Os percevejos são considerados as principais pragas da soja no Brasil, devido à dificuldade de controle e por atacarem diretamente o produto final, ocasionando perda de massa dos grãos e aborto de legumes. Além dos danos quantitativos, também podem causar danos qualitativos, como redução da germinação e do vigor das sementes, redução do teor de óleo dos grãos, atraso na maturação da planta e retenção de folhas verdes (soja louca).

Dentre as diferentes espécies que ocorrem em soja, destacam-se Euschistus heros (percevejo-marrom), Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno), Nezara viridula (percevejo-verde), Dichelops (Diceraeus) furcatus e Dichelops (Diceraeus) melacanthus (percevejos-barriga-verde). Outras espécies, consideradas secundárias, também estão presentes na soja, como Edessa meditabunda (percevejo-edessa) e Chinavia sp. (percevejo-acrosterno).

A intensidade dos danos causados pelos percevejos varia de acordo com a espécie predominante e sua densidade populacional, além de fatores como a suscetibilidade dos genótipos de soja, época de semeadura e estágio de desenvolvimento das plantas (Figura 1). Em que pese essas variações, a perda média de produção gira em torno de 70 kg de soja para cada percevejo/m², ou 10.000 percevejos por hectare.

Figura 1. Perda de produção da soja em função da convivência com 1 percevejo/m².
Fonte: GUEDES, J. et al. (2022)

O período de desenvolvimento compreendido entre o início da frutificação da soja (R3) e o ponto de máxima acumulação de matéria seca nos grãos (R7) é o mais vulnerável ao ataque de percevejos, especialmente durante o enchimento de grãos (R5). Além disso, as cultivares de soja com hábito de crescimento indeterminado e grupo de maturidade precoce são mais sensíveis aos danos de percevejos, exigindo um controle mais rigoroso nesses casos.

A colonização pode iniciar ainda na fase vegetativa da soja, aumentando após a floração. A entrada dos primeiros adultos ocorre pelas bordas das lavouras mais precoces, a partir de plantas hospedeiras onde passaram a entressafra. Entretanto, alguns indivíduos podem já se encontrar na área de soja, abrigados em plantas daninhas ou mesmo na palhada sobre o solo. Essa população colonizadora tem o principal objetivo de se reproduzir e não costuma causar danos relevantes.

Com o desenvolvimento dos legumes, a soja se torna um alimento mais nutritivo para os percevejos, possibilitando um aumento populacional da praga. Ou seja, os principais danos são causados pelas gerações seguintes aos percevejos colonizadores, cujo ciclo de desenvolvimento se dá integralmente dentro da lavoura. Além disso, as ninfas grandes são responsáveis pela maior parte dos danos, haja vista que os adultos dedicam-se mais à reprodução do que à alimentação.

Figura 2. Períodos de risco para ocorrência de percevejos na cultura da soja.
Fonte: Adaptado de GUEDES, J. et al. (2012)

O controle dos percevejos da soja é feito principalmente com o uso de inseticidas químicos, com mais de duas centenas de ingredientes ativos registrados para o controle das principais espécies. A maioria desses produtos contém piretroides e neonicotinoides, isoladamente ou em misturas. Entretanto, como são feitas três a quatro aplicações por safra para este grupo de pragas, deve-se utilizar também outros grupos químicos, como acefato (organofosforado) e etiprole (fenilpirazol).

Também existem vários inseticidas biológicos registrados para o controle de Euschistus heros, que é considerada atualmente a espécie mais importante em soja, devido à sua ampla distribuição territorial, alto potencial de dano e dificuldade de controle. A maioria desses inseticidas são formulados a partir dos fungos entomopatogênicos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, isoladamente ou em misturas; ou do parasitoides de ovos Telenomus podisi.

Por fim, a rotação de culturas, o manejo de plantas de cobertura e de plantas daninhas, de modo a não permitir a oferta de hospedeiros alternativos, também reduzem a possibilidade de sobrevivência dos percevejos, especialmente quando integrados a outras estratégias de manejo. Cultivares de ciclo mais longo ou mesmo resistentes aos pentatomídeos também são uma opção, embora sua recomendação deva estar alinhada com o potencial de produtividade almejado pelo sojicultor.

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.



Referências:

GUEDES, J.C.; ARNEMANN, J.A.; BIGOLIN, M.; PERINI, C.R.; CAGLIARI, D.; STACKE, R.F. Percevejos: revisão necessária. Revista Cultivar, v. 14, p. 22-24, 2012.

GUEDES, J. C.; POZEBON, H.; ARNEMANN, J. A.; RUTHES, E.; PERINI, C. R. Pragas da Soja. Em: ROMERO, J. C. P. (Ed.) Manual de Entomologia Volume 1: Pragas das Culturas. 1ª Edição, 477 p. Editora Agronômica Ceres, Ouro Fino – MG, 2022.

PANIZZI, A. R.; BUENO, A. D. F.; SILVA, F. D. Insetos que atacam vagens e grãos. In: HOFFMANN-CAMPO, C. B.; CORREA-FERREIRA, B. S.; MOSCARDI, F. (Eds.). Soja: Manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga. Brasília: Embrapa, 2012. cap. 5, p. 335-420.

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