O picão-preto é uma das plantas daninhas mais conhecidas e disseminada nas áreas cultivadas do Brasil. Pertencente à família Asteraceae, essa planta daninha possui duas espécies de destaque que são as principais causadoras de danos em áreas agrícolas: Bidens subalternans e Bidens pilosa.

Figura 1. Principais diferenças entre as espécies.

De acordo com Lorenzi (2014), a B. subalternans é uma planta de altura variando entre 30-140 cm de altura, semelhante a B. pilosa, o que lhes difere, principalmente, é o número de aristas dos aquênios, apresentando 4 ao invés de 2-3, além disso, as flores periféricas apresentam lígulas bem maiores e a reprodução em ambas as espécies ocorre por meio das sementes.

Figura 2. Resumo das características morfológicas para a diferenciação de espécies de picão-preto (B. pilosa vc B. subalternans).

De acordo com informações do Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas – HRAC – BR (2022), uma única planta de picão-preto tem capacidade de gerar mais de 3000 aquênios, essa elevada habilidade reprodutiva, combinada com sua capacidade de completar seu ciclo em um curto espaço de tempo, contribui significativamente para sua rápida disseminação.

Adegas et al. (2023), afirmam que antes da introdução das culturas geneticamente modificadas para resistência ao herbicida glifosato, o picão-preto era uma das principais plantas invasoras das culturas de grãos no Brasil, especialmente na cultura da soja. Atribuído às características particulares da espécie, tais como o rápido crescimento vegetativo, alta prolificidade, com grande produção e dispersão de sementes, esses atributos lhes conferem grande habilidade competitiva em relação às culturas agrícolas, além de dificultar o seu controle. Os autores destacam que nesse período, os principais herbicidas utilizados para o controle do picão preto eram os inibidores da ALS, contudo, o uso constante desse mesmo grupo de herbicidas, acabou resultando na seleção de populações resistentes.

O primeiro caso de resistência de B. subalternans a herbicidas no Brasil, de acordo com HEAP (2023), foi registrado no ano de 1996 aos inibidores da Acetolactato Sintase (ALS) na cultura da soja, com resistência aos ingredientes ativos clorimuron-etil, imazetapir e nicossulfuron.

Em 2006, na cultura do milho, surgiu a resistência múltipla a dois locais de ação, aos Inibidores da Acetolactato Sintase (ALS) e aos Inibidores do Fotossistema II (PSII), com resistência aos ingredientes ativos atrazina, foramsulfuron e iodossulfuron-metil-Na. Já no ano de 2018, foi registrado no Paraguai, resistência em soja ao Glifosato (Inibidores da Enolpiruvil Shiquimato Fosfato Sintase – EPSP’s).

Figura 3. Casos de resistência das espécies de picão-preto.

De acordo com Adegas et al. (2023), nos últimos anos, produtores das regiões centro-oeste e oeste do Paraná têm expressado preocupação com a aparente ineficácia do glifosato no controle de plantas de picão-preto em suas lavouras de soja, mesmo com a utilização de doses recomendadas e o uso de tecnologia de aplicação adequada. Até a safra 2021/2022, não havia sido identificado nenhum biótipo de picão-preto resistente ao glifosato em áreas suspeitas de resistência, no entanto, na safra 2022/23 técnicos do município de Juranda no Paraná, observaram a sobrevivência de uma população de picão-preto mesmo após aplicações sequenciais de glifosato nas doses recomendadas e corretamente aplicadas.

Figura 4. Área infestada com picão-preto resistente ao glifosato.

Foto: Fernando Storniolo Adegas (2023).

Diante desse cenário, foram iniciados estudos para a comprovação da resistência sob condições controladas, foram coletadas plantas dos biótipos resistentes na área, resultando na identificação da espécie como Bidens subalternans. A partir daí, foram coletadas sementes produzidas na casa-de-vegetação e foi realizado o primeiro experimento analisando a dose-resposta ao herbicida glifosato, e um segundo experimento foi conduzido com as sementes das plantas sobreviventes do primeiro experimento.



Os resultados validaram a suspeita de que a sobrevivência das plantas estava vinculada à seleção de uma população resistente ao herbicida. No segundo experimento, o fator de resistência alcançou 9,07 para a dose de controle visual de 50% da população suspeita, em relação à suscetível (DL50), e de 30,39 para a redução da biomassa da população suspeita em relação à suscetível (GR50).

Figura 5. População de picão-preto (Bidens subalternans) suscetível (A) e resistente (B) ao glifosato, aos 28 dias após a aplicação do herbicida, nas doses em g e.a. ha-1.

Foto: Fernando Storniolo Adegas (2023).

Sendo assim, foi constatado o primeiro caso de picão-preto (Bidens subalternans) resistente ao herbicida glifosato no Brasil.

Mendes & Oliveira Junior (2020), destacam que é preciso seguir boas práticas de manejo para prevenir a resistência de plantas daninhas a herbicidas, tais práticas são:

  • Conhecer as plantas daninhas, os herbicidas e identificar os casos de resistência;
  • Fazer rotação de culturas;
  • Começar no limpo (com herbicidas ou coberturas);
  • Usar os benefícios dos herbicidas pré-emergentes;
  • Sempre que possível utilizar herbicidas com diferentes modos de ação (misturas ou rótulos);
  • Aplicar herbicidas dentro das especificações da bula;
  • Eliminar os escapes (antecipação dos problemas);
  • Utilizar o potencial de supressão das plantas cultivadas;
  • Plantar na época correta para melhor competitividade;
  • Realizar o manejo antes de plantar, evitar pousio sem cultura ou sem cultura de cobertura;
  • Revisão de maquinário com calibração adequada, incluindo filtros e pontas (pulverizadores);
  • Limpar os equipamentos antes da utilização ou mudar de área;
  • Use sementes certificadas;
  • Tecnologia de aplicação e formulação em benefício da performance;
  • Encontrar e usar as ferramentas para proteger o instrumento herbicida.

Confira o material completo sobre o novo caso de resistência de B. subalternans no Brasil, aqui!


Veja mais:Caruru (Amaranthus hybridus)



Referências:

ADEGAS, F. S. et al. NOVO CASO DE RESISTÊNCIA DE PLANTA DANINHA AO GLIFOSATO NO BRASIL: PICÃO-PRETO (Bidens subalternans). Comunicado técnico 107, Embrapa, Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1155922/1/Com-Tec-107.pdf >, acesso em: 24/08/2023.

HEAP, I. BANCO DE DADOS INTERNACIONAL DE ERVAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS. Disponível em: < http://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 24/08/2023.

HRAC – BR. Bidens subalternans E Bidens pilosa. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas – HRAC – BR, 2022. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/bidens-subalternans-e-bidens-pilosa >, acesso em: 24/08/2023.

LORENZI, H. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS: PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL. Instituto Plantarum, ed. 7, Nova Odessa – SP, 2014.

MENDES, R. R.; OLIVEIRA JUNIOR, R. S. PICÃO-PRETO: IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES E RESISTÊNCIA A HERBICIDAS. Informe técnico, Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas – HRAC – BR, 2020. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1DFG7yOXcvdHN0h0P78KqR3xvEIMhN12e/view >, acesso em: 24/08/2023.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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