A interação entre plantas e microrganismos benéficos tem contribuído efetivamente para o aumento da produtividade e resiliência das culturas agrícolas a condições estressantes, de forma sustentável e eficiente. Dentre as principais interações benéficas conhecidas na agricultura, destaca-se a simbiose entre fungos micorrízidos e plantas.
Nessa simbiose, o fungo amplia a superfície de absorção de água e nutrientes minerais pelas raízes, com destaque para o Fósforo. Em contrapartida, a planta fornece ao fungo, parte dos carboidratos produzidos na fotossíntese (Costa, 2024).
De acordo com Hoffmann & Lucena (2006), as micorrizas podem ser classificadas em três tipos principais: ectomicorrizas, endomicorrizas e ectoendomicorrizas. Nas ectomicorrizas, o fungo forma um manto ao redor das raízes e cresce entre as células, sem invadi-las. Já nas endomicorrizas, a colonização ocorre dentro das células radiculares, enquanto as ectoendomicorrizas, por sua vez, reúnem características de ambos os grupos anteriores.
As micorrizas modificam o sistema de raízes da planta e influenciam a obtenção de nutrientes minerais por ela. Fungos micorrízicos arbusculares desenvolvem, fora da raiz de seu hospedeiro, um sistema altamente ramificado (micélio) de hifas que explora o solo (Figura 1). Diferentes fungos micorrízicos arbusculares variam consideravelmente em sua distância e intensidade de exploração do solo. O micélio também auxilia a estabilizar agregados de partículas do solo, melhorando a sua estrutura. As hifas estendem-se no solo bem além da zona de esgotamento que se desenvolve em volta da raiz e, portanto, podem absorver um nutriente imóvel como o fosfato além dessa zona. As hifas também penetram nos poros do solo que são muito mais estreitos do que aqueles disponíveis para as raízes (Taiz et al., 2017).
Figura 1. Visualização do micélio extrarradical de Glomus mosseae expandindo-se a partir de raízes colonizadas de Prunusce rasifera. A frente de avanço do micélio extrarradical é indicada pelas pontas de setas, e as raízes da planta, por uma seta. Observe as diferenças nos comprimentos e nos diâmetros das raízes e das hifas. (De Smith e Read, 2008, apud. Taiz et al., 2017).

Embora poucos estudos tenham analisado os benefícios das micorrizas em culturas agrícolas, trabalhos científicos tem evidenciado a contribuição dessa simbiose para o aumento da produtividade de forma sustentável, principalmente quando ocorre a inoculação das culturas com esses fungos.
Avaliando a influência das micorrizas sobre a produtividade da soja cultivada em diferentes sistemas de cultivo (plantio direto e convencional), Miranda & Miranda (2007) observaram que o aumento na densidade da comunidade dos fungos micorrízicos arbusculares por meio da inoculação com Glomus etunicatum proporcionou aumento na produtividade da soja, no primeiro ano de cultivo, nos dois sistemas de plantio, em especial no sistema plantio direto (tabela 1).
Tabela 1. Produção de grãos de soja e milho, em rotação, no período chuvoso, em um Latossolo Vermelho adubado com 300 kg P2O5 ha-1 na forma de superfosfato triplo e inoculado com Glomus etunicatum, sob plantio convencional (PC) e direto (PD).

Os resultados observados por Miranda & Miranda (2007), demonstram o acréscimo na produtividade de aproximadamente, de 244 kg ha-1 para a soja (2001) e de 590 kg ha-1 para o milho (2002), cultivados sob plantio direto, demonstrando a importante contribuição das micorrizas para o incremento produtivo dessas culturas. Resultados similares também foram obtidos por Oliveira et al. (2019), que observaram que a inoculação da soja com fungos micorrízicos arbusculares proporcionou maior produtividade em comparação a soja não inoculada para as condições de sequeiro (não irrigado).
Estima-se que a hifa externa do fungo micorrízico arbuscular possa fornecer 80% do fósforo, 25% do nitrogênio, 10% do potássio, 25% do zinco e 60% do cobre (Hoffmann & Lucena, 2006). Com relação ao aumento na aquisição de fósforo do solo, a eficiência da simbiose depende da compatibilidade genética entre o genoma do fungo e da planta hospedeira para uma dada condição edafoclimática, sendo que no Brasil, a maioria dos estudos sugere que estirpes do gênero Glomus apresentam-se efetivas para promoção do crescimento de gramíneas (Souza et al., 2011).
Além dos benefícios diretos associados à absorção de nutrientes e ao aumento da produtividade das culturas agrícolas, Jacott, Murray e Ridout (2017) destacam que as micorrizas também promovem maior tolerância das plantas a condições de estresse, como estresse hídrico e salino, aumentam a resistência a patógenos radiculares e foliares, e contribuem para a mitigação dos efeitos tóxicos de metais pesados. Dessa forma, embora mais estudos ainda sejam necessários com foco em culturas comerciais, é possível afirmar que as micorrizas exercem efeitos benéficos relevantes, favorecendo uma produção agrícola mais sustentável e eficiente.
Figura 2. Efeitos positivos da colonização micorrízica arbuscular (MA). A rede de hifas dos fungos micorrízicos arbusculares (FMA) estende-se para além da zona de esgotamento (cinzento), acedendo a uma maior área do solo para a absorção de fosfato. Uma zona de depleção de fosfato micorrízico também se formará eventualmente à volta das hifas MA (púrpura). Outros nutrientes que aumentaram a assimilação nas raízes MA incluem o nitrogénio (amónio) e o zinco. Os benefícios da colonização incluem a tolerância a muitos estresses abióticos e bióticos através da indução de resistência sistémica adquirida (SAR) (Jacott; Murray; Ridout, 2017).

Veja Mais: Coinoculação da soja com estirpes de A. brasilense pode proporcionar aumento da produtividade de até 25% em comparação a inoculação padrão
Referências:
COSTA, M. M. M. N. MICORRIZAS: DA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTICA COM ALGODOEIRO AOS BENEFÍCIOS. Embrapa, Documentos, n. 296, 2024. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1164118/1/MICORRIZAS.pdf >, acesso em: 02/06/2025.
HOFFMANN, L. V.; LUCENA, V. S. PARA ENDENTEDER MICORRIZAS ARBUSCULARES. Embrapa, Documentos, n. 156, 2006. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/276480/1/DOC156.pdf >, acesso em: 02/06/2025.
JACOTT, C. N.; MURRAY, J. D.; RIDOUT, C. TRADE-OFFS IN ARBUSCULAR MYCORRHIZAL SYMBIOSIS: DISEASE RESISTANCE, GROWTH RESPONSES AND PERSPECTIVES FOR CROP BREEDING. Agronomy 2017. Disponível em: < https://www.mdpi.com/2073-4395/7/4/75# >, acesso em: 02/06/2025.
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OLIVEIRA, T. C. et al. PRODUTIVIDADE DA SOJA EM ASSOCIAÇÃO AO FUNGO MICORRÍZICO ARBUSCULAR Rhizophagus clarus CULTIVADA EM CONDIÇÕES DE CAMPO. Rev. Ciênc. Agrovet, 2019. Disponível em: < https://revistas.udesc.br/index.php/agroveterinaria/article/view/14957/pdf >, acesso em: 02/06/2025.
SOUZA, F. A. et al. MICORRIZAS ARBUSCULARES: PERSPECTIVAS PARA AUMENTO DA EFICIÊNCIA DE AQUISIÇÃO DE FÓSFORO (P) EM POACEAE – GRAMÍNEAS. Embrapa, Documentos, n. 134, 2011. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/921204/1/doc134.pdf >, acesso em: 02/06/2025.
TAIZ, L. et al. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO VEGETAL. 6. ed., Porto Alegre: Artmed, 2017.