Mesmo com a finalização da colheita de soja em muitas regiões brasileiras, a disputa entre compradores domésticos e externos esteve mais acirrada no mês de março, cenário que elevou com força os preços de soja no País. Isso porque, em meio à pandemia de coronavírus, o dólar atingiu patamar recorde nominal em março, operando acima de R$ 5,00 durante toda a segunda quinzena do mês.

Além disso, como forma de impedir o avanço da covid-19, o governo argentino limitou o movimento nos portos do país, cenário que favoreceu as vendas brasileiras de soja e derivados. Inclusive, a colheita da oleaginosa na Argentina teve início no final de março, mas, por enquanto, a produtividade está inferior à da safra passada, segundo a Bolsa de Buenos Aires, que sinaliza redução de 4,81% na estimativa de produção, prevista agora em 49,5 milhões de toneladas.

Diante das dificuldades em adquirir produtos de outros países da América do Sul, como da Argentina, e atentos ao menor preço e volume abundante no Brasil, novos compradores internacionais direcionaram suas aquisições ao mercado brasileiro.

Em março, os embarques de soja em grão totalizaram 11,6 milhões de toneladas, mais que o dobro do escoado em fevereiro e apenas abaixo do volume recorde exportado em maio/18 – quando, vale lembrar, a disputa comercial entre Estados Unidos e China estava acirrada. No primeiro trimestre de 2020, as vendas de soja somaram 18,25 milhões de toneladas, 12,3% acima das registradas no mesmo período de 2019, conforme dados da Secex.

De farelo de soja, o Brasil enviou ao exterior 1,56 milhão de toneladas em março, mais que o dobro do volume exportado em fevereiro e 8,9% a mais que o escoado no mesmo período de 2019. No acumulado do primeiro trimestre de 2020, no entanto, os embarques de farelo estiveram 5,3% inferiores aos do mesmo período do ano passado.

De óleo de soja, as exportações somaram 102,41 mil toneladas no mês passado, o maior volume registrado desde julho de 2019, quase 70% acima do de fevereiro e 31,2% superior ao de março de 2019. No primeiro trimestre de 2020, o Brasil exportou 175,38 mil toneladas de óleo de soja, 14,8% a mais que no mesmo período de 2019.

No Brasil, apesar dos patamares nominais recordes, boa parte da safra foi negociada antecipadamente. Alguns produtores apenas escoaram a soja em março e fizeram novos volumes para serem entregues no segundo semestre deste ano e também parte da safra 2020/21, com entrega prevista para o primeiro semestre de 2021.

Preços

Entre as médias de fevereiro e de março, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá subiu expressivos 8,4%, com média de R$ 94,97/sc de 60 kg no último mês – vale ressaltar que, na última semana de março, o Indicador estava acima de R$ 100,00/sc, patamar recorde nominal da série histórica do Cepea, iniciada em março de 2006. Quanto ao Indicador CEPEA/ESALQ Paraná, a elevação foi de 8,3% entre fevereiro e março, com média de R$ 88,23/sc de 60 kg no último mês, 20,8% superior à de março/19.

Em termos reais (IGP-DI de fevereiro/20), as médias de ambos os Indicadores são as maiores desde outubro de 2018. O dólar, por sua vez, teve média de R$ 4,8970 em março, recorde nominal, 12,7% acima da de fevereiro e 27,3% maior que a de março/19.

Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da soja subiram 6,1% no mercado de balcão (preço pago ao produtor) e 6,3% no de lotes (negociações entre empresas) no mês de março. Entre as médias de março/19 e março/20, os aumentos foram de 19,2% e de 19,5% para os respectivos mercados.

A alta no preço do grão dificultou as aquisições por parte de indústrias brasileiras, mas, mesmo assim, muitas estiveram ativas nas compras no decorrer do mês, diante da firme demanda por farelo de soja. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações de farelo de soja subiram 9,7% entre fevereiro e março e quase 24% no ano.

Já a demanda por óleo de soja esteve mais enfraquecida, especialmente pelo segmento de biodiesel. Na cidade de São Paulo (SP), o preço desse derivado (com 12% de ICMS incluso) cedeu 0,6% entre fevereiro e março, com preço médio de R$ 3.521,74/tonelada, no último mês. Entre março/19 e março/20, no entanto, houve expressiva alta de 28,3%.

Nos Estados Unidos, os preços futuros foram pressionados pelos altos estoques. No entanto, o movimento de queda foi limitado pelas expectativas de que a China volte a comprar novos lotes dos Estados Unidos, com o objetivo de cumprir a primeira fase do acordo comercial com o governo norte-americano.

Vale ressaltar que a China e os Estados Unidos fizeram um acordo comercial no início deste ano, no qual o país asiático deve adquirir mais de US$ 50 bilhões em produtos norte-americanos neste e no próximo ano. Esse cenário, por sua vez, pode enfraquecer as exportações do Brasil para a China no segundo semestre de 2020, quando a safra norte-americana entra no mercado.

Com isso, na CME Group (Bolsa de Chicago), o primeiro vencimento da soja se desvalorizou 1,9% no mês e 3% em um ano, com média de US$ 8,6909/bushel (US$ 19,16/sc de 60 kg) em março. A queda no contrato de óleo de soja foi mais intensa, devido à baixa demanda estadunidense, especialmente pelo setor de biodiesel – o contrato de primeiro vencimento cedeu expressivos 11,1% no mês e 8,1% em um ano, com média de US$ 0,2690/lp (US$ 592,93/t) em março. Já o contrato futuro de farelo de soja registrou valorizações de 6,5% no mês e de 1,1% em um ano, com média de US$ 309,76/tonelada curta (US$ 341,45/t) em março/20 – essa alta se deve à menor oferta de farelo de soja da Argentina.

Fonte: Cepea

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.