O percevejo barriga-verde (Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus) é uma das principais pragas dos sistema soja-milho. Considerando que o pico populacional dos percevejos em soja ocorre ao final no período de enchimento de grãos da cultura, falhas de manejo na soja podem resultar em elevada pressão de percevejos no milho cultivado na sucessão, prejudicando o estabelecimento do milho.

Figura 1. Dinâmica populacional do percevejo barriga-verde no sistema de produção soja-milho.
Fonte: Garcia , A. N.

De acordo com Ávila (2015), os danos resultam da alimentação do percevejo e variam conforme o nível de infestação e o estágio em que a praga atinge a cultura. Caso o meristema apical da planta seja comprometido durante a alimentação, as folhas centrais da plântula murcham e secam, manifestando o sintoma conhecido como “coração morto”; também pode ocorrer o perfilhamento da planta, tornando-a improdutiva (Figura 2).

Se o meristema apical não for afetado, as primeiras folhas que emergem do cartucho apresentam estrias esbranquiçadas transversais, frequentemente com perfurações de halo amarelado, resultantes das punções do inseto ao se alimentar na base da planta ainda jovem. Quando as folhas do cartucho não conseguem se desenrolar, a planta adquire um aspecto de “encharutamento” (Ávila, 2015).

Figura 2. Planta de milho com sintomas de ataque de percevejos.
Fonte: Chiaradia; Nesi; Ribeiro (2016)

Dentre as principais estratégias de manejo para reduzir os danos do percevejo barriga-verde em milho, destaca-se o tratamento de sementes com inseticidas específicos. Avaliando o efeito de diferentes inseticidas químicos aplicados nas sementes de milho, para o controle de adultos de D. melacanthus, Fernandes; Ávila; Silva (2019) observaram que os maiores índices de controle do percevejo-barriga-verde foram obtidos com clotianidina e tiametoxam, variando, respectivamente, de 90% a 97,5% e de 80% a 97,5%, demonstrando que o grupo dos neonicotinoides apresenta grande eficiência para o controle do percevejo barriga-verde via tratamento de sementes no milho.

Tabela 1. Número médio de insetos mortos (N) e porcentagem (%) de controle (C) de adultos do percevejo Diceraeus melacanthus em diferentes tratamentos químicos aplicados nas sementes de milho, aos 7 dias após as infestações realizadas aos 7, 14, 21 e 28 dias após a emergência das plantas (DAE) em casa de vegetação. Dourados, MS (1).
(1)Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05)
Fonte: Fernandes; Ávila; Silva (2019)

Vale destacar que o efeito residual desses produtos químicos, quando utilizados no tratamento de sementes de milho é limitado, o que torna necessário em algumas situações, realizar um controle pós-emergência do milho, via pulverização de inseticidas.


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A medida em que há o aumento da população do percevejo barriga-verde em milho, há redução da produtividade e o aumento das perdas de produção na cultura (figura 3). Sendo assim, para evitar perdas de produtividade e assegurar a manutenção do potencial produtivo do milho, o monitoramento periódico das lavouras e o controle efetivo dos percevejos é crucial para o sucesso da lavoura de milho.

Figura 3. Produção de milho e perdas de produtividade por hectare, em função da densidade populacional de Diceraeus.
Fonte: Garcia (2022)

Para um controle eficiente dos percevejos no milho, é fundamental conhecer os níveis de dano econômico e o nível de ação. O nível de dano econômico varia de acordo com o custo de controle, uma vez que leva em consideração a densidade populacional da praga, capaz de causar injúria equivalente ao custo de controle.

Já com relação ao nível de ação para o controle do percevejo barriga-verde, recomendações de manejo estabelecem o nível de 0,5 percevejos por m² ou 1 percevejo a cada 10 plantas para o controle dos percevejos. Se o nível de dano for atingido na fase inicial de desenvolvimento do milho (da emergência até V4), será necessário o controle da praga, pois os danos causados nessas fases podem resultar em desuniformidade da lavoura, perfilhamento, plantas dominadas e perdas significativas do potencial produtivo, resultando, assim, em danos econômicos para os produtores (Garcia, 2022).

