O mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), também conhecido como podridão-de-esclerotínia, destaca-se como uma das doenças mais graves da cultura da soja, sobrevivendo no solo por meio de estruturas de resistência, os escleródios, que podem atacar uma gama de espécies de interesse agrícola como a soja, o feijão, o algodão e o girassol (Bolton et al., 2006).
A fase de maior risco de ocorrência da doença na soja é no período que vai da floração plena (R2) até o início da formação dos grãos (R5). Em condições de alta umidade, o fungo pode colonizar os tecidos sadios entre 16 e 24 horas após a infecção do tecido floral senescente. (Danielson et al., 2004).
Quando em condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo, a doença pode ocasionar perdas na cultura da soja de até 100% de produtividade. Furlan (2005) cita que, uma lavoura pode sofrer, em média, perdas que podem variar de 30% a 100% em períodos chuvosos e quando não forem tomadas medidas preventivas de controle.
Sobre o mofo-branco
Considerado uma das doenças mais antigas na cultura da soja, o mofo-branco tem seu ambiente favorável em localidades de altos índices de precipitação e temperaturas amenas. Não é só uma doença preocupante no solo mas também de parte aérea. O dano de parte aérea normalmente está associado às flores infectadas, reduzindo a produção de grãos, com medidas de controle elevando os custos de produção, visto que os fungicidas recomendados para seu controle são específicos.
Após o florescimento tem-se uma proliferação da doença, e isso ocorre porque a flor é fonte primária de energia, possibilitando o surgimento de novas infecções. Assim, depois da colheita, os escleródios que antes estavam na planta vão para o solo, vindo a ser fonte de inóculo para a cultura sucessora. O fungo sobrevive por muito tempo no solo, devido à resistência apresentada pelo seu esporo, que é um dos alvos de utilização de Trichoderma em soja.
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Na figura 1 abaixo, pode-se visualizar os sintomas de mofo-branco em plantas de soja (A), escleródios em meio de cultura (B), escleródios associados à sementes de soja (C), e sementes de soja tratadas com Trichoderma visando o controle de S. sclerotiorum (D).

