A Embrapa e o Ministério da Agricultura e Pecuária estão lançando durante o 10º Congresso Brasileiro de Soja o Zoneamento Agrícola de Risco Climático Níveis de Manejo (Zarc NM). Esta inovação na ferramenta de gestão de risco passa a levar em consideração o nível de manejo do solo adotado na propriedade e terá impacto no custo do seguro para o produtor. Um painel realizado no evento apresentou a tecnologia e discutiu seu potencial como indutor de adoção de boas práticas.
O Zarc é um conjunto de informações que possibilita indicar as melhores épocas de plantio de mais de 40 culturas em cada município brasileiro. Leva em consideração a pluviosidade na região, o tipo de solo e o ciclo da cultivar utilizada. A partir do cruzamento de dados, é possível determinar o risco de frustração de safra, podendo ser de 20%, 30%, 40% ou maior, faixa sem recomendação de plantio. Esses dados, disponíveis gratuitamente por meio do aplicativo Plantio Certo, ajudam a orientar o agricultor e servem de referência para programas de crédito e seguro rural.
Com o Zarc NM, o potencial de infiltração de água no solo passa a entrar na equação. Esse dado é indicado pelo histórico de uso da área, ausência de revolvimento do solo, cobertura do solo, presença de palhada, rotação de culturas e análise química e física do solo,. Eduardo Monteiro, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital e líder da Rede Zarc explica que ao longo do tempo, a adoção de boas práticas aumenta a capacidade de infiltração da chuva e o aprofundamento de raízes. Dessa forma, há melhor absorção de água pelas plantas, diminuindo as perdas causadas pela seca.
A inclusão do nível de manejo no zoneamento será feita como um piloto nesta safra, na cultura da soja, no Paraná.
“Será um piloto para testar o nível operacional. Nosso desejo é que em alguns anos todo o Zarc seja alterado para o nível de manejo. Esse é nosso desejo”, afirmou Diego Melo de Almeida, do Departamento de Gestão de Risco do Mapa.
De acordo com ele, nesse modelo será possível tratar os riscos de forma individual, traçando o perfil de cada área a ser segurada.
“O Zarc NM é uma forma de reconhecer e premiar os produtores que estão fazendo um bom trabalho”, resumiu o moderador do painel e pesquisador da Embrapa Soja José Renato Farias, que também participou da criação desta nova tecnologia.
No projeto piloto, a subvenção do seguro será diferente conforme o nível de manejo da área. Se for nível 1, o mais baixo na escala de qualidade, será de 20%, em nível 2, 25%, nível 3 30% e nível 4, o melhor cenário possível, 35%.
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Indução de adoção de tecnologia
Um estudo apresentado por Eduardo Monteiro, realizado por colegas da Rede Zarc, indicou que somente 4% das mais de 200 propriedades avaliadas no Paraná e Mato Grosso do Sul estavam no nível 4 e mais de 30% se encontravam em nível 1. Esse dado ilustra o potencial de melhoria da adoção de boas práticas na agricultura, o que contribui não só para mitigação de riscos de perdas por seca ou excesso de chuva, mas também para a descarbonização da atividade e aumento de produtividade.
Um dos pioneiros nos estudos que deram origem ao Zarc, o pesquisador da Embrapa Trigo Gilberto Rocca da Cunha destacou o papel que o Zarc NM terá como indutor de tecnologia na agricultura brasileira. De acordo com ele, ao condicionar benefícios de uma política pública à adoção de boas práticas, gera-se um estímulo para que os agricultores possam adotar práticas conservacionistas. Com isso, os benefícios vão muito além da maior subvenção no custo do seguro.
Cunha apresentou dados que mostram o aumento da frequência e da intensidade de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, altas temperaturas e inundações causadas por chuvas em maior volume e concentradas. Com adoção de práticas como rotação de culturas, aumento da matéria orgânica no solo, uso de plantas de cobertura e correção do solo o agricultor passa a ter um sistema produtivo mais resiliente, com menor risco de perdas.
Lançamento
O lançamento do Zarc Níveis de Manejo será feito nesta quarta-feira, às 9h30, na Arena de Inovação, no CB Soja que está sendo realizado no Expo Dom Pedro, em Campinas (SP).
CB Soja
O 10º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja é promovido pela Embrapa Soja. O evento ocorre a cada três anos e é o maior fórum técnico-científico do complexo da soja na América do Sul. Cerca de 2 mil pessoas, de diferentes áreas da cadeia produtiva, participam do encontro. A programação vai até quinta-feira, com cinco conferências e 15 painéis, somando mais de 50 palestras. Além disso serão apresentados 321 trabalhos técnico-científicos, em nove sessões temáticas, e cinco debates sobre temas práticos relacionados aos problemas do dia-a-dia das lavouras.
Foto de capa: CB Soja