A podridão das vagens e quebramento da haste tem assolado diversas lavouras de soja nas últimas safras, especialmente no Estado do Mato Grosso. Infelizmente, o problema vem se alastrando pelo território nacional, tornando-se cada vez mais recorrente. Diversas instituições têm estudado o problema, visando elucidas as possíveis causas, analisando hipóteses que levam em consideração a relação entre fatores interligados.

O que se sabe?

 Até então, é consenso que algumas espécies de fungos como os do gênero Colletotrichum, Fusarium, Phomopsis/Diaporthe e Cercospora estão associadas ao problema, contudo, deduz-se que há mais por trás das possíveis causas da anomalia das vagens. Os danos variam em função da sensibilidade da cultivar e época de semeadura, podendo chegar a mais de 30% em alguns casos (Fundação MT, 2023). Atualmente já há fungicidas registrados para o combate ao problema, contudo, a dispersão da anomalia das vagens e quebramento da haste pelo território nacional tem preocupado agricultores brasileiros. Pensando nisso o Mais Soja traz uma entrevista com Bruno Zuntini, Líder do Portfólio de Fungicidas da Syngenta e Lucas Navarini, Doutor em Fitopatologia pela Universidade Federal de Santa Maria para aprofundar um pouco mais sobre a podridão de grãos e a sua chegada no Sul.

Mais Soja (MS): A Syngenta foi uma das precursoras nos estudos de anomalia, obtendo o primeiro registro de produto comercial para seu manejo. Hoje, após alguns ciclos, quais aprendizados a empresa traz aos seus clientes sobre o manejo desta doença desafiadora?
Bruno Zuntini, Líder do Portfólio de Fungicidas da Syngenta Foto: Assessoria Syngenta

Bruno Zuntini (BZ): A Syngenta, como referência em pesquisa e desenvolvimento em soluções para os principais problemas no campo, firmou o compromisso com os produtores de estudar e apontar todas as possíveis causas da anomalia da soja e compartilhar as soluções, disponibilizando as respostas para os produtores e desenvolvendo táticas de manejo que sejam efetivas na redução das perdas expressivas registradas na produtividade da cultura nos últimos anos.

Durante o estudo que realizamos em parceria com as principais instituições de pesquisas do Brasil, analisados dados de laboratórios coletados nos campos de diferentes regiões, durantes as últimas três safras. Os problemas foram detectados, analisados e confrontados com os obtidos pelo restante da comunidade científica, possibilitando algumas conclusões. A principal delas é que tanto a podridão de grãos e sementes como o quebramento de hastes, à chamada anomalia da soja, são causados por um complexo de fungos, cuja ocorrência que tem predominado é a dos gêneros Colletotrichum spp. e Diaporthe spp. Dessa maneira, conseguimos traçar boas práticas de manejo e uma recomendação para reduzir e controlar ambas as doenças.

MS: Qual área atualmente estima-se com ocorrência da anomalia e quais as melhores práticas de manejo?

BZ: Como não finalizamos as análises laboratoriais das amostragens coletadas na região Sul, ainda não conseguimos quantificar uma estimativa de área afetada pela anomalia.

Quanto as melhores práticas de manejo, após um trabalho minucioso de investigação que incluíram áreas do Cerrado e Sul, o estudo da Syngenta apontou que o manejo efetivo, incluindo principalmente fungicidas para controle de Diaporthe e Antracnose, diminui a severidade dos problemas encontrados na soja. Também foi constatado que a associação com fungicidas à base de Carboxamidas, especialmente contendo o ingrediente ativo Solatenol, é indispensável para o sucesso no controle da podridão de grãos e sementes. O posicionamento técnico da Syngenta e a base científica das suas recomendações foi tão relevante que a empresa conseguiu, junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), o registro dos seus produtos à base de Solatenol para os alvos biológicos causadores da problemática nas lavouras de soja. Com isso, a Syngenta foi a primeira do setor apta a seguir com recomendações direcionadas ao manejo de anomalias na soja suportada por bula, tendo o mais completo e eficaz portfólio contra os patógenos causadores do problema.

Sintomas observados em lavouras
MS: Quais fungicidas a empresa recomenda atualmente e em quais momentos do ciclo da cultura, para obter a máxima performance e proteção do cultivo?

BZ: Entre a linha de produtos efetivos que compõem a recomendação por bula aprovada pelo MAPA para o combate à anomalia da soja estão ALADE®, fungicida translaminar que combina solatenol, ciproconazol e difenoconazol; MITRION®, fungicida inovador formulado a partir de solatenol e protioconazol, oferecendo controle preventivo e curativo; e ELATUS®, fungicida sistêmico e de contato com uma formulação que permite fácil dissolução e rápida penetração, criando uma barreira impermeabilizante contra fungos.

Além do controle químico é importante enfatizar a importância de outras práticas de manejo, como a associação de multissítios em todas as aplicações e o monitoramento constante da lavoura e das condições climáticas.

