A descoberta dos fungos entomopatogênicos data de 1830, quando Agostino Bassi relatou a presença de microrganismos como agente causal de doenças em insetos. O processo de infecção inicia-se com o contato entre o inseto e as estruturas fúngicas, seguido por germinação, penetração e colonização interna (FERREIRA; MARTINS, 1997).
Dentre os principais fungos entomopatogênicos de interesse agrícola, destacam-se os filos Ascomyta, Entomophthoromycota e Microsporidia. No filo Ascomycota há a presença do gênero Hirustella, utilizado na década de 70 para controlar ácaros em pomares cítricos. Na família Cordycipitaceae destacam-se os gêneros Isaria, Lecanicillium e Beauveria. Outra família comercialmente relevante é Calvicipitaceae, com destaque para os gêneros Aschersonia e Metarhizium (FONTES; VALADARES-INGLIS, 2020).
Beauveria bassiana é um complexo de espécies de fungos utilizados no controle de cigarrinha-do-milho, mosca-branca, ácaro-rajado, broca-do-café, gorgulho-do-eucalipo, entre outros. Espécies do gênero Metarhizium são utilizadas para o controle da cigarrinha-da-raiz, cigarrinha-das-pastagens e cigarrinha-dos-capinzais.

Figura 1. Cigarrinha-do-milho infectada com Beauveria bassiana.
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No Brasil, há atualmente 61 produtos registrados à base do fungo Metarhizium anisopliae e 66 à base de Beauveria bassiana; dentre esses produtos, 12 possuem a combinação das duas espécies de fungos na sua formulação (AGROFIT, 2021).
Os produtos à base de fungos entomopatogênicos devem ser aplicados preferencialmente no período do final da tarde ou em dias nublados, para que o fungo tenha tempo de germinar e causar a penetração no inseto, desenvolvendo a doença. Horários do dia com maior intensidade luminosa podem diminuir a viabilidade dos conídeos, devido à ação da luz UV. O melhor desenvolvimento do fungo se dá em temperaturas de 24-28°C e alta umidade relativa do ar (acima de 60%).
Os principais fatores que influenciam na conservação dos produtos à base de fungos são temperatura, umidade e luminosidade. A “vida de prateleira” desses produtos é de 30 a 60 dias em temperatura ambiente, dependente da formulação do produto. Quando acondicionados em baixas temperaturas pode-se estender por até 12 meses, mantendo a eficácia do produto acima de 80%, independende da formulação (DA SILVA, 2006).
A concentração dos produtos se dá em conídios/ml ou conídeos/g, sendo estes os conídeos viáveis. O produto Boveril WP PL63 (Koppert), por exemplo, é um produto à base de Beauveria bassiana e apresenta concentração de 1×108 conídeos viáveis/g, ou seja, cerca de 100 milhões de conídeos em 1 grama de produto.
Apesar do efeito residual dos produtos à base de fungos não ser tão longo quando comparado aos inseticidas químicos, os fungos entomopatogênicos se destacam pela capacidade de contaminação de outros indivíduos através das estruturas de propagação (conídeos). Além disso, alguns fungos (como B. bassiana) são potencialmente endofíticos, colonizando os tecidos internos das plantas e proporcionando uma ação residual mais longa.
Elaboração: Lucas Boeni, Mestrando PPGAgro – UFSM
Revisão: Henrique Pozebon, Doutorando PPGAgro – UFSM e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
FONTES, EMG; VALADARES-INGLIS, M. C. Controle biológico de pragas da agricultura. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia-Livro técnico (INFOTECA-E), 2020.
FERREIRA, R. R; MARTINS, R. A. Primórdios da moderna teoria dos germes: Agostino Bassi e a doença dos bichos-da-seda. Epistéme: Filosofia e História das Ciências em Revista, Porto Alegra, v. 3, p. 55-71, 1997.
DA SILVA, R. Z. Formulação e armazenamento de conídeos de Beauveria bassiana (BALS.) VUILL. 2006.
Foto de capa: Dr. Glauber Sturmer