O mercado do arroz atravessa um momento de extrema instabilidade, marcado por uma paralisia comercial quase total, um atraso crítico no plantio da safra 2025/26 e uma preocupante perda de consumo interno. Segundo o analista e consultor de Safras & Mercado, Evandro Oliveira, a conjunção desses fatores resultou em uma fragilidade estrutural que impacta diretamente a liquidez e a rentabilidade do setor.

No âmbito da comercialização, a média da saca de arroz no Rio Grande do Sul (58/62% de grãos inteiros, pagamento à vista) encerrou o dia cotada a R$ 58,66, representando uma queda de 0,79% em relação à semana anterior. A desvalorização é ainda mais acentuada em períodos maiores, atingindo 11,91% na comparação mensal e impressionantes 50,61% em relação ao ano de 2024.

Segundo Oliveira, a retração nas negociações foi drasticamente acentuada pela recente implementação da fiscalização eletrônica automática da tabela de fretes pela ANTT. “Este controle mais rígido elevou o custo do transporte e gerou maior insegurança operacional, levando muitas unidades de beneficiamento ativas a se retirarem temporariamente do mercado físico. O resultado imediato dessa intervenção logística é a paralisia comercial que se observa, intensificando a falta de liquidez e fortalecendo o ambiente de incerteza”, apontou.

Do lado da produção, a safra 2025/26 enfrenta severos atrasos. Segundo o último relatório da Emater-RS, o plantio atingiu apenas 12% da área total projetada no estado. A situação é particularmente negativa na Fronteira Oeste, onde somente 5,4 mil hectares haviam sido cultivados até o momento da análise. As dificuldades são atribuídas principalmente às chuvas intensas e ao solo encharcado, que limitam o preparo das áreas e o estabelecimento das lavouras. Adicionalmente, o risco econômico cresce à medida que os produtores reduzem o uso de insumos em resposta à queda acentuada dos preços de comercialização e à escassez de crédito, o que ameaça a produtividade futura.

Paralelamente aos desafios logísticos e climáticos, conforme o analista, o setor enfrenta uma crise de demanda estrutural. O consumo per capita de arroz no Brasil caiu mais de 10 kg em cerca de duas décadas, passando de mais de 40 kg por pessoa em 2005 para aproximadamente 30 kg atualmente. Essa mudança reflete transformações nos hábitos alimentares da população, que incluem menos tempo para cozinhar, maior adesão ao delivery e consumo de alimentação ultraprocessada, comprometendo o tradicional binômio alimentar arroz-feijão.

“Em resposta, o setor tem buscado reforçar campanhas de consumo, adaptando sua comunicação para um público que prioriza conveniência e praticidade, embora esses esforços sejam classificados como incipientes frente à velocidade das mudanças comportamentais”, relatou.

No cenário externo, os preços globais do arroz estão em um estado de “colapso competitivo”, com os principais players asiáticos atingindo mínimas históricas. A Tailândia, por exemplo, lidera a queda com o arroz 5% de quebrados cotado a US$ 339 por tonelada, o valor mais baixo em quase duas décadas, sufocada pela oferta abundante e pela força do Baht.

Fonte: Ritiele Rodrigues – Safras News



 

FONTE

Autor:Ritiele Rodrigues/Safras News

Site: Safras & Mercado

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.