MS: Nas últimas safras a problemática da anomalia vem se agravando, começando pelos estados do centro-oeste e agora verifica-se, também, em lavouras do sul do Brasil. Passadas algumas safras, o que já sabemos sobre os agentes causais desta doença de alto impacto na produtividade e qualidade dos grãos produzidos? Já temos a confirmação destes agentes, visto que este foi um tema de amplo debate nas safras passadas?

Lucas Navarini (LN): Essa ainda é uma temática de grandes divergências no meio

Foto: Assessoria Syngenta

acadêmico, contudo existem vários trabalhos comprovando, via biologia molecular e postulados de Kock, que os agentes causais dessa problemática correspondem a um complexo de espécies de fungos saprófitas do género Diaporthe.

MS: São os mesmos agentes causais e sintomas identificados na região norte e na região sul do Brasil?

LN: Não, há uma divergência e vasta variabilidade do patógeno nas diferentes regiões, contudo as duas principais espécies ocorrem em várias regiões em diferentes proporções.

MS: Como o clima interfere na sua ocorrência, quais são as condições ideias para a ocorrência?

LN: A epidemiologia é mais influenciada por estresses que ocorrem com o hospedeiro, do que relações climáticas como volume alto de chuva. Períodos de estresse, como seca, veranico, altas temperaturas, fatores abióticos, excesso de chuvas, falta de luminosidade, encharcamento de solo, fatores que contribuem com a falta de concordância quando a ser uma doença de fato e não esses outros fatores, intrinsecamente relacionados como predisponentes a ocorrência de Diaporthe em soja.

MS: Outro fator muito comentado, são as distintas reações de cultivares. Sobre este ponto, considerando ser esta uma decisão pré safra, quais dicas pode dar aos agricultores para que possam escolher a cultivar aliando produtividade, mas também considerando esta problemática?

LN: Nessa questão me considero ainda no “escuro”. Não conseguimos observar uma relação entre genética e patógeno, onde o patógeno tem mostrado ocorrência em diferentes cultivares e em diferentes situações. A aleatoriedade da incidência e da agressividade dos sintomas mostram a etiologia complexa da doença, onde há uma fase fenológica critica para infecção e também importante para o manejo.

MS: Quais são e quando os sintomas são observados nas plantas?

LN: É mais comum observar os sintomas a partir do enchimento de grãos, na haste principalmente na região do epicótilo, ficando mais estreita (constrição) e o surgimento ou não de estrias nessa região, plantas que quebram acima do nó cotiledonar com facilidade e antes do R6, eu diria do R5.5 para R6 apresentando apodrecimento dos grãos.

Sintomas observados em lavouras
MS: Quais as dicas para monitoramento e manejo da anomalia pensando em um programa de controle desta e das demais doenças com ocorrência recorrente em soja?

LN: Até o momento a melhor estratégia que se desenvolveu foi a aplicação de fungicidas a base de Solatenol no epicótilo, evitando a entrada do patógeno, com aplicações realizadas entre 20 e 25 dias após a emergência das plantas de soja.

MS: Quais outros fatores podem interferir na ocorrência e quais dicas finais o pesquisador deixa aos produtores, especialmente de regiões com ocorrência recente, que talvez não estejam ainda familiarizados com sua ocorrência?

LN: Temos que aprender e acompanhar o desenvolvimento da doença, um exemplo no Rio Grande do Sul onde temos forte ocorrência de estrias na haste e plantas quebradas, nesta safra. A safra ainda está no campo, temos algumas observações de apodrecimento de grãos já relatadas, e estamos acompanhando outras lavouras para mensurar a evolução geográfica da distribuição e com qual agressividade ela está se apresentado não só no Rio Grande do Sul, mas também nos demais estados no Sul (PR e SC) e em outros estados onde já foram registrados a incidência da doença como Bahia, Tocantins e Piauí.



O agricultor deve considerar que a anomalia da soja não é uma doença que irá se espalhar vindo do Mato Grosso ou pior, que a transmissão será por sementes. As espécies de Diaporthe são fungos extremamente comuns e abundantes em sistemas de cultivo de soja, causam doenças em soja em todas as regiões produtoras a mais de 40 anos. O que temos hoje é uma espécie diferente desses patógenos, altamente virulenta e proporcionando dano econômico, o que no passado não ocorria. Ela já está aí, só começou a se manifestar de maneira abrangente ao ponto de afetar a cultura de forma regional, isso veio aumentando de forma ardilosa ao longo dos anos, e a complexidade de diagnostico e fatores da história da soja envolvendo o Cancro da Haste, levaram por anos (os últimos 10 anos), a sempre explicar a ocorrência dessa doença, com outras relações, como ainda estamos enfrentando essas fortes discussões, com muitos pesquisadores alegando e “tentando” comprovar que não é uma doença. À medida que discutimos ela ganha amplitude geográfica e vem comprometendo a sojicultura brasileira.

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