Para um controle eficaz dos percevejos, além do monitoramento para definir o momento de controle, é preciso atentar para o posicionamento dos inseticidas no campo, dando preferencia para moléculas com maior performance. Analisando a eficiência de diferentes inseticidas no controle do percevejo barriga-verde em milho, Grigolli & Grigolli (2019) observaram que, dentre os inseticidas analisados pelos autores, Connect (1200 mL ha-1), Engeo Pleno S (250 e 300 mL ha-1), Galil SC (350 e 400 mL ha-1), Zeus (500 mL ha-1) e Expedition (300 e 400 mL ha-1) apresentaram 80% de controle em pelo menos uma avaliação (tabela 2), enfatizando a eficiência desses inseticidas para o controle do percevejo barriga-verde em milho.

Tabela 2. Eficiência (%) de controle do percevejo barriga-verde (% de redução da nota de dano) em plantas de milho aos 7, 14, 21, 28, 35 e 42 dias após a segunda aplicação dos tratamentos (DAA). FUNDAÇÃO MS, Maracaju, MS, 2020.
Fonte: Grigolli & Grigolli (2019)

Considerando o impacto do percevejo barriga-verde no milho, realizar o controle eficiente dessa praga é crucial para a manutenção da produtividade do milho, sendo portanto, fundamental realizar o tratamento de sementes com inseticidas o monitoramento periódico da lavoura e o controle químico via pulverização quando necessário.


Veja mais: Componentes de produtividade do milho


Referências:

ÁVILA, C. J. MANEJO INTEGRADO DAS PRINCIPAIS PRAGAS QUE ATACAM A CULTURA DO MILHO NO PAÍS. visão agrícola n. 13, 2015. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA_13_Protecao_plantas-artigo2.pdf >, acesso em: 18/02/2025.

CHIARADIA, L. A.; NESI, C. N.; RIBEIRO, L. P. NÍVEL DE DANO ECONÔMICO DE PERCEVEJO BARRIGA-VERDE Dichelops furcatus (Fabr.) (Hemiptera: Pentatomidae), EM MILHO. Agropecu. Catarin., 2016. Disponível em: < https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/rac/article/view/93/29 >, acesso em: 18/02/2025.

CHIARADIA, L. A.; NESI, C. N.; RIBEIRO, L. P. NÍVELDE DANO ECONÔMICO DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE Dichelops furcatus (Fabr.) (Hemiptera: Pentatomidae) EM MILHO. Agropecu. Catarin., Florianópolis, v.29, n.1, p.63-67, jan./abr. 2016. Disponível em: < https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/rac/article/view/93/29 >, acesso em: 18/02/2025.

FERNANDES, P. H. R.; ÁVILA, C. J.; SILVA, I. F. CONTROLE DO PERCEVEJO Dichelops melacanthus POR MEIO DE INSETICIDAS APLICADOS NAS SEMENTES DE MILHO. Embrapa Agropecuária Oeste, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 82, 2019. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1112233/1/BP822019CREBIO.pdf >, acesso em: 18/02/2025.

GARCIA, A. N. COMO DEVEMOS REALIZAR O MANEJO DE PERCEVEJOS NO MILHO SAFRINHA? KWS Sementes, informativo Agroservice. Disponível em: < https://www.kws.com/br/media/download-informativo/kws_br_informativo_agroservice_percevejo_milhosafrinha.pdf >, acesso em: 18/02/2025.

GARCIA, A. N. COMO DEVEMOS REALZIAR O MANEJO DE PERCEVEJOS NO MILHO SAFRINHA? KWS Sementes, Informativo Agroservice, 2022. Disponível em: < https://www.kws.com/br/media/download-informativo/kws_br_informativo_agroservice_percevejo_milhosafrinha.pdf >, acesso em: 18/02/2025.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO E CONTROLE DE PRAGAS DO MILHO SAFRINHA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Milho Safrinha, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Milho-Safrinha-2019.pdf >, acesso em: 18/02/2025.

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