Em tempo seco, o progresso da doença pode ser retardado ou paralisado, mas é retomado quando as condições de alta umidade retornam. O micélio pode permanecer viável em flores infectadas por até 144 horas em condições desfavoráveis e retoma o desenvolvimento quando as condições favoráveis retornam (Harikrishnan & Del Río, 2006).
A planta de soja infectada apresenta, inicialmente, lesões aquosas, de onde crescem as hifas, formando o abundante micélio (Bolton et al., 2006). Com o avanço da colonização do tecido vegetal pelo fungo, as lesões inicialmente encharcadas tornam-se secas, de aspecto descolorido e normalmente esbranquiçadas e não apresentam mais sinais externos. Todo tecido vegetal, epiderme, tecido parenquimatoso e feixes vasculares são colonizados pelo patógeno, indistintamente.
Manejo da doença
Entre as recomendações para manejo do mofo-branco, podem ser destacadas práticas culturais como o controle cultural com formação da palhada para o sistema de plantio direto (SPD), uso de tratamento de sementes, rotação de culturas, uso de população de plantas e espaçamento adequados, emprego de controle químico e o controle biológico com antagonistas.
O controle biológico com aplicação de Trichoderma harzianum pode reduzir em 62,5% o número de escleródios viáveis. Além disso, quando a planta não tem patógenos, o uso de Trichoderma promove o seu crescimento, e desenvolvimento de raízes laterais, além da solubilização de nutrientes e tolerância à estresses abióticos.
Controle do mofo-branco com o uso de Trichoderma
O gênero Trichoderma é um fungo que foi introduzido como agente de biocontrole por Persoon há mais de 200 anos (Lima, 2002). Esse fungo é um bioregulador e antagonista natural dos fitopatógenos Rhizoctonia solani, Fusarium oxysporum, Fusarium rosseum, Botrytis cinerea, Sclerotium rolfsii, Sclerotinia spp, Phythium spp, Alternaria spp, Armillaria mellea, Rosellinia spp, entre outros fungos de interesse no meio agrícola.
Sua atuação diminui ou elimina a necessidade do uso de fungicidas químicos, é o mais efetivo agente biocontrolador para patógenos do solo (Harman, 2000). Trichoderma spp. alimenta-se de nutrientes dos fungos parasitados e de material orgânico. Requer umidade para germinar, porém, não tolera encharcamento.
O Trichoderma apresenta algumas limitações às altas temperaturas, raios ultravioletas e baixa umidade relativa. Em decorrência destas limitações, cuidados devem ser tomados ao aplicar o produto na área. Sempre que possível, fazer as aplicações no final do dia ou à noite, com o solo úmido ou então, irrigar a área quando tiver sistema de irrigação, assegurando a sobrevivência e a distribuição do fungo, aumentando a sua eficiência.
Estudos comprovaram que diferentes espécies de Trichoderma sp. atuam de forma antagônica sobre patógenos de plantas por meio de parasitismo, hiperparasitismo e micoparasitismo, competição, indução da resistência e antibiose. A competição é um dos principais mecanismos de ação do Trichoderma, competindo por espaço, luz, água, nutrientes e oxigênio com os fitopatógenos.
No uso de Trichoderma, a aplicação deve ser realizada antes que a doença apareça ou se alastre no campo. Embora, dependendo do fitopatógeno, existe a possibilidade de ser aplicado depois da ocorrência da doença para diminuir a concentração das estruturas reprodutivas do patógeno que permanecem no solo em estado de dormência por anos. Assim, no próximo ciclo de cultivo de uma planta suscetível ao patógeno, haverá redução do número de plantas doentes.
A aplicação dos produtos comerciais à base de Trichoderma pode ser realizada em sementes ou outros materiais de propagação vegetal; diretamente no solo; em substratos para a produção de mudas; na parte aérea das plantas; em resíduos de culturas ou outros substratos orgânicos; em frutos ou, ainda, nas plantas utilizadas na rotação de culturas.
Entretanto, em áreas com alta incidência de escleródios de S. sclerotiorum no solo, podem ser sugeridas, outras aplicações antes do florescimento e fechamento da cultura; na fase de pós-colheita, sobre a palhada, para reduzir os escleródios presentes no solo que vão causar a doença no próximo ciclo da cultura e, ainda, na cultura utilizada no sistema de rotação, tais como feijão, girassol e algodão.
Na figura 2 abaixo, pode-se observar a relação entre a incidência do mofo-branco na soja, em tratamentos com ou sem palhada de Brachiaria ruziziensis, e diferentes doses de doses de T. harzianum 1306 com 2×109 esporos viáveis mL-1, em experimento conduzido em Jataí, Goiás.

Na figura 3 tem-se um estudo abordando as respostas de rendimento, estande, número de vagens por planta e massa de 100 grãos às doses do antagonista, obtidos em um trabalho realizado em Goiás:

No estudo realizado por Guareschi et al. (2012) (tabela 1), onde foram utilizados os seguintes tratamentos: solo esterilizado sem inoculação de Trichoderma spp.; solo não esterilizado sem inoculação de Trichoderma spp.; solo esterilizado com inoculação de Trichoderma spp.; e solo não esterilizado com inoculação de Trichoderma sp, respectivamente, não foram encontrados escleródios do fungo causador do mofo-branco, mas pôde-se observar o incremento da produção de massa fresca (MF) e seca (MS) da cultura da soja através da aplicação de Trichoderma.

Custos
Para produtos à base de Trichoderma, existem opções disponíveis no mercado com custos entre R$ 60,00 e R$ 125,00 por hectare para uso em pré ou pós-emergência. Embora os custos dos produtos biológicos assemelhem-se aos químicos, deve se considerar que os produtos são complementares e que a adoção diminui a pressão, pois podem ser utilizados em diferentes momentos do clico da cultura (ou mesmo após sua colheita) e possibilita assim controles mais eficientes quando se utilizam fungicidas químicos. Assim, além da eficácia, seu uso traz benefícios ao meio ambiente sendo uma tendência no mercado nacional e internacional.
Mais informações pode ser acessadas clicando aqui.
Confira também:
https://maissoja.com.br/trichoderma-versus-mofo-branco/
http://www.biologico.sp.gov.br/uploads/files/pdf/cartilhas/trichoderma.pdf.
Redação: Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.