A lagarta Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) é considerada uma das pragas agrícolas mais importantes mundialmente devido à sua ampla distribuição geográfica e polifagia. No continente americano, foi identificada primeiramente no Brasil (CZEPAK et al. 2013) e, em seguida, no Paraguai e na Argentina (MURÚA et al. 2014).

A polifagia é um recurso para a sobrevivência de insetos fitófagos que assume grande importância, com relação ao desempenho biológico e à dinâmica populacional de pragas. Em uma mesma região, espécies polífagas podem ser pragas de uma ou mais culturas, ou apenas se manterem em baixa densidade em diferentes plantas hospedeiras, até encontrarem uma fonte alimentar capaz de sustentar o seu completo desenvolvimento (MOSCARDI et al. 2012).

Entre as diferentes ordens de insetos, a estrutura básica do trato digestivo é similar. O intestino dos insetos é compartimentalizado em intestino anterior, médio e posterior. Em lepidópteros, o pH do conteúdo intestinal apresenta alta alcalinidade, variando de pH 9,0 a 12,0. Esta alcalinidade está provavelmente correlacionada com a adaptação à fitofagia dos insetos em se alimentar de diversas culturas, pois o alto pH é necessário para digestão da hemicelulose da parede celular vegetal das plantas. A membrana peritrófica do inseto forma uma estrutura semipermeável, a qual permite a passagem de nutrientes, enzimas e moléculas de defesa, mas protege da exposição direta a microrganismos e toxinas (COSTA, 2016).

Portanto, por ser uma espécie fitófoga e polífaga, H. armigera possui capacidade de alimentar-se de vários hospedeiros como as culturas da soja, milho, algodoeiro, tomateiro, sorgo, feijoeiro, tabaco, batata, olerícolas, citros, plantas daninhas e milheto, entre outras. Esse hábito polífago, associado à sua alta capacidade de dispersão e à presença de hospedeiros alternativos nas proximidades agrícolas influenciam na permanência de populações da praga nas áreas de cultivo, dificultando o seu controle (MORAES, 2017).

Figura 1. Lagarta de H. armigera se alimentando de vagem de soja.

Fonte: Da Cunha, 2016.

Figura 2. Lagarta de H. armigera se alimentando de maçã do algodoeiro.

Fonte: Da Cunha, 2016.

Além dos adultos de H. armigera apresentarem grande capacidade de dispersão e adaptação em diversas plantas hospedeiras, observou-se lagartas desta espécie causando danos em diferentes estruturas vegetativas e reprodutivas das plantas, tais como botões florais, flores e maçãs de algodoeiro, bem como em frutos verdes e maduros de tomateiro, grãos de milho em formação, plântulas e estruturas reprodutivas da soja (CZEPAK et al., 2013).

Em relação à cultura da soja, embora alguns autores ressaltem que o principal dano das lagartas nas plantas se concentra na fase reprodutiva, segundo Guazina et al. (2019) as lagartas de H. armigera consomem também folhas unifoliadas, cotilédones e hastes, ocasionando redução significativa no estande de plantas.

Suzana et al. (2018) indicaram também que o sucesso de colonização apresentado por este inseto pode estar associado à sua capacidade de optar pelo consumo de tecidos mais nutritivos e menos protegidos. Esses tecidos mais suscetíveis estão disponíveis durante todo o ciclo da planta e são encontrados devido à grande mobilidade do inseto, associada a variados níveis de presença de enzimas digestivas (proteinases) nos diferentes ínstares das lagartas de H. armigera (PESSOA et al., 2019).

Diante do exposto, torna-se possível compreender a capacidade da lagarta H. armigera em atacar diferentes hospedeiros, e assim contribuir para otimizar estratégias de controle para essa praga e auxiliar na tomada de decisão em programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

Referências: 

COSTA, Poliene Martins. Caracterização da comunidade bacteriana associada ao trato intestinal de Spodoptera frugiperda provenientes de diferentes dietas. 2016. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

CZEPAK, C.; VIVAN, L. M.; ALBERNAZ, K. C. Praga da vez. Cultivar: grandes culturas, Pelotas, ano 15, n. 167, p. 20-27, abr. 2013b.

DA CUNHA, Beatriz Ribeiro. Preferência larval de Helicoverpa armigera (Hübner, 1805)(Lepidoptera: Noctuidae) por estruturas vegetativas e reprodutivas da soja e do algodoeiro. 2016. Tese de Doutorado. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz.

GUAZINA, Renato Anastácio et al. Danos da lagarta Helicoverpa armigera (Hübner, 1805)(Lepidoptera: Noctuidae) em plântulas de soja. Revista de Ciências Agroveterinárias, v. 18, n. 1, p. 41-46, 2019.

LEAL, N. dos S. et al. Plantas hospedeiras de Helicoverpa armigera. In: Embrapa Milho e Sorgo-Resumo em anais de congresso (ALICE). In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO, 32., 2018, Lavras. Soluções integradas para os sistemas de produção de milho e sorgo no Brasil: resumos. Sete Lagoas: Associação Brasileira de Milho e Sorgo, 2018., 2018.

MORAES, Renato Franco Oliveira de. Técnicas de avaliação do desempenho alimentar e de oviposição, categorias e mecanismos de resistência de genótipos de soja à Helicoverpa armigera (Hübner, 1805)(Lepidoptera: noctuidae). 2017.

MOSCARDI, Flavio et al. Artrópodes que atacam as folhas da soja. Soja: manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga, v. 4, p. 859, 2012.

MURÚA, M. Gabriela et al. First record of helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) in Argentina. Florida Entomologist, v. 97, n. 2, p. 854-856, 2014.

PESSOA, MCPY et al. Nível de dano de Helicoverpa armigera em fase vegetativa de soja (safra 2016/2017) em Ponta Porã. Embrapa Meio Ambiente-Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento (INFOTECA-E), 2019.

SUZANA, Crislaine Sartori et al. Desempenho de larvas de Helicoverpa armigera (Hübner)(Lepidoptera: Noctuidae) em diferentes fontes alimentares. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 45, n. 4, p. 480-485, 2015.

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