A resistência de plantas daninhas a herbicidas constitui-se um dos obstáculos para a obtenção de altas produtividades nos cultivos agrícolas. No Brasil, existem 51 casos de resistência registrados, sendo 41 casos em lavouras de sequeiro, com 22 espécies daninhas envolvidas (Heap, 2020).

Nas lavouras de sequeiro, 27 casos são de resistência a um mecanismo de ação e 14 a dois ou mais mecanismos de ação. Diante disso, é de grande importância o conhecimento das práticas agronômicas realizadas pelos produtores para entender o surgimento e evolução da resistência. Objetivou-se com este levantamento identificar e caracterizar as principais práticas de manejo adotadas por produtores no controle de plantas daninhas resistentes em lavouras de soja e milho no Rio Grande do Sul (RS).

Metodologia 

Para realizar o estudo, foi aplicado um questionário a produtores de soja e/ou milho contendo perguntas sobre práticas de manejo de plantas daninhas resistentes no RS. Participaram da pesquisa 80 produtores rurais assistidos pelas cooperativas Coasa, Camnpal, Cotrisal, Coopatrigo, Coopermil, Cotribá, Cotriel, Cotripal, Coagrisol e Comtul ou pela Emater, abrangendo 60 municípios, durante a safra 2018/19.

As questões abordaram a adoção de cultivares resistentes a herbicidas, percepção sobre as causas de baixa eficiência do manejo químico, principais estratégias de manejo adotadas para plantas resistentes e práticas agronômicas para o manejo de plantas daninhas nas propriedades. Cada questionário caracteriza a percepção de um único produtor. A análise dos dados foi realizada através de estatística descritiva.

Resultados 

Observou-se que na média de 5 safras há adoção muito alta (acima de 76% da área total do produtor) da tecnologia Roundup Ready® (RR) nas propriedades com os cultivos de soja RR (90%) e milho RR (73%) no RS (Figura 1A e 1B). Este resultado pode ser relacionado às vantagens que a tecnologia RR proporciona como o uso de glifosato em pós-emergência da cultura, além da sua simplicidade e flexibilidade para o controle de espécies daninhas. Fica evidente a alta pressão de seleção para resistência devido ao uso quase exclusivo e contínuo de glifosato nessas áreas.

Figura 1. Adoção pelos produtores da tecnologia soja RR (A) e milho RR (B), em relação à área total de cada propriedade, na média de 5 safras (2014/15 a 2018/19). (n= 73). Baixa: ≤ 25% da área total; Média: 26 a 50% da área total; Alta: 51 a 75% da área total; Muito alta: ≥ 76% da área total.

A conscientização dos produtores acerca dos problemas de falhas no controle de plantas daninhas é essencial para que medidas de manejo sejam empregadas de forma correta. Neste sentido, mistura de herbicida foi citada por 46% dos produtores como principal prática para manejar plantas daninhas escapes ao controle de herbicidas (Figura 2A), pois além de aumentar o espectro de controle permite a utilização e a associação de diferentes mecanismos de ação herbicida, minimizando os riscos de surgimento de plantas daninhas resistentes.

Figura 2. Estratégias de controle adotadas pelos produtores para o controle de plantas daninhas escapes (A) e práticas de manejo associadas ao controle químico (B) nas lavouras de soja e milho no RS. (n= 67).

Todavia, sabe-se que estratégias apoiadas apenas em métodos químicos são responsáveis pelo aumento substancial dos relatos de resistência a herbicidas. Nesta pesquisa, constatou-se que 28% dos produtores realizam o cultivo de outono-inverno, 25% o manejo na entressafra (herbicidas, roçadas) e 21% adotam a rotação/sucessão de culturas, práticas que foram associadas ao controle químico de plantas daninhas nas lavouras de soja e/ou milho (Figura 2B).

Ressalta-se que tais práticas, quando manejadas adequadamente, promovem a redução das populações de plantas daninhas. Em menor proporção, foi utilizado o sistema de preparo do solo como técnica para eliminar as plantas daninhas, alternando o preparo convencional com o plantio direto, e o uso de roçadeira (controle mecânico).

Conclusões 

As cultivares de soja e milho resistentes a glifosato são amplamente utilizadas pelos produtores no RS, praticamente na totalidade de sua área de produção.

Mistura de herbicidas é a principal prática utilizada pelos produtores para o controle de plantas daninhas escapes.

O cultivo de outono/inverno, manejo na entressafra (herbicidas, roçadas) e a rotação/sucessão de culturas são as principais práticas adicionais ao manejo químico adotadas por produtores de soja e/ou milho do RS.

Agradecimentos

À FAPERGS (Edital 01/2017), pelo apoio financeiro e às Cooperativas, Emater e Produtores Rurais, pela participação.

Autores:

Anelise L. da Silva – Mestranda do PPG Agronomia – UFSM
André da R. Ulguim – Prof. Adj, Dept. Def. Fitossanitária – UFSM
Alessandra M. Wesz – Acad. do curso de Agronomia – UFSM
Aline S. Holkem – Acadêmica do curso de Agronomia -UFSM
Mario A. Bianchi – Pesquisador – CCGL

Literatura Consultada 

HEAP, I. Internacional survey of herbicide resistant weeds. Disponível em: <www.weedscience.org>. Acesso em: 16 Jan. 2020.

RIAR, D.S., et al. Adoption of best management practices for herbicide-resistant weeds in Midsouthern United States cotton, rice, and soybean. Weed Tech., v.27, p.788-797, 2013.

ULGUIM, A.R., et al. Manejo de capim-pé-de-galinha em lavouras de soja transgênica resistente ao glifosato. Pesq. Agropec. Bras., v.48, p.17-24, 2013.

VARGAS, L., et al. Práticas de manejo e a resistência de Euphorbia heterophylla aos inibidores da ALS e tolerância ao glyphosate no Rio Grande do Sul. Planta Daninha, v.31, p.427-432, 2013.

Fonte: CCGL

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