Exatamente como vimos advertindo há meses, os preços do milho estão ganhando impulso neste mês de janeiro, quando os estoques do ano comercial anterior estão se esgotando e a colheita de verão ainda não ganhou impulso.

É claro que os setores de inteligência dos grandes compradores já previram esta possibilidade e garantiram estoques suficientes para atravessar o período, quer de milho nacional, quer de milho paraguaio e até algumas importações de milho argentino, mas os pequenos consumidores de granjas, que compram volumes menores e pagam mais caro, é que estão movimentando o mercado neste momento.

Assim, a pesquisa Cepea desta sexta-feira registrou alta de 0,42%, para a média de R$ 48,07, depois de ter subido 0,10% no dia anterior, para R$ 47,87 no dia anterior. Com isto o acumulado do mês e do ano, nos dois primeiros dias, já atingiu 0,52%.

As informações que recebemos dos mercados físicos são de poucos negócios na maioria das regiões, com preços praticamente inalterados, exceto os que, por um motivo ou outro, precisam realizar compras. Dificuldades logísticas próprias desta época do ano encarecem os custos e os próprios preços, daí a alta registrada.

Quais as perspectivas dos preços do milho para 2020?

No último dia 20 de dezembro fizemos uma análise, intitulada “O milho deverá ser a estrela de 2020”, que atingiu mais de 24.700 acessos no site Agrolink, repicados pelos sites Milk Point e Destaque Rural, onde colocamos os fundamentos desta afirmação. Assim, não queremos repetir o que já foi escrito. Vamos ampliar a análise, focando agora na demanda de milho brasileiro para 2020.

Nossa primeira providência foi atualizar as estimativas por setor de consumo no Brasil, a partir das projeções iniciais da safra feitas pela Consultoria Céleres, que gentilmente nos cedeu a sua estimativa anterior.

Demanda de exportação cresce 50% e de milho para etanol, 100%

As duas principais causas do aumento dos preços do milho em 2019 e que continuarão presentes em 2020 são: o aumento de 50% do volume de exportação do cereal brasileiro, passando de 30 MT para 45 MT e o forte aumento de 100% na demanda interna de milho para etanol, que passou de 0,75 bilhões de litros para 1,45 BL, além de um aumento médio de 3,48% nos demais ítens de consumo interno do milho no país.

A exportação deverá reduzir 11,1% em relação a 2019, diante da maior oferta mundial, mas ainda assim, o volume de 2020 será mais de 40 MT ou cerca de 10,0 MT superior aos volumes anteriores a 2018, o que exigirá um feito extraordinário de nossos agricultores. A situação de oferta & demanda do Paraná é particularmente apertada, diante da sua posição de grande consumidor, grande produtor e exportador médio, tanto para o exterior, quanto para outros estados, assim como as do RS e de SC, estados que tradicionalmente apresentam déficit de produção (1,5MT e 3,3 MT, respectivamente).



A relação estoque/consumo está no seu nível mais baixo dos últimos 12 anos

O principal indicador de tendência de elevação dos preços de milho é o índice da relação estoques/consumo da tabela abaixo que, neste ano de 2019 esteve dramaticamente no seu nível mais baixo dos últimos 12 anos, com apenas 0,08%, metade da média de 0,16% dos 11 anos anteriores, devendo melhorar apenas 0,01% em 2020 e mantendo-se ainda perigosamente baixo, em 0,09%. Grandes e pequenos compradores sabem disto e continuarão muito preocupados.

Os principais efeitos desta preocupação são a continuação e possível incremento na importação de milho do Paraguai, alguma importação da Argentina (dependendo da localização do comprador ela se torna viável) e, principalmente, o aumento da área de produção interna no país, principalmente no Centro-Oeste, que possui grande disponibilidade de área, infraestrutura, dinheiro, mão-de-obra e tecnologia disponível, além da manutenção do preço elevado e lucrativo para os agricultores.

A demanda externa deverá se manter elevada em 2020

A análise sobre a tendência dos preços deve ser feita de fora para dentro do Brasil, a partir da forte demanda chinesa de carnes, provocada pelos problemas de peste africana que atingiu o seu rebanho suíno em 2019 e o reduziu pela metade. Isto produziu um aumento significativo no setor de carnes de todo o mundo, que aumentou as importações de milho.

O USDA aumentou de 148,17 MT as exportações mundiais de milho na safra 2017/18 para 180,4 MT na safra 2018/19 e estima em 166,64 MT o volume a ser exportado em 2019/20, bem acima da média de antes da ocorrência da peste suína no Oeste/Sudoeste da Ásia. O Departamento de Agricultura Americano reduz em 6 MT a exportação brasileira e nós reduzimos em 5 MT a projeção para as exportações da próxima safra, o que praticamente confirma a previsão, assim mesmo mantendo-a bem acima da média dos anos anteriores.

O produção de etanol de milho deverá dobrar em 2020

O segundo ítem analisado, produção de etanol a partir de milho no Brasil, teve um crescimento extraordinário no país em 2019, praticamente dobrando o consumo desta matéria-prima, de 1,9 MT para 3,8 MT e com implantação de novas usinas de beneficiamento em marcha, para os próximos anos.

Uma consideração a ser feita, por oportuno, é que o mercado interno brasileiro de biocombustíveis deverá crescer enormemente a partir dos próximos 2 anos, provocando ou uma forte redução nas exportações de milho e soja ou um forte aumento de área destes produtos, estimados em 3,0 milhões de hectares de soja e algo similar de milho porque, afinal, o Brasil precisa de divisas.

“A fatia da produção de etanol de milho na oferta total do biocombustível do País deverá chegar a 8% em 2020 e atingir até 20% e m 2028”, segundo Hélio Sirimarco, vice-presidente da SNA. Ver também artigo “Brasil tem potencial para triplicar produção de etanol de milho em três anos”, na Revista da SNA, de agosto. E o percentual de uso de óleo de soja deve aumentar para 15% em 2023, segundo a Abiove.

Fonte: T&F Agroeconômica

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