Esta Nota de Conjuntura traz o acompanhamento dos preços domésticos e internacionais até julho de 2023 e do balanço de oferta e demanda dos principais produtos agropecuários brasileiros referente à safra atual.

O segundo trimestre de 2023 segue com preços domésticos dos principais produtos abaixo dos praticados nesse mesmo período nos dois anos anteriores. Esse é o caso tanto dos principais grãos – soja, milho e trigo – quanto das carnes – bovina, suína e de frango. Com o aumento da oferta nacional, consequência da boa safra 2022-2023, o Brasil não só aumentou a oferta doméstica, como também elevou o seu potencial de exportação. De fato, o que tem se observado ao longo do ano é a capacidade do país de aproveitar o cenário favorável para manter sua posição de liderança no mercado internacional, além de ampliar sua participação nos embarques de commodities, até então com menos peso na pauta de exportação, como tem sido o caso do trigo e do farelo de soja.

Soja: Preço doméstico: No segundo trimestre de 2023, os preços da soja operaram em patamares abaixo dos de 2021, influenciados pelos amplos estoques no Brasil e pela safra 2022-2023 também recorde do país – mesmo que as vendas sejam recordes nesta safra, a oferta se sobressaiu à demanda. Além disso, a queda nos prêmios de exportação da soja no Brasil pressionou o indicador Cepea/Esalq Paraná de preço da soja. Vale ressaltar que, embora as exportações da oleaginosa brasileira estejam em ritmo acelerado neste ano, em junho o preço recebido chegou a atingir o menor patamar dos últimos dois anos. No mês seguinte, entretanto, os preços domésticos da oleaginosa registraram ligeira recuperação, em razão das chuvas tardias em áreas de produção de soja nos Estados Unidos e ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que elevou a demanda global por óleo de soja. Ainda assim, em julho, o preço médio foi significativamente inferior ao registrado um ano antes.

Perspectivas: Diante da queda nos preços domésticos, sojicultores brasileiros estão retraídos nas vendas envolvendo grandes volumes. Uma parcela dos produtores mostra preferência por guardar o remanescente da safra 2022-2023 em silos-bolsa, em detrimento de comercializar o grão no mercado spot – vale lembrar que esse tipo de armazenamento não é comum para a soja, pois pode elevar a umidade do grão e prejudicar a qualidade do
óleo de soja. Além da baixa atratividade do preço da soja no mercado internacional, a demanda da indústria brasileira aumentou. Isso porque, com a menor oferta na Argentina, as estimativas do USDA indicam que o Brasil deve expandir suas exportações de farelo de soja na safra 2022-2023, tornando-se o maior fornecedor mundial desse subproduto, à frente da Argentina – que, atualmente, é o principal exportador global de derivados de soja. O Brasil não liderava as vendas externas de farelo desde a safra 1997-1998. Com base no preço FOB da soja negociado no porto de Paranaguá (Paraná) e no dólar futuro negociado na B3, a paridade de exportação da soja foi calculada pelo Cepea em R$ 157,00/ saca de 60 kg, em média, para embarque em setembro de 2023, e em R$ 161,00/saca de 60 kg para outubro de 2023. Para 2024, a paridade indica preços de R$ 141,00 a R$ 143,00, de fevereiro de 2024 a março de 2024, abaixo dos praticados no primeiro trimestre de 2023. Diante desse cenário, as estimativas de importação também foram revistas pela Conab, passando de 500 mil toneladas para 200 mil toneladas – queda de 52,3% –, e a participação do Brasil no comércio internacional pode fechar a safra 2022-2023 com crescimento de 21,5% em relação a 2021-2022 – diante da estimativa de queda de produção dos Estados Unidos e de foco desse país no mercado doméstico.

Produção: Para a safra 2022-2023, a Conab eleva a estimativa de produção brasileira em 29,05 mil toneladas, e deve finalizar com os estoques em torno de 7,17 milhões de toneladas (tabela 1). Com isso, há um ajuste de 360 mil toneladas de perdas e sementes. A produção estimada em 154.603,4 mil toneladas supera em 10,5% o antigo recorde de produção, alcançado na safra 2020-2021. Esses resultados se devem às excelentes condições climáticas ocorridas na maioria das regiões produtoras, com exceção do Rio Grande do Sul, e à alta tecnologia empregada pelos produtores. Os recordes de produtividade foram alcançados em diversos estados, com destaque para o Mato Grosso, maior produtor nacional, e para a Bahia, que igualou o recorde de produtividade da safra
2020-2021. Foram cultivados 44.072,9 mil hectares, que alcançaram a média de produtividade de 3.508 kg/ha.

Preço internacional: Após sucessivas quedas observadas até maio deste ano, fechando a cotação do grão em 13,85 dólares/bushel (gráfico 2), o preço internacional começa a apresentar sinais de recuperação. Embora esse valor ainda estivesse 15,3% abaixo ante junho de 2022, em junho de 2023 a queda é atenuada para 2,7%, o que sinaliza uma tendência de recuperação de preços para os próximos meses. Esse resultado já provém do impacto das revisões subsequentes de produção de soja dos Estados Unidos – principal concorrente do Brasil. De fato, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agriculture – USDA), o país não só apresentou queda
de 4,2% na produção entre 2021-2022 e 2022-2023, mas também terá nova queda (1,7%) na safra 2023-2024. Até o relatório de julho, a instituição acreditava em manutenção dos mesmos patamares de produção. No entanto, com a revisão para baixo da estimativa (expectativa de produzir 2,58 milhões de toneladas a menos nessa safra), os Estados Unidos devem se voltar ao mercado doméstico e exportar menos, dando margem à maior participação do Brasil.

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Por Ana Cecília Kreter , José Ronaldo de C. Souza Júnior, Wellington Silva Teixeira e Nicole Rennó Castro
Fonte: Ipea, disponível no portal da SNA

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