O Nitrogênio é o nutriente requerido em maior quantidade pela cultura da soja, para obtenção de rendimentos de 3.000 Kg de grãos por hectare, são necessários aproximadamente 240 Kg de nitrogênio, do qual a maior parte é proveniente da fixação biológica de nitrogênio (FBN), realizadas por bactérias do gênero Bradyrhizobium. Essas bactérias retiram o N2 atmosférico, reduzindo-o à forma amoniacal nos nódulos radiculares, de onde é translocado e em seguida convertido a aminoácidos e proteínas (Nogueira & Hungria, 2014).

De acordo com Chavarria (2020), a simbiose entre a soja e as bactérias fixadoras de nitrogênio se inicia a partir do estágio de desenvolvimento V3. Para avaliar o processo, é necessária a cuidadosa remoção de uma planta do solo, seguida da avaliação da quantidade de nódulos presentes em sua raiz. O número ideal em uma planta bem nodulada é entre 15 e 20 nódulos na raiz pivotante, indicando condições propícias para a eficiência da fixação biológica de nitrogênio (FBN). Além disso, ao abrirmos esses nódulos, a coloração rosada é um indicativo fundamental do seu funcionamento, sugerindo um processo ativo de FBN.

Os nódulos contêm proteínas heme que se ligam ao oxigênio, denominadas leg-hemoglobinas. As leg-hemoglobinas são as proteínas mais abundantes nos nódulos, as quais são essenciais para que ocorra a fixação biológica do nitrogênio, além de serem responsáveis por conferir uma coloração rosada, essa coloração representa que os nódulos estão em plena atividade (Taiz et al., 2017).

Figura 1. Corte transversal de um nódulo de soja, com interior cor de rosa, indicando a presença da leg-hemoglobina.

Fonte: Embrapa apud. Chavarria (2020).

Geralmente, é possível identificar os primeiros nódulos nas plantas entre 5 e 8 dias após a emergência. Quando as plantas atingem o estádio V1-V2, espera-se que apresentem, em média, de 4 a 8 nódulos por plantas, com diâmetro de 1 mm a 2 mm. Se a quantidade média de nódulos por plantas permanecer abaixo de 10 até o estádio V3-V4, recomenda-se considerar uma aplicação complementar de inoculante via pulverização. A dose sugerida é de 6 milhões de células por planta, equivalente a 5 a 7 doses de inoculante por hectare, dependendo da concentração do produto, essa aplicação deve ser realizada com volume mínimo de 200 litros por hectare de calda. Essa prática pode contribuir para recuperar parcialmente o processo de nodulação da soja (Hungria & Nogueira, 2020).




Conforme destacam Hungria et al. (2007), a formação dos nódulos ocorre na região chamada coroa da raiz, principalmente na raiz principal, em uma região de aproximadamente 4 cm de comprimento por 3 cm de largura. Os autores destacam que a nodulação parcial pode ser explicada pela ausência de rizóbios fisiologicamente aptos para infectar as raízes naquele momento, além de fatores limitantes relacionados à planta hospedeira e ao ambiente.

Figura 2. Nodulação inicial das raízes: A) parcial ou “fraca” e B) bem-sucedida.

Fonte: Hungria et al. (2007).

Estudos realizados por Zilli et al. (2008) avaliando a inoculação de Bradyrhizobium em soja por meio da pulverização em cobertura, observaram que a inoculação em cobertura proporcionou aumento na nodulação, contribuindo para o aumento na produtividade de grãos. No entanto, os resultados revelaram que, mesmo trazendo benefícios, a inoculação em cobertura não alcançou o mesmo desempenho da inoculação padrão, especialmente no que se refere à produtividade de grãos.

Os tratamentos avaliados na pesquisa incluíram o controle (sem inoculação e sem adubação nitrogenada); padrão (inoculação com duas doses do inoculante comercial (160 g ha-1 do inoculante com aproximadamente 2,65×109 células g-1); nitrogenado (adubação com 200 kg ha-1 de N na forma de ureia (50% no plantio e 50% aos 35 DAE)); e inoculação em cobertura (inoculação pela pulverização, aos 18 DAE, do triplo da dose de inoculante utilizada no padrão).

Figura 3. Número e massa de nódulos secos e massa de matéria seca da parte aérea, de plantas de soja ‘BRS Tracajá’, 35 dias após a emergência, e rendimento e nitrogênio acumulado nos grãos.

Fonte: Zilli et al. (2008).

Os autores destacam que a prática da inoculação em cobertura não é recomendada, a menos que seja constatada falha na nodulação das plantas na lavoura. Nesse sentido, a aplicação de inoculante em cobertura deve ser considerada apenas uma medida corretiva, em situações específicas em que a nodulação não atingiu níveis adequados, não sendo uma prática usual. Essa prática de reforço da inoculação, por meio da aplicação do inoculante em cobertura, pode ser realizada até o início do período reprodutivo, pelo fato de que, desde o momento da infecção até que ocorra a formação efetiva do nódulo, são necessárias de 3 a 4 semanas para efetivação da infecção (Chavarria, 2020).

Hungria & Nogueira (2020), ressaltam que a aplicação do inoculante em cobertura deve ser realizada de maneira isolada, sem mistura com outros produtos, utilizando jato dirigido para o solo. É importante que o solo esteja úmido no momento da aplicação, e que seja realizada, preferencialmente ao final da tarde. Além disso, mesmo seguindo essas recomendações, a recuperação da nodulação ocorrerá de forma parcial, uma vez que a contribuição máxima da fixação biológica de nitrogênio ocorre apenas quando há contato da bactéria com as sementes durante o momento de semeadura.


Veja mais: Como a compactação do solo interfere no cultivo da soja?



Referências:

CHAVARRIA, G. FBN: SEM NÓDULOS, O QUE FAZER? Mais Soja, 2020. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=ZBD4bpKgtwU >, acesso em: 22/11/2023.

HUNGRIA, M. et al. A IMPORTÂNCIA DO PROCESSO DE FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO PARA A CULTURA DA SOJA: COMPONENTE ESSENCIAL PARA A COMPETITIVIDADE DO PRODUTO BRASILEIRO. Embrapa Soja, documentos, 283. Londrina – PR, 2007. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/468512/1/Documentos283.pdf >, acesso em: 22/11/2023.

HUNGRIA, M.; NOGUEIRA, M. A. FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO. Tecnologias de Produção de Soja, sistemas de produção, 17, cap. 8. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123928/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 22/11/2023.

NOGUEIRA, M. A.; HUNGRIA, M. BOAS PRÁTICAS DE INOCULAÇÃO EM SOJA. Embrapa Clima Temperado, 40° Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, Atlas e Resumos. Pelotas – RS, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126872/1/Boas-Praticas-de-Inoculacao.pdf >, acesso em: 22/11/2023.

TAIZ, L. et al. FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO VEGETAL. Artmed, ed. 6. Porto Alegre – RS, 2017.

ZILLI, J. E. et al. INOCULAÇÃO DE Bradyrhizobium EM SOJA POR PULVERIZAÇÃO EM COBERTURA.  Pesquisa agropecuária brasileira, v. 43, n. 4, p. 541-544. Brasília – DF, 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pab/a/5GZPMbWrYr7pcL7N7Bf4MJn/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 22/11/2023.

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