Uma semente de boa qualidade deve apresentar bons atributos fisiológicos, físicos, genéticos e sanitários, garantindo assim o bom estabelecimento da cultura no campo e boas produtividades finais da lavoura. Dentre esses atributos, um dos mais analisados é a qualidade fisiológica das sementes, isso, por que para diferir de um grão, além de outras características, a semente de soja necessita ter ao menos 80% de germinação e 99% de pureza, conforme estabelecido pela Instrução Normativa MAPA 45/2013.

Além da germinação, uma das variáveis fisiológicas mais importantes da semente de soja é o vigor. Embora ainda não haja definição ou conceito formado para o vigor das sementes, sabe-se que o vigor está relacionado a capacidade das sementes em germinar e produzir uma plântula normal em uma ampla faixa de condições, não necessariamente sendo as condições ideais para a germinação.

Logo, assim como a germinação, o vigor das sementes apresenta importante influência sobre o estabelecimento inicial da cultura e uniformidade do estande de plantas. Além disso, diversos autores a exemplo de Scheeren et al. (2010) e Bigolin et al. (2022), demonstraram a influência do vigor das sementes sobre a produtividade final da cultura, obtendo maiores produtividades com sementes de alto vigor, em comparação a sementes de baixo vigor.

Tabela 1. Resultados do rendimento de grãos (RG), da massa de mil grãos (MMG) e densidade de legumes por planta (DL), das cultivares DM 5958 RSF IPRO e NS 6909 IPRO colhidas na safra 2018/2019, semeadas em novembro 2018 (época 1) e janeiro de 2019 (época 2), avaliando os diferentes níveis de vigor.

Médias seguidas da mesma letra maiúscula na coluna, em cada variável, não se diferenciam pelo teste de Tukey a 5% de significância. Fonte: Bigolin et al. (2022)

Vale lembrar que o vigor das sementes é sempre igual ou inferior a sua germinação, nunca sendo superior a ela. Ainda que igual ou inferior a germinação, quando maior o nível de vigor e consequentemente de germinação da semente, melhor sua qualidade fisiológica. Entretanto, produzir sementes de alta qualidade fisiológica é uma tarefa complexa, que depende não só do manejo, como também da influência de fatores bióticos e abióticos. A principal causa da redução do vigor das sementes de soja é deterioração das sementes.

A deterioração está relacionada a alterações de ordem bioquímica, citológica, fisiológica e física, que se iniciam após a maturidade fisiológica e que vão acarretando redução gradativa do potencial fisiológico das sementes, até culminar na sua morte, sendo influenciada principalmente pela composição química da semente, teor de umidade, interações entre fatores bióticos (microrganismos e pragas) e abióticos (condições ambientais) (Krzyzanowski; Dias; França-Neto, 2022).



Conforme destacado por Krzyzanowski; Dias; França-Neto (2022), a redução da qualidade de sementes é desencadeada por várias reações bioquímicas que danificam biomoléculas, dentre elas, a peroxidação de lipídios tem sido apontada como a principal causa da deterioração. Além disso, pode-se dizer que o acúmulo de “espécies reativas de oxigênio” (EROs) decorrentes do estresse oxidativo leva a uma série de alterações metabólicas, como desestruturação das membranas celulares, inativação de enzimas, degradação de proteínas e lipídios, perda de integridade das moléculas de DNA, comprometendo suas funções biológicas e culminando com a morte celular.

A nível de campo, um dos principais fatores que acelera a deterioração das sementes é a hidratação e desidratação das sementes prontas para a colheita. Esse fenômeno provoca a oscilação do teor de água na semente, resultando no aumento do volume de semente e posterior redução dele, causando rupturas no tegumento, que servem como porta de entrada para microrganismos patogênicos que podem acelerar a degradação das sementes.

Figura 1. Processo de alterações físicas, devido à oscilação do teor de água da semente de soja em função das condições de umidade ambiental, que resultam no aparecimento de rugas na semente de soja, características da deterioração por umidade.

Esquema: José de Barros França-Neto; arte: Danilo Estevão. Fonte: adaptado de França-Neto e Henning (1984), apud. França-Neto et al. (2016).

Além disso, nas condições ambientais, a oscilação do teor de água na semente acelera a deterioração por umidade, principalmente quando associada a elevadas temperaturas, tendo como reflexo a redução do vigor das sementes. Levando em consideração que como qualquer ser vivo, as sementes não conseguem ter suas funções vitais preservadas indefinidamente, uma vez que estão sujeitas à deterioração e, inevitavelmente, envelhecem e morrem (Krzyzanowski; Dias; França-Neto, 2022), estratégias visando mitigar os efeitos da deterioração necessitam ser adotadas, especialmente se tratando da produção de sementes e não de grãos.

Dentre as principais estratégias, destacam-se a colheita da soja em momento adequado, a correta regulagem da colhedora para evitar danos físicos nas sementes, o bom manejo fitossanitário da cultura e o armazenamento das sementes sob condições adequadas de temperatura e umidade.


Veja mais: Vigor de sementes vai além do bom estabelecimento da lavoura



Referências:

BIGOLIN, G. et al. INFLUÊNCIA DO VIGOR DE SEMENTES NO RENDIMENTO E QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE SOJA. Enciclopédia Biosfera, 2022. Disponível em: < https://www.conhecer.org.br/enciclop/2022b/influencia.pdf >, acesso em: 13/02/2023.

FRANÇA-NETO, J. B. et al. TECNOLOGIAS DA PRODUÇÃO DE SEMENTES DE SOJA DE ALTA QUALIDADE. Embrapa, Documentos, n. 380, 2016. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/151223/1/Documentos-380-OL1.pdf >, acesso em: 13/02/2023.

INSTRUÇÃO NORMATIVA MAPA 45/2013. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2013. Disponível em: < https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/sementes-e-mudas/publicacoes-sementes-e-mudas/copy_of_INN45de17desetembrode2013.pdf >, acesso em: 13/02/2023.

KRZYZANOWSKI, F. C.; DIAS, D. C. F. S.; FRANÇA-NETO, J. B. DETERIORAÇÃO E VIGOR DA SEMENTE. Embrapa, Circular Técnica, n. 191, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1151118/1/Circ-Tec-191.pdf >, acesso em: 13/02/2023.

SCHEEREN, B. R. et al. QUALIDADE FISIOLÓGICA E PRODUTIVIDADE DE SEMENTES DE SOJA. Revista Brasileira de Sementes, vol. 32, nº 3 p. 035-041, 2010. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbs/a/3T8MXrBj7RhsWQtznXdLktS/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 13/02/2023.

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