A soja é acometida por diversas espécies de lagartas, cuja ocorrência varia ao longo do ciclo da cultura. Essa variação está relacionada às características biológicas das espécies, estágio fenológico da soja e medidas de controle adotadas pelo produtor, sejam elas de natureza química, biológica ou genética. Condições ambientais também influenciam, como temperatura, precipitação, disponibilidade de hospedeiros alternativos e diferenças geográficas existentes entre as regiões produtoras de soja no país.

Apesar desse grande número de fatores, certos padrões podem ser observados na distribuição das espécies. Lagartas desfolhadoras e cortadoras costumam ocorrer nos estágios iniciais da cultura, com destaque para a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatallis) após V4, e a falsa-medideira (Chrisodeixis includens) na fase reprodutiva da soja. Como essas duas espécies são controladas de forma eficiente pela toxina Bt Cry1Ac, tornou-se comum a ocorrência de lagartas-pretas (gênero Spodoptera) e lagarta-helicoverpa (Helicoverpa armigera) em lavouras de soja Bt, ainda na fase vegetativa, por serem parcialmente tolerantes à toxina.

Figura 1. Períodos críticos para ocorrência e danos de lagartas de diferentes espécies na soja.

Crédito da figura: Jerson Guedes.

Já na fase reprodutiva da cultura, além de manter-se o cuidado com lagartas cortadoras e desfolhadoras, deve-se atentar para a ocorrência de espécies que danificam estruturas reprodutivas da soja, como flores, legumes e grãos. Nesse caso, destacam-se novamente as lagartas-pretas (gênero Spodoptera) e a lagarta-helicoverpa (Helicoverpa armigera), esta última havendo ganhado notoriedade nacional quando da sua detecção no Brasil, em função do elevado potencial de dano à cultura. Já as lagartas do complexo Spodoptera, sendo altamente polífagas, tornaram-se importantes pragas de sistema em áreas de sucessão soja-milho.

Portanto, o período crítico para o ataque de lagartas na soja depende da interação entre diferentes fatores: densidade populacional de cada espécie, suscetibilidade das estruturas vegetativas e reprodutivas das plantas, e eficácia das medidas de proteção à cultura ao longo do ciclo. Já a distribuição espacial das lagartas em diferentes pontos da lavoura é, geralmente, desuniforme. As diferentes espécies podem ocorrer tanto de forma isolada quanto conjunta, dependendo da cultivar utilizada, das condições da safra em questão e do manejo praticado. Da mesma forma, a composição etária das populações de lagartas também é variável.

Figura 2. Distribuição de lagartas de diferentes espécies em uma área de soja monitorada, em Santa Maria/RS (safra 2009/10).

Crédito da figura: Jerson Guedes.

Essa variação espacial também pode ser observada na escala temporal, ou seja, conforme avançam os estágios da cultura. Nas fases iniciais da soja, que geralmente coincidem com baixas densidades populacionais da praga, a distribuição das lagartas é aleatória, passando para um padrão mais agregado à medida que o ciclo da cultura progride e/ou a densidade populacional da praga aumenta. Já no período reprodutivo, a distribuição torna-se altamente agregada, conforme demonstrado na Figura 2.

Naturalmente, essa distribuição espacial se reflete nos danos ocasionados à cultura, que serão mais severos nos pontos com maior densidade populacional. A presença de locais com distribuição agregada (reboleiras) ressalta a importância de um monitoramento rigoroso, com número adequado de pontos amostrais na área e em diferentes estágios fenológicos da cultura, de modo a capturar essas variações espaço-temporais e garantir um manejo assertivo das lagartas da soja.

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.

Referências:

GUEDES, J. C.; POZEBON, H.; ARNEMANN, J. A.; RUTHES, E.; PERINI, C. R. Pragas da Soja. Em: ROMERO, J. C. P. (Ed.) Manual de Entomologia Volume 1: Pragas das Culturas. 1ª Edição, 477 p. Editora Agronômica Ceres, Ouro Fino – MG, 2022.

HORIKOSHI, R. J.; BERNARDI, O.; GODOY, D. N. et al. Resistance status of lepidopteran soybean pests following large-scale use of MON 87701 × MON 89788 soybean in Brazil. Scientific Reports, Londres, v. 11, n. 1, p. 1-15, out. 2021.



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