As cotações da soja cederam durante a semana, com o primeiro mês cotado chegando a romper o piso dos US$ 15,00/bushel em alguns dias, algo que não era visto desde meados de janeiro. O fechamento desta quinta-feira (02), porém, recuperou um pouco o terreno e acabou ficando em US$ 15,19/bushel, contra US$ 15,34 uma semana antes. Já a média de fevereiro fechou em US$ 15,27/bushel, ou seja, 1,1% acima da média de janeiro. Em fevereiro do ano passado a média havia sido de US$ 15,88, fato que confirma um quadro levemente baixista em Chicago neste início de ano.
Dito isso, na semana encerrada em 23 de fevereiro, os EUA embarcaram 690.984 toneladas de soja, volume este que ficou abaixo das expectativas do mercado. Em todo o atual ano comercial os embarques de soja estadunidenses chegam a 42,1 milhões de toneladas, o que representa 3% acima do realizado no mesmo período do ano anterior.
E aqui no Brasil os preços continuam a ceder, diante de prêmios portuários menores e um câmbio estabilizado abaixo de R$ 5,20 em boa parte da semana. Apesar da média gaúcha ter subido um pouco, fechando a semana em R$ 165,28/saco, as principais praças de comercialização do Estado reduziram seus valores, operando entre R$ 159,00 e R$ 160,00/saco. No ano passado, nesta mesma época, o saco de soja, ao produtor gaúcho, nestas praças, valia R$ 197,00. Portanto, temos um recuo entre 37 e 38 reais no valor do saco de soja no Rio Grande do Sul, em relação ao mesmo período do ano passado. Isso significa algo ao redor de 20% a menos no valor do produto. Considerando que a nova safra terá, mais uma vez, importantes quebras climáticas, e que o custo de produção geral pouco baixou, quando baixou, pode-se ter uma clara ideia das dificuldades que o setor vem enfrentando nestes últimos tempos.
Já nas demais praças do país, os preços da soja oscilaram igualmente em baixa nesta semana, variando entre R$ 142,00 e R$ 157,00/saco. No ano passado, nesta mesma época, tais preços giravam entre R$ 174,00 e R$ 197,00/saco. Portanto, um recuo entre 32 e 40 reais por saco, ou seja, algo em torno de 20% igualmente.
Em tal contexto, tem-se ainda que a colheita da atual safra de soja nacional continua em ritmo lento, freada pelo excesso de chuvas no Centro-Oeste em particular. Há, inclusive, muita soja colhida com qualidade inferior nesta região. Enquanto isso, na Argentina e no Rio Grande do Sul, apesar de chuvas isoladas, as quebras vão se consolidando. A produção no vizinho país está agora estimada em apenas 33,5 milhões de toneladas, ou seja,11,8% inferior à previsão anterior e 22,6% a menos do que o volume produzido na safra passada.
Por outro lado, em termos de colheita o Brasil teria chegado a 30% da área, contra a média histórica de 31,4%, no final de fevereiro. No mesmo período do ano anterior a mesma atingia a 41,8%. (cf. Safras & Mercado)
Especificamente no Mato Grosso, segundo o Imea, espera-se uma colheita de 42,8 milhões de toneladas nesta safra, cuja colheita já atingia a 76% da área até o final da última semana. Se confirmada, a produção será 4,8% superior a do ano passado.
E no Paraná, a colheita chegava a 17% da área, na mesma época, contra 23% um ano antes. Lembrando que em 2020 a mesma atingia a 42%, nesta época do ano, e em 2019 chegou a bater em mais de 50%. O clima igualmente vem atrasando os serviços de corte da oleaginosa no Estado paranaense. (cf. Deral)
Enquanto isso, e como o previsto, diante das constantes quebras na safra gaúcha, novas previsões estão indicando que a safra de soja brasileira, em seu total, pode ficar em 150,8 milhões de toneladas, talvez menos. Mesmo assim, acima das 129,6 milhões de toneladas que teriam sido colhidas no ano anterior, segundo a Datagro. Já a Pátria Agronegócios estima uma colheita de 148 milhões de toneladas, volume que vai se aproximando do que indicamos em cálculo realizado no comentário passado.
Mas o que vem preocupando o setor da soja, qualquer que seja a produção final no Brasil, é, mais uma vez, a logística. Ou seja, com os atrasos na colheita em diferentes pontos do país, a questão é como se escoará esta soja quando todos os Estados estiverem colhendo a pleno. Hoje há navios parados nos portos por falta de produto para embarcar, fato que derruba os prêmios e reduz o preço da soja aos produtores. Por outro lado, o frete continua subindo e as estradas continuam péssimas. A capacidade de armazenagem, hoje, no Brasil, varia de 70% a 80% de sua produção geral, e quando se analisa detalhadamente as regiões de maior produção o déficit se torna ainda maior e mais evidente. Assim, mais do que quanto o Brasil vai colher, o mercado quer saber agora é como o Brasil vai escoar essa soja. (cf. Agrinvest Commodities)
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).