmio negativo de 72 centavos de dólar por bushel e taxa de câmbio de R$ 4,90/US$.

De modo geral, o custo de produção da soja na safra 23/24 deve ser superior à média das
últimas cinco safras nas quatro praças avaliadas. A região de Carazinho (RS) deve registrar
a menor diferença entre a estimativa para a safra 23/24 e a média das últimas cinco safras.

Vale lembrar que essa praça teve quebra de produção por duas safras seguidas (21/22 e
22/23) devido à seca provocada pelo fenômeno La Niña.

A safra 22/23 foi desastrosa para produtores gaúchos, pois registrou o maior custo médio
real para a soja da série histórica do Projeto, além de quebra de safra e desvalorização da
oleaginosa. Logo, a receita bruta foi insuficiente para saldar o Custo Operacional Efetivo
(COE) e o Custo Total (CT), com prejuízos de 3,6 e 28 sacas de soja, respectivamente, ao
preço médio da safra 22/23. Para a temporada  23/24, estima-se a necessidade de 38,8 sacas de soja para saldar o COE e 66 sacas para o CT, considerando-se produtividade média de 54 sacas/ha.

Nas outras três regiões avaliadas, o COE médio real de produção da soja por hectare da safra 22/23 foi o maior da série histórica do Projeto. Dois fortes aumentos para fertilizantes
e herbicidas impulsionaram o custo de produção. O COE médio foi de 53,7 sacas de soja
em Sorriso (MT), 48,6 em Rio Verde (GO) e 41,26 em Cascavel (PR) na safra 22/23.

Na nova temporada 23/24, nem mesmo os menores preços médios de fertilizantes e defensivos agrícolas foram suficientes para compensar a desvalorização da soja no primeiro semestre de 2023. Assim, serão necessários, em média, 10 sacas de soja a mais em relação à média histórica das últimas cinco  safras e igualando a quantidade de sacas para saldar o COE da temporada 22/23. A estimativa do COE para a temporada 23/24 é de 52,3 sacas de soja por hectare em Sorriso (MT), 46,6 sacas em Cascavel (PR) e de 45 sacas em
Rio Verde (GO).

Os valores médios do COE na safra 23/24 têm preocupado muitos produtores, pois as margens se reduziram drasticamente, o que diminui a sua capacidade de investimento.

Esse descompasso entre o custo de produção e a receita faz parte da atividade agrícola, pois os insumos são adquiridos num período para comercializar a produção em outro momento.

Logo, o resultado dessa relação de troca ainda depende do valor médio de venda da produção que será negociada ao longo da temporada. Assim, esses valores podem aumentar ou diminuir, dependendo do momento em que os produtores protegem suas margens com vendas antecipadas, trocas por insumos e outras oportunidades.

É importante observar que se deve provisionar o ganho das temporadas anteriores para uma situação de dificuldade, buscando proteger primeiro a margem de lucro para garantir a sustentabilidade do negócio.

Fonte: O projeto Campo Futuro é executado pela CNA em parceria com o SENAR e o Cepea/USP